* Por Carlos Lima Costa
Um das maiores atrizes brasileiras, Renata Sorrah, aos 75 anos e mais de 50 de carreira, retorna à TV, em Filhas de Eva. A estreia acontece na próxima terça-feira, dia 12, na Globo, logo após a exibição de Pantanal. A estrela é a personagem central da história. Através de Stella, interpretada por ela, a série retrata situação típica do machismo que já afetou inúmeras mulheres que se dedicaram somente ao casamento e a família na sociedade brasileira. Ao rever passagens de sua trajetória em um telão, durante sua festa de Bodas de Ouro, Stella se questiona como a jovem que ela era cheia de sonhos e coragem se transformou na mulher que é aos 70 anos. Diante dos convidados, surpreende e pede divórcio ao marido, Ademar (Cacá Amaral). Na tentativa de obrigá-la a desistir dessa ideia, lhe deixa sem dinheiro e ela não tem alternativa a não ser ir viver na antiga casa de sua família, um imóvel caindo aos pedaços. “Quando Stella fala que quer o divórcio, ela não faz nenhum planejamento em relação à divisão dos bens, que geralmente fazem com um patrimônio de cinco décadas de relação. Ela não está pensando nisso, ela só quer sair, respirar”, enfatiza a estrela.
A série foi originalmente gravada para o serviço de streaming Globoplay, onde foi exibida em março do ano passado. Agora, além de vibrar com as nuances da interpretação de Renata às terças e quintas, na telinha, o público carioca pode aplaudi-la de perto. Desde o último dia 24, ela está em cartaz no Teatro Poeira, com o espetáculo O Espectador, baseado na obra O Espectador Condenado à Morte, do dramaturgo romeno Matéi Visniec, com direção de Marcio Abreu e Enrique Diaz. “Ao meu lado estão as incríveis atrizes Andrea Beltrão, Marieta Severo e Ana Baird”, vibra. Em abril, ela estreou nos cinemas com o filme Medida Provisória, que marcou a estreia de Lázaro Ramos como cineasta, e onde Renata mais uma vez contracenou com Adriana Esteves. Na novela Pedra Sobre Pedra, elas interpretaram mãe e filha. E em Senhora do Destino, deram vida a vilã Nazaré Tedesco nas fases jovem e madura.
Durante um bom tempo, Renata relutou estar presente nas redes sociais, até que entrou para o Instagram. “Não fico colocando só foto minha, acho que o Instagram é um lugar de expressão e é importante se posicionar. Não entendo estar ali e não denunciar algumas das coisas graves que vivemos hoje”, já declarou em entrevista à revista Claudia.
Ela, por exemplo, firmou posição, no Dia internacional contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia. “É essencial lembrarmos da importância da bandeira arco-íris reafirmando o nosso compromisso com a igualdade e respeito, contra o preconceito e a exclusão social. Vamos continuar apoiando todas as pessoas que lutam para desenvolver políticas públicas de combate à discriminação. Por um país mais inclusivo, mais livre, mais igual”, postou. Ela também defendeu a Serra do Curral, em Belo Horizonte. “É o maior patrimônio paisagístico e ambiental de BH. O seu ecossistema concentra quase 40 espécies de animais e plantas ameaçadas de extinção, abriga nascentes, plantas medicinais, espécies vegetais e animais das mais belas e diversas…Um megaprojeto de mineração – o Mineração Taquaril – está a ameaçando. Serão mais de 30 milhões de toneladas de minério de ferro extraídas por meio de explosões. O empreendimento vai aumentar os níveis de erosão e deslizamento de terra em uma região com alta inclinação, trazendo riscos para a população e os parques municipais do entorno…”.
Ela sempre abre espaço também para homenagear amigos queridos em sua partida, como aconteceu com o autor de novelas Gilberto Braga (1945-2021), que escreveu um dos personagens de maior sucesso da carreira de Renata. “A Heleninha de Vale Tudo foi o presente mais lindo que eu recebi. Obrigada Gilberto Braga”, escreveu.
E vez ou outra se desmancha ao falar da filha, a pediatra Mariana Sochaczewski, do casamento com Marcos Paulo (1951-2012). “Teve uma hora que ela soltou a minha mão e com muita calma e olhos bem abertos seguiu seu caminho. Hoje é ela que me dá a mão com firmeza e sabedoria. Tenho tanto orgulho dessa menininha que cresceu e escolheu ser médica, cuidar das crianças especialmente das que mais precisam. Que o seu caminho, minha filha, seja sempre de luz e alegrias. Meu amor por você é imenso. Ah…E obrigado pelo Miguel e Betina (netos de Renata), meus faróis nestes tempos difíceis”, postou no último aniversário da herdeira. Durante o isolamento social decorrente da pandemia da covid-19, os quatro passaram oito meses juntos na casa da atriz na Serra Fluminense. “Sempre me contaminei com a juventude no trabalho, acho isso importante. Recentemente, não vivi isso no ambiente profissional, mas com meus netos quando ficamos isolados juntos. Eles têm uma inocência tão bonita, comovente. Você não precisa ensinar, mas aprender”, frisou ainda à revista Claudia.
Em Filhas de Eva, a personagem de Renata também tem ótima relação com a neta. Dora (Débora Ozório), adolescente feminista, ativista, tem orgulho da avó e vai se inspirar nela para resolver os próprios problemas. Por outro lado, Lívia (Giovanna Antonelli), filha de Stella, é o oposto da mãe, que ao romper o casamento de cinco décadas, arcou com as consequências. “A filha é uma psicóloga, mas tem uma relação tóxica e neurótica com o marido. Acho que rejeita a mãe diante de todas as decisões firmes e concretas que a Stella toma. Mas ao longo da história, vai influenciar no casamento da própria Lívia, que também está em crise”, conta Renata.
Na verdade, o episódio da separação de Stella é o que vai deflagrar todas as outras tramas. “Ela vai em busca da sua liberdade, dos seus desejos, descobre que um casamento feito o dela, como instituição, não é mais uma opção, como era anos atrás. A gente até fica achando que não é mais uma opção hoje em dia, mas na verdade, ainda é para muitas mulheres”, lamenta.
A transformação na vida de Stella traz uma atualidade para a série. “Nós, mulheres, ainda estamos em plena luta para abrir caminhos. Quando Stella, sem planejar, decide se separar, acabando com um casamento de 50 anos, essa libertação vai reverberar em outras mulheres da série, sua filha neta, e eu espero que também nas espectadoras. Vai ser um caminho muito bonito o dela, que vai lutar para se tornar uma mulher atenta, que escuta as vozes livres que ecoam. Ela quer ter voz, individualidade para pensar, para se aceitar e para repensar. Essa trajetória da Stella é o fio dorsal da série”, ressalta.
E aposta no sucesso da produção. “É uma série muito bem-feita, exemplar no seu processo de construção, com direção, atores, autores, toda a equipe técnica, de criação. A gente trabalhou com tanto prazer e com tanta vontade de fazer, acreditando tanto, que eu tenho certeza de que isso fura a tela da televisão. É importante quando você acredita no trabalho que está fazendo. Foi um encontro delicioso com a Giovanna e a Vanessa (Giácomo). A gente já tinha trabalhado juntas, mas não tão próximas. E ficamos bem amigas”, explica. A série conta ainda como nomes como Dan Stulbach, Marcos Veras, Analu Prestes, Erom Cordeiro, Jean Pierre Noher e Stênio Garcia.
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