Renata Sorrah e José Loreto, mãe e filho em ‘Vai na Fé’, destacam abordagem de temas como etarismo e intolerância

A nova trama das 19h da Globo, ‘Vai na Fé‘, fala de superação, de acreditar e reúne no centro da trama dois personagens como mãe e filho que simbolizam o conflito de gerações e o movimento de reinvenção que a vida pede da gente. No folhetim que estreia no próximo dia 16, José Loreto e Renata Sorrah, dão vida a Lui Lorenzo e Wilma. Ela já foi uma atriz famosa e caiu no esquecimento, ressignificando sua trajetória ao se tornar empresária do filho. Ele é um cantor pop decadente que tenta dar a volta por cima. “Neste trabalho temos uma diversidade grande de atores e isso é ouro. Vi que era uma trama bem escrita e quis fazer. E tem a forma como os assuntos são tratados e os personagens são elaborados. A novela toca em temas como intolerância religiosa, racismo, relações tóxicas, mas com afeto, humor. E é a primeira vez, em tantos anos fazendo novelas, que vi uma preparação tão dadivosa e para todos os atores. Isso fez diferença, uniu, o elenco ficou  amigo”, diz Renata. “No princípio fiquei com receio, porque ao falar desses temas poderia ficar algo estereotipado, mas não. Tudo tem sido tratado de forma cuidadosa, amorosa”, completa Loreto.

O ator fala também fala do seu personagem, bem diferente do peão Tadeus de ‘Pantanal‘. “A fé do Lui é ele. Tem um ego e uma autoestima. Vejo muita diversão nisso. Pego coisas minhas e dilato ao contrário. Tenho autoestima, chego dizendo que estou lindo no estúdio, mas ele tem isso amplificado, seduz a porta. É um exagerado crível, com fé cênica. Nosso núcleo tem até o ‘Biscoito Awards’ para ver que tem mais likes, engajamento nas redes”, diverte-se. E rola ciúme da namorada Rafa Kaliman por conta do exercício de todo esse sex appeal? “Não, de jeito nenhum. Isso não faz parte do meu trabalho. Somos um livro em branco para compor o que for. Se eu fizer um vilão ela não vai ficar com medo de mim. Na verdade, ela tem participado ativamente da minha preparação, pegou do início, vê minha dedicação. A autoestima do Lui aguça a minha, mas é perigoso, é bom ter o olhar de fora, é muito ego”, diz o ator, sobre o personagem da trama Rosane Svartman, que deve contar com uma breve participação de Rafa.

Jose Loreto e Renata Sorrah são filho e mãe em ‘Vai na Fé’ (Divulgação/ Globo)

Loreto  aproveita para esclarecer, que seu Lui não é inspirado na trajetória do canto Latino, como já noticiado. “Quando falo da decadência do personagem, ela é só dele, não me inspirei em ninguém. O Latino foi uma das inspirações como referência musical. Ele tem “Renata Ingrata’, o Lui tem ‘Joana Safadinha’, por exemplo. Vim com esse corpo do Magal, da preparação que realizei por dois anos para o filme que acabei não fazendo, porque entrei em ‘Pantanal‘. Além de também ter me inspirado no Luan Santana, no Ricky Martin. E tem muito de mim, que, aos 15 anos, compus ‘Muleque Piranha‘, quando terminei um relacionamento. Então o Lui é uma ‘colcha de retalhos’ de muitas referências. Ele queria mesmo era cantar que nem o Lulu Santos“. E acrescenta: “E já encheu estádios no passado, as fãs faziam fila. Ele se tornou o astro popular que a mãe gostaria de ter sido. Mas como a vida não é linear, não é só ascendente, viveu uma montanha russa, não se atualizou, ficou com as músicas de 20 anos atrás. É decadente porque decaiu na carreira. Já lotou e não lota mais. Estou dando a vida nas cenas de shows, para ver se os autores fazem ele se dar bem de novo. Vai acabar a novela e vou entrar em turnê. As músicas do Lui são ótimas, do tipo ‘chiclete’ mesmo, vão pegar”.

Jose Loreto fala sobre inspirações para o sexy personagem da nova das 19h

No ar em ‘Pantanal‘ até outubro do ano passado, o ator diz por que topou o projeto na sequência. “Achei que tinha tudo a ver. Antes da pandemia me preparei muito para fazer o longa do Magal, virei até o produtor do filme, porque fui fazer a novela. Mas sabia que usaria tudo o que aprendi em algum lugar. Minha maior preparação foi o filme que não fiz. Cai dentro e fiz mais aulas de canto, dança. Emendei uma novela na outra. Infelizmente, não gostaria de dizer isso para que autores e diretores escutem, mas a pressão me faz bem (risos)”, diz, e completa: “A música sempre esteve presente na minha vida, toco violão. Tenho música pra tudo, escolhi a do nascimento da minha filha. Escrevo. Fiz letras que definem minha vida. Então, os desafios da novela na parte musical foram um dos maiores combustíveis, está sendo um tesão. Estou zerado. Nem parece que estou há 15 meses gravando. Espero fazer mesmo turnês de Lui Lorenzo pelo Brasil, vai ser um sucesso”.

Jose Loreto em cena como Lui na nova das 19h, ‘Vai na Fé’ (Reprodução)

Etarismo

Renata Sorrah fala da personagem que foi uma grande atriz do teatro, cinema e TV, mas deixou de ser procurada para trabalhos com o passar dos anos. “No início, achava que ela era parecida comigo, porque foi atriz premiada, mas não sou essa mulher amarga. Acho que a Wilma queria ser estrela mesmo, é carreirista. Contava número de falas, competia com as colegas. Mas vem o etarismo e ela não consegue continuar. O que a salvou foi seu filho. “Wilma cuida da carreira dele, apesar de ser dura e achá-lo um pouco cafona. E é essa mulher sem filtro, sem limites. Fala barbaridades, mas não é uma vilã característica da dramaturgia, ela é sem noção mesmo. Estou amando fazer essa mulher que culpa o resto do mundo por tudo e qualquer coisa que acontece”, afirma.

Renata Sorrah brilha como atriz famosa que caiu no esquecimento em ‘Vai na fé’ (Reprodução/ Globo)

No passado Wilma sofreu etarismo. Queria fazer a Jade em ‘O Clone’, mas Giovanna Antonelli pegou o papel (risos). E embora tenha sofrido preconceito, faz o mesmo com a Sol, que a Sheron Menezzes interpreta. Diz que ela está velha aos 40, imagina. Os 40 são o máximo, o prime. minha personagem não aprendeu nada – Renata Sorrah

De olhos bem abertos

A trama pretende trazer personagens bem humanizados com suas questões e contradições pessoais. Sabendo que o folhetim como fenômeno amplificado pelas redes sociais, mostra a repercussão que o gênero pode causar no país, a autora Rosane Svartman pretende divertir e também jogar luz em temas contemporâneos relevantes. “Um autor tem que procurar o que está latente na sociedade. Nesta novela temos uma família central preta, com uma filha que vai para universidade pela primeira vez. E neste universo da faculdade, através dos personagens, falaremos de questões importantes até hoje, como as cotas, meritocracia, privilégios. Também vamos abordar a questão da justiça e a mudança da nossa percepção dela através dos anos, como por exemplo, quando falamos sobre assédio. Aproveitaremos as diferentes gerações desta novela para isso. E temos personagens que acertam e erram, muitas vezes, mesmo tentando fazer o melhor. São humanos, imperfeitos, como nós. A novela fala da esperança, da fé e de seguir em frente, sempre”.