*Por Jeff Lessa
Aos 45 anos, Bruno Padilha vive um momento de brilho em sua carreira. Integrou o elenco da série “Aruanas”, da Globoplay, interpretando Sheik, diretor do programa de TV apresentado por Natalie (Débora Falabella). E está gravando “Arcanjo Renegado”, também para a Globoplay, em que viverá um político corrupto inspirado em personagens reais que ocuparam altíssimos cargos no estado e no município do Rio de Janeiro nos últimos anos.
Vamos por partes. Para começar, “Aruanas”. “A Débora Falabella vive uma jornalista enquanto Sheik é um executivo com uma certa pauta a cumprir. Mas ela chama convidados de última hora, debate assuntos polêmicos e é insubordinada. Trata-se de uma briga pelo poder, ele não pode deixar que ela use o espaço na TV para fazer ativismo ecológico. Mas eles têm um carinho imenso um pelo outro, precisam um do outro”, conta o ator. “Até porque a cada vez que ela fala de ecologia a audiência desaba três pontos”.
Bruno brinca com a questão da audiência do programa dentro da série, que foi gravada na região amazônica e escrita por Estela Renner e Marcos Nisti, com roteiros de Pedro de Barros, sob a direção artística de Carlos Manga Junior. Mas, na vida real, tenta fazer a sua parte direitinho. “É necessário que esse assunto tenha mais audiência para que se forme um pensamento global. Eu estou me policiando. Hoje cuido do meu lixo e tenho boa consciência alimentar. Já tenho essas ideias há algum tempo. No entanto, acho que veganos e carnívoros precisam chegar a um meio-termo. Nada em exagero pode ser bom”, ressalta, acrescentado que não é nem um pouco radical nessas questões, mas que sempre tenta fazer o melhor possível.
O ator não chegou a viajar para a Amazônia, onde se passa boa parte da ação. Tudo começa quando as fundadoras da ONG de preservação ambiental Aruana, Natalie (Debora Falabella), Luísa (Leandra Leal) e Verônica (Taís Araujo), além de sua estagiária, interpretada por Thainá Duarte, recebem uma denúncia sobre conflitos pela ocupação de reservas indígenas. No Amazonas, elas descobrem um esquema de crimes ambientais cometidos pela mineradora de Olga (Camila Pitanga), que vai lutar para que as militantes não destruam um esquema ilegal que acaba envenenando rios e terras da região.
“Não fui para o interior do Amazonas, mas boa parte do elenco ficou lá por dois meses e voltou com informações assustadoras. Disseram que, rodando pela estrada, se vêem clareiras de quilômetro a quilômetro. Somos atores e acabamos nos envolvendo e nos jogando nas causas”, admite Bruno Padilha. Para se ter uma ideia da grandiosidade do projeto, os dez primeiros episódios de “Aruanas” foram lançados ao mesmo tempo em mais de 150 países em 11 idiomas. As responsáveis pela distribuição internacional foram a Globo e a produtora paulistana Maria Farinha Filmes, uma das muitas parcerias que produziram a série.
Enquanto espera para saber se “Aruanas” terá uma segunda temporada, Padilha se lança em outro projeto da Globoplay, a série “Arcanjo Renegado”, que tem estreia prevista para o ano que vem. O programa trata de temas já explorados pelo cinema brasileiro, como tráfico de drogas, ações policiais em favelas, corrupção e violência urbana. “Fui convidado pela Globoplay e pelo Afroreggae Audiovisual. O José Junior é o idealizador do projeto. Já havia um ator aprovado para o papel do político corrupto que se torna governador do Rio, mas fiz o teste e fui aprovado pelo José Junior e pelo Heitor Dhalia (o diretor de filmes como “O Cheiro do Ralo” faz sua estreia em séries para a TV)”, conta Padilha. “Saí do teste direto para a caracterização e para o figurino. Fiquei muito impressionado”.
Como não poderia deixar de ser, o personagem é inspirado em políticos reais. Nada é mera coincidência. “Busquei inspiração em gente que nós conhecemos muito bem. Assisti a muitos vídeos de políticos cariocas, entrevistas, discursos. Passei dois dias com o presidente da Assembléia Legislativa, observando os deputados, foi um ótimo laboratório. Cheguei sem fazer juízo de valor, sem ideia pré-concebida, pois meu objetivo era só observar. Saí me perguntando até que ponto aqueles políticos estão trabalhando em prol dos interesses da população ou pensando em si próprios”, revela. “É um jogo de interesses e de poder. O interesse nem sempre é pessoal, também pode ser político. Eu chamo de ‘diplomacia de interesses’. Tentei pegar deles o modo sutil de operar entre ser querido e, ao mesmo tempo, conseguir fazer coisas horríveis. Ninguém é uma coisa só”.
A série foi rodada em locações reais para garantir a veracidade das cenas. Além da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), há cenas gravadas nas favelas Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro e Roquette Pinto, no Complexo da Maré. Tem mais: a produção conta com a participação de 14 integrantes do Bope e 40 ex-presidiários, que revivem situações parecidas com as que passaram em suas vidas.
Mas afinal, quem é o arcanjo nessa história: “É o Marcello Melo Junior, que vive o sargento do Bope Mikhael Afonso. Ele é do bem e eu sou o antagonista, o governador Custódio Marques, que bate de frente com ele com meus movimentos sujos”, conta. “A relação dos políticos com o poder merece um estudo sociológico. É muito megalomaníaca”.
Diferentemente do que o desejo popular imagina para nossos políticos mais gananciosos, Bruno Padilha consegue dormir muito bem, obrigado. “Consigo mergulhar 12 horas nesse trabalho, voltar para casa na boa e me deitar na cama tranquilo e relaxado”, diverte-se. “Só por cumprir essa função sinto um grande alívio. Eu me sinto útil por estar fazendo algo para as pessoas se enxergarem melhor”.
Com 29 anos de carreira em televisão, teatro e cinema, Bruno Padilha já atuou em novelas na Globo e na Record (“Os Dez Mandamentos”, entre outras). Ainda na Globo, participou recentemente da série “Sob Pressão”, interpretando o doutor Álvaro. No cinema fez parte do elenco de filmes como “Meu Nome não é Johnny” e ” A Partilha“. No teatro, atuou em mais de 30 espetáculos.
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