*por Vítor Antunes
De volta às novelas, em “Vai na Fé“, próxima produção para a faixa das 19h da Globo, Regiane Alves viverá mais uma Clara em sua carreira. Na trama de Rosane Svartman, a atriz interpretará a esposa de Téo, personagem de Emílio Dantas, com quem terá um relacionamento difícil, tóxico. Além desta, a atriz estará de volta em “Mulheres Apaixonadas“, folhetim de Manoel Carlos exibido em 2003 e que será reexibida na sessão Vale a Pena Ver de Novo. Regiane também retorna aos palcos com a peça “O que a vida tem para oferecer hoje?”, na qual investe na sua verve autoral e colabora no roteiro. Assunto presente tanto na próxima novela inédita como na peça que estreia no próximo fim de semana no interior de São Paulo – na cidade de Marília -, a questão feminina é de fundamental importância para a artista, que acredita ser importante comunicar-se também com as mulheres da sua faixa etária, “que casaram, separaram e que têm direito a serem livres”. Em tempo: a atriz destaca também algo muito curioso: “Estarei sendo odiada à tarde, por Dóris, e sofrendo às 19h”, considera, haja vista que estará no ar, simultaneamente, com as duas tramas.
O MONÓLOGO E O RETORNO “PELA FÉ”
Segundo aponta-nos a atriz, esta é a primeira vez em que estará fazendo um monólogo. Diz ser este um momento oportuno para “depois de 25 anos de carreira vivenciar algo diferente”. A montagem também marca uma volta da atriz aos palcos, donde saíra em 2016, quando fizera “Para Tão Longo Amor”, de Maria Adelaide Amaral. Durante a pandemia, Regiane Alves escreveu com o roteirista Fernando Duarte o script da peça “O que a vida tem para oferecer hoje?”, que agora ganha os palcos.
A temática da encenação teatral vai ao encontro daquela que será debatida em “Vai na Fé”, cuja estreia está prevista para o início de 2023, quando “Cara e Coragem” encerrar sua exibição. Regiane Alves apresenta sua personagem, Clara, como sendo “uma mulher casada há 20 anos, que tem um filho adolescente, que vive os momentos difíceis inerentes à idade. Razão pela qual vive trancada no quarto. Além disto tem uma relação problemática com o pai, Téo (Emílio Dantas). Já quanto à minha personagem, ela vive com o esposo uma relação abusiva, como se, devido ao casamento, ela deixasse de ter brilhado e colocado suas escolhas em segundo plano por razão de seu cônjuge e seu filho. Trata-se de uma mulher que tem um potencial, mas que se mantém em um lugar estático, e não consegue sair de onde está por ter uma relação submissa ao marido. Parece ser uma daquelas mulheres que não tem voz ativa e os maridos respondem por elas”, apresenta ela, afastada dos folhetins desde 2018, quando fizera “O Tempo não Para”.
Além de seu papel, Regiane traz um pouco do que esperar sobre Téo: “Ele é um cara meio duvidoso, que trabalha em uma área da qual ela não conhece tanto. Além disso, ele cobra dela uma questão de aparência. Há uma relação estranha, abusiva, entre eles”. Ainda sobre a trama das 19h, Regiane diz-se animada com ela: “A novela á muito legal, tem poucos personagens”, e revelou que, além da anteriormente citada família de negros, a trama contará com um cenário importante na mansão da personagem de Renata Sorrah, além de ter José Loreto vivendo um cantor sertanejo. Outro nome no elenco é o de Elisa Lucinda, com quem trabalhara em “Mulheres Apaixonadas”.
Ai que delícia ser a mulher do vilão” – Regiane Alves, sobre não ser a personagem má de “Vai na Fé”
MULHERES APAIXONADAS
A atriz estará de volta em “Mulheres Apaixonadas” na sessão “Vale a Pena Ver de Novo”. Ela contracena com Fabiana Karla. Na trama de 2003, “Fabi” era Célia, empregada de Lorena (Susana Vieira). Agora, vinte anos depois, Fabiana Karla é a personagem principal do longa-metragem “Uma Pitada de Sorte”, no qual Regiane Alves é sua antagonista. “O filme é muito gostoso e está indo bem. Fabiana está brilhante”. Conta-nos ela que o longa fora gravado em 2017 e depois de ser discutida a melhor forma de sua veiculação – se no streaming, ou nos cinemas, finalmente o projeto ganhou as telonas.
Em “Mulheres Apaixonadas“, Regiane é Dóris, personagem agressiva com os avós. O posicionamento embrutecido da personagem com os idosos com os quais morava ajudou a pensar sobre o Estatuto do Idoso, que foi promulgado ainda durante a exibição da trama, em 2003. “Oswaldo Louzada (1912-2008) e Carmen Silva (1916-2008) eram uns fofos. Eles queriam fazer todas as cenas e era uma delícia ver os dois em papeis tão grandiosos”.
Os maus tratos de Dóris aos avós trouxeram à baila a discussão acerca do cuidado familiar aos idosos. Fato que reverberou e influenciou a aprovação do Estatuto do Idoso, em 2003. [Carmen e Oswaldo] foram, inclusive, ao Congresso, no processo de aprovação do Estatuto, onde, além de super aplaudidos, estiveram com o presidente do Senado de então, José Sarney: “O trabalho do ator vai além do entretenimento e tem um poder social. Estivemos em Brasília em razão de uma personagem e através dele estamos fazendo algo para o país. Esse poder que é descoberto em razão do seu trabalho é um poder do ator. A gente transita muito nestes lugares”, observa.
O sucesso de “Mulheres”, segundo fala-nos Regiane, deve-se muito ao poder de comunicação de Manoel Carlos. “É muito grande, pois é atemporal. O que faz uma novela acontecer é um bom texto. Eu tenho muito orgulho desse trabalho. As pessoas têm uma lembrança minha de Dóris, que reflete uma época em que se consumia muito mais novela”
A novela foi um divisor de águas na minha carreira e era apenas o meu terceiro papel na Globo. Ela foi definitiva para me fazer estar na Globo há 23 aos. Com Manoel Carlos, eu fiz uma trilogia onde tem a mimada Clara, de “Laços de Família”, a mal educada Dóris, de “Mulheres Apaixonadas”) e a mal-amada Alice, de “Páginas da Vida” e fechei estes trabalhos com chave de ouro – Regiane Alves
TRILOGIA DAS CLARAS
A personagem da atriz em “Vai na fé” chama-se Clara tal como outras duas interpretadas por Regiane: Uma vivida em “Fascinação”, do SBT, e outra a mimada esposa de Fred, de “Laços de Família”. Perguntamos à Regiane se há algo em comum entre elas e a artista disse, descontraidamente: “A atriz!”. E prossegue dizendo que “a de ‘Fascinação’ é uma típica mocinha sofredora, que cresceu, enriqueceu e viveu por um grande amor. A de ‘Laços de Família’ era uma menina mimada, jovem, enciumada”. A próxima personagem viverá os conflitos de ser pouco amada. Para Regiane, o fato de serem personagens tão diferentes tem saldo muito positivo: “O grande desafio para quem trabalha há muito tempo na televisão é “o que eu vou fazer de novidade? Qual o frescor?”
Com efeito, a atriz interpreta personagens de tessituras muito diferentes. A primeira das Claras a de “Fascinação” ,com direção de Walcyr Carrasco, era a clássica heroína folhetinesca de uma trama de época e que ocupa um lugar especial no coração de sua intérprete: “Fiz esta protagonista em 1998. Reconheço neste papel a ansiedade da juventude, a ânsia de querer acertar de fazer super bem, mas ao mesmo tempo eu era muito verde, não sabia bem como era o processo, como funcionava. Mas, o início é assim mesmo tentativa-e-erro. Sempre me emociono quando alguém diz lembrar dela, que é a minha primeira personagem da carreira”.
Eu morro de vontade de trabalhar com o Walcyr Carrasco de novo” – Regiane Alves
Antes de iniciar na carreira de atriz, Regiane era modelo. E haver sido fotografada colaborou para que pudesse chegar à TV: “Dentre meus trabalhos como modelo constam a primeira capa da revista Atrevida, e outros títulos como Capricho e Carícia. Depois fiz um curso de teatro e a campanha dos biscoitos Tostines. Dali fui chamada a fazer a Oficina de Atores da Globo. Fiz algumas peças no teatro amador, fiz o teste para “Fascinação” e fui aprovada, enquanto fazia a Faculdade de Comunicação”, relatou a atriz, que antes de chegar à Globo fez a novela “Meu Pé da Laranja Lima”, na Bandeirantes (1998)
A FORÇA ESTÁ COM ELAS!
“A gente está num verdadeiro looping que é algo geracional. São novos tempos”. Diz Regiane, especialmente no que tange à questão feminina. Ela sinaliza que “é um momento de aceitação dos corpos das mulheres, das diferenças”. Uma das questões que a artista traz à tona, inclusive debate isto na peça que escrevera, é a problematização de questões que fazem parte do dia a dia das mulheres, como o machismo de seus companheiros: “Na peça a minha personagem fala que a pessoa com quem ela estava saindo queria que ela fizesse dieta e exercícios físicos, além de ficar com barriga negativa, como a ex dele, que tinha 25 anos. A minha personagem tem 42, teve dois filhos, amamentou…Ou seja, ele comparar duas mulheres, uma com 25 e outra com 42, é muito cruel”.
E ela continua: “Eu acho que o fato de a gente poder conversar e colocar esses personagens é positivo. Um reflexo da sociedade mesmo”. Na peça, ela e o co-autor desejam falar sobre a liberdade de escolha da mulher. Se ela escolher ficar só e ficar bem só, tudo bem. Ela não precisa estar num padrão”.
Quanto à liberdade da mulher eu até faço o comparativo da “Pequena Sereia”. Ariel e apaixona pelo Príncipe. Só que para estar no mundo dele, ela ficou num lugar híbrido, no qual ela não é sereia, nem humana, nem nada. Às vezes ,a mulher está tão apaixonada que ela pode deixar de ser quem ela é e apaga um pouco de sua força. A sociedade durante muito tempo impôs que a gente fosse educada para ser princesa” – Regiane Alves
Fazendo um trocadilho com o nome de sua próxima novela na Globo, perguntamos à Regiane onde ela encontra sua fé. E ela disse enxerga-la “no sorriso dos meus filhos. Eles me fazem ter fé na vida e de um mundo mais humano, mais possibilidade e menos desigualdade”. E falou isso enquanto dava entrevista, ao mesmo tempo em que levava um filho à escola, outro no curso de inglês e já havia preparado a mochila de um dos meninos para deixá-la no sapateiro para o conserto. Havia respondido a vários e-mails. E ainda encontrou um espaço para aconselhar as mulheres, que como citado na música de Ana Carolina, são “bala a mestiça, é todo gás e traz em cada braço uma viga do país”: “A mulher nunca pode duvidar da força que existe dentro dela. Se é optar por ter filhos, trabalhar, ter amigos, independência financeira, ter rede de apoios… Elas são para brilhar. Elas têm que aproveitar a força do poder”, pontua Regiane. Se ainda é possível encaixar uma outra citação, Erasmo Carlos, diz que quem “faz parte da rotina de uma delas sabe que a força está com elas”. Não há o que contestar.
Artigos relacionados