*por Vítor Antunes
Um nome conhecido no teatro, e autora de peças de muito sucesso no território nacional, Regiana Antonini sempre foi atriz e conciliou as duas carreiras. Hoje no elenco de “Elas por Elas”, concomitantemente estará assinando o roteiro de algumas outras montagens. Uma delas é “A Quebra“, uma de suas poucas incursões no gênero dramático e estrelada por Jayme Periard. A montagem traz como tema principal uma questão espinhosa, que é o abuso sexual a menores praticado por pessoas iminentes da Igreja Católica – porém, naturalmente, a questão religiosa não é trazida à tona. Apenas o assunto da pedofilia. “Esses abusos são uma questão polêmica e esta é uma das primeiras vezes que o tema é trazido ao teatro. Não falamos mal da Igreja, mas que somos contra os criminosos que ali estão”. Outras montagens as quais Antonini figura como roteirista são “O Dia Seguinte” adaptada do original de Luiz Fernando Veríssimo, e que conta com Adriana Birolli e Eduardo Pelizzari e “Tô Grávida“, que voltará aos palcos. As outras são “Doidas e Santas“, com Giuseppe Oristanio e Cissa Guimarães, que fará uma turnê de despedida.
Ainda que autora de inúmeros sucessos nos palcos, Regiana tem passagens episódicas pela TV como escritora. Segundo ela, o motivo é o etarismo: “Nunca tive oportunidade de fazer novela, mas adoraria. Acredito que infelizmente tem a ver com o etarismo, já que passei bastante dos 40. Já estando na Globo, e com essa idade, é diferente. Quando eu escrevia pro “Zorra” e humor, havia também preconceito ante o rótulo de pessoa-que-escreve-humorístico”. Além do programa citado, Regiana fez, em dramaturgia, a série “Divã” e um episódio do “Você Decide“.
Ainda no campo da escrita, ela fala sobre o imbróglio que envolveu os alunos de Aguinaldo Silva no que diz respeito à autoria de “O Sétimo Guardião“, o que gerou grande discussão, processos e culminou com a demissão do autor na Globo. Regiana era uma das alunas da masterclass de Aguinaldo que acabou por gerar a sinopse original da novela, e que motivou o processo dos ex-alunos. Algo do qual ela nunca concordou: “Teve muita energia negativa desde o início, além da pressão dos ex-alunos. Isso pode ter feito mudar o ponto original e colaborado para Aguinaldo perder a mão [da trama]. Mas Aguinaldo é uma pessoa simples, discreta, amorosa e apaixonada pelo que faz. Não merecia ser pressionado daquela forma”.
FALAS
Peça que celebra os 40 anos de carreira de Jayme Periard, “A Quebra” traz um tema muito sensível, que é o abuso sexual infantil nas igrejas católicas. Roteirizada por Regiana, destaca a autora a relevância de se tratar sobre esse assunto. “As pessoas que vão assistir ficam emocionadas, falam que é uma peça necessária, é e mesmo. A pedofilia acontece de maneira silenciosa. É como um câncer. Nunca está às claras”. Regiana diz que para preparar-se para escrever a peça assistiu documentários, especialmente os que tem a Suíça como locação. O país, segundo ela, é um dos campeões desse crime, seguido da França. Sobre os casos brasileiros, ela coletou o depoimento de várias vítimas e “por vezes eu precisava parar, porque é angustiante ver vítimas adultas falando sobre o que aconteceu a elas”. Como a peça traz apenas Periard no elenco, ele se divide em quatro personagens – um jornalista, uma vítima, um cardeal e o pedófilo. Regiana aproveitou-se do jornalista para imprimir o seu asco, e o de Jayme, por sobre os eventos dessa natureza. Esta montagem fica até outubro no Teatro das Artes.
Além desta, Regiana está com outra montagem, porém de humor, no Teatro Tucarena, em São Paulo. Chama-se “O Dia Seguinte” e é estrelada por Adriana Birolli e Eduardo Pelizzari. Baseada em um conto de Luis Fernando Veiíssimo sobre um casal que acorda nu, num quarto desconhecido, e que os dois não se conhecem. Paralelamente a isso, um texto no qual é co-autora, o “Solteira, casada, viúva, divorciada” volta ao cartaz em Portugal, protagonizado pela atriz Melânia Gomes. A montagem foi feita aqui no Brasil em 1993, protagonizada pela Lilia Cabral. “Tô Grávida“, também da autoria de Antonini, voltará em breve – ainda que com alguns ajustes. “Hoje o personagem masculino soa excessivamente machista. Humor é algo que estará sempre datado e é uma crítica do seu tempo”. Ela também adaptou o livro “Ser Artista” do Marcus Montenegro, para o teatro. Peça que terá Anderson Müller e Leona Cavalli no elenco, e direção de Beth Goulart.
Dentre as inúmeras peças, uma em especial fará no primeiro semestre do ano que vem uma turnê de despedida. É “Doidas e Santas“, projeto adaptado do livro da Martha Medeiros e fenômeno de bilheteria que surfou na onda da boa vendagem do projeto literário. Por ser um livro de crônicas, Regiana mergulhou na própria história para encontrar uma saída narrativa para o roteiro. “Hoje eu percebo que escrevi sobre mim, mas com a personagem tendo outra profissão. Tudo o que eu queria escutar do meu ex, que voltou a ser meu marido, eu coloquei na boca da personagem, e complementei usando textos da Marta de outras crônicas. Pautei a peça em cima da frase “um amor que foi tão lindo não merece passar pelo desgaste de uma separação”. “Doidas e Santas” está em cartaz, ainda que com alguns intervalos, desde 2010, quando o filho de Cissa Guimarães, Rafael Mascarenhas (1991-2010) faleceu. Quando do ocorrido, a montagem estava em pré-produção. “Rafa me ajudava muito. Ele era lindo, educadérrimo, um garoto com diferencial, muito adulto para a idade dele. E Cissa diz que a peça a salvou. Ela ocupa um espaço de afeto no coração da atriz”.
NOVELAS: POR ELAS E POR ELE
Como é de conhecimento geral do público noveleiro, “O Sétimo Guardião” (2019) foi uma novela cercada de problemas. A sua sinopse surge de uma masterclass ministrada pelo Aguinaldo Silva, que acabou sendo aprovada pela Globo. Alguns alunos de Aguinaldo se verteram contra a Globo e o professor dizendo-se prejudicados por isso e a novela quase não foi ao ar. Como se não fosse o bastante, a briga nos bastidores e o tal “surubão de Noronha” ofuscou ainda mais a trama. Sobre a novela, que Antonini trabalhou como atriz em 12 capítulos, ela diz: “Era um exercício de aula fazer uma sinopse, que ficou maravilhosa. Ao levar à Globo e tê-la aprovada, Aguinaldo devolveu nosso dinheiro e disse que nos creditaria, assinamos um contrato e ele devolveu um dinheiro mais a nós e pronto. Foi algo acordado e palavra dada. Pra mim acabou ali. Ee nunca falou tratar-se de uma sinopse só dele, sempre falou que escreveu com os alunos. Fui contra o grupo de alunos que processou Aguinaldo. Para mim, nós tivemos a oportunidade de escrever uma sinopse com ele, que é um dos maiores autores do Brasil. Fui lá para aprender, e claro, para que ele conhecesse meu trabalho como autora. [Diante de tanta confusão] o autor usou nossa sinopse até o capítulo 80 e depois mudou o rumo. Muito por causa de tanta energia negativa”.
Em “Elas por Elas” Regiana Antonini vive Maninha, uma empregada. A primeira entre suas personagens vividas na TV. E esta, porém, não foi a primeira vez que ela e Alessandro Marson, o autor, trabalham juntos. Quando a atriz fez o “Sítio do Picapau Amarelo” o roteirista era o mesmo. E, divulgado que Marson estaria à frente da nova novela junto à Thereza Falcão ela própria se ofereceu para fazer a trama, em razão da proximidade entre eles. “Falei para Alessandro da minha admiração pelo texto do Cassiano Gabus Mendes e eles toparam. Acho tudo maravilhoso, bem escrito e o Mário Fofoca vivido pelo Lázaro Ramos um primor, assim como as atrizes protagonistas. O humor do Cassiano, aquele DNA existe ali em peso”. A personagem de Regiana, Maninha, será uma empregada que terá um papel definitivo quando da entrada de Míriam (Paula Cohen), envolvida na troca dos bebês, plot de duas personagens do eixo central. Ouro elemento que Antonini destaca é o fato de ela, branca e loura viver uma empregada. Fruto da revolução étnica a qual a TV está vivendo “sempre fui a patroa, a perua por causa do meu estereótipo e eu acho incrivel por romper esse paradigma”, finaliza.
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