Rolos de películas, frames, perfurações, numeração de borda e pistas de som. As próximas gerações provavelmente pouco ouvirão falar nesses termos já que, no final de 2014, os ainda remanescentes cinemas analógicos se renderam de vez à digitalização no Brasil. A transição, considerada por alguns tão importante quanto a do cinema mudo para o falado, realmente melhorou a qualidade dos filmes ao substituir os equipamentos de projeção de película e rolos pelos digitais. Com todas as suas salas já no novo formato, a rede UCI Cinemas reuniu 15 artistas plásticos de diferentes cidades do Brasil para uma homenagem ao cinema analógico. A ação propõe uma intervenção criativa com projetores 35mm – os analógicos, por todo o país.
Com curadoria de Isabel Sanson, os artistas foram convidados a intervir no projetor, ou seja, usar a máquina como uma tela ou parede em branco para criação. Vitor Mizael, Flávia Junqueira, Úrsula Tautz, Karina Agra, Leandro Alves, Felippe Moraes, Luciano Boletti, Klewerton Bortoli, Carlos Rezende, Pedro Marighella e Karmo foram os nomes escolhidos para a ação e nós, do site HT, conversamos com Úrsula – responsável pelo projetor do UCI Kinoplex Norte Shopping, no Rio de Janeiro, para saber mais sobre o trabalho.
Ela, que pintará seu projetor de azul e adesivará a superfície, contou que, como é “brasileiralemã”, juntou Berlim e Brasil e criou seu próprio lugar. “Os adesivos são uma foto da escultura neoclássica em mármore da figura mitológica grega Vitória, sentada, na Alte Nationalgalerie em Berlim e uma representação da floresta tropical. Acho que o cinema, com sua magia, nos traz sempre uma vitória, mesmo quando o filme não tem final feliz. As salas de cinema, nos apresentando os filmes e suas vitórias, criam um lugar em suspensão onde tudo é possível: juntar, transformar, voar”, analisou.
Apaixonada por cinema (“principalmente com pipoca”), Úrsula se interessou pelo projeto logo que recebeu o convite. “Acho um desafio interessante. Além de dar um novo uso à máquina obsoleta, trata da questão do cinema, da sala e do público que o frequenta”, disse.
Essa não é a primeira intervenção de Úrsula. Ela, que participou do projeto “Intervenções urbanas” em 2015, acredita que levar a arte a mais gente é fundamental. “Gosto de aproximar a arte dos habitantes da cidade e possibilitar experiências”, destacou. Com seu trabalho chegando a muito mais gente do que se expusesse em uma galeria, ela comemorou: “Acho essencial. Hoje temos mais possibilidades de mostrar nosso trabalho e alcançar as pessoas, e em função desta proximidade existe maior interesse em arte”, disse. E é esse interesse que aumenta o número de espaços e galerias disponíveis. “Acho que o espaço está expandindo. Hoje temos mais lugares alternativos, galerias e editais. Apesar do momento que passamos com algumas baixas”, destacou.
Essas baixas foram por conta da crise, Úrsula? “Com certeza. A crise afeta todos os setores da economia, inclusive o mercado de arte, mas não afeta o interesse na arte. Então depende do que procuramos”, completou. Pois que saibamos procurar.
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