*por Vítor Antunes
No início da semana, na segunda-feira (dia 1º), Christiane Torloni tornou público que estava sem contrato com a Globo. Ao menos desde 1975 a atriz estava vinculada à emissora carioca, tendo havido um intervalo curto entre 1987 e 1990, quando assinou contrato com a Manchete. A dispensa de Torloni obedece ao novo critério da casa em não ter ninguém contratado por longo prazo. Ou seja, outros nomes profundamente ligados à emissora carioca também deixarão a casa em breve. A primeira novela a qual Christiane Torloni foi protagonista foi “Gina”, na qual viveu a personagem homônima. A trama de Rubens Ewald Filho (1945-2019) era baseada no romance de mesmo nome, escrito por Maria José Dupré (1898-1984) e foi exibida em 1978 sem grande sucesso. A novela objetivava mostrar a vida inteira de Gina, desde a infância até a maturidade. Porém, não houve troca de atriz para viver essas outras fases. E, aos 21 anos, Chris chegou a viver uma mulher com mais de 60, que é a sua idade atual. Gina estará de volta no Globoplay, em fragmentos. Apenas 6 capítulos, de 89, foram peservados.
Sobre estar desde cedo na televisão, Christiane sinaliza que começou a se “comunicar muito cedo. Meu primeiro recibo de trabalho, ainda na extinta TV Tupi Rio, lá da Urca, tem 52 anos. Eu não tenho do que me queixar. A minha vida é uma bênção de papéis lindos e de trabalho. E eu só posso agradecer por poder ser útil como cidadã, como artista, como brasileira e como guardiã da Amazônia”. O último trabalho de Torloni foi uma participação em “Vai na Fé” como ela própria. Sua mais recente novela completa foi “O Tempo Não Para“, em 2018.
Sobre o papel na única novela escrita por Ewald na Globo, Chris celebra e diverte-se ao relembrar da personagem: “Eu acho um espanto é que na época tenha se acreditado que eu, aos 21 anos, pudesse aparentar ter 60. Eu vejo algumas cenas que os fã-clubes postam e é impressionante, porque há ali todo um colágeno que você tem aos 20 anos, mas não tem aos 60. É meio fake, a ponto de ser engraçado. Eu sempre debati muito se eu não teria sido melhor que nessa segunda etapa da trama que a mamãe, a atriz Monah Delacy, fizesse a personagem. Mas nem mesmo ela tinha 60 anos naquele momento, embora pudesse tranquilamente interpretá-la”, analisa.
Christiane nos conta, inclusive, que ela não era a primeira escolha para a personagem: “Havia uma dúvida se eu deveria ou não protagonizá-la e o Boni foi definitivo nessa escolha, pois acreditava ser o momento de eu ser protagonista, de ser reconhecida imediatamente nesta função”, sinaliza.
Eu acho que a passagem do tempo acontece você ocupando o tempo na ação em viver. Não é filosofia, é caminho. Aos 20 anos, com certeza, eu não tinha caminhado tudo que eu caminhei até hoje. E não podia emprestar isso pra personagem, pôr mais densidade, ainda que eu tivesse boa vontade e talento – Christiane Torloni
As incoerências de “Gina” não param por aí. Louise Cardoso, mais velha que Christiane Torloni, era sua filha. Diogo Vilela e Fátima Freire faziam pais de Tetê Pritzl que tinha quatro anos a menos que Fátima. A autora do romance original, Maria José Dupré, não gostou da adaptação. “Gosto mais de ‘Dancin’ Days“, disse à Folha de São Paulo. Esta foi a única novela de Rubens Ewald Filho na Globo. Foi uma das poucas novelas de Arlindo Barreto na emissora. Na época, ele assinava “Arlindo Tadeu”. Anos mais tarde daria vida ao palhaço “Bozo”, no SBT.
Tanto em “Gina”, de 1978, foi um dos romances adaptados para a televisão escritos por Maria José Dupré. “Éramos Seis”, sua obra de maior sucesso, foi quatro vezes adaptada para a televisão. Em quase a todas as ocasiões, a autora não fora creditada em seu nome, mas como Sra. Leandro Dupré, ou seja, através do nome de seu marido, que era engenheiro. Apenas depois de morta, a autora foi deixou de ser invisibilizada em sua assinatura e somente na versão de 2019 de “Éramos Seis”, creditou-se como “Baseado em original de Maria José Dupré”. Marca de um tempo.
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