Rayssa Bratillieri filma na China e diz: “Lá quem não usa máscara paga multa e pode até ser preso. Me senti segura”


Atriz conhecida pelos seus papeis em ‘Malhação – Vidas Brasileiras’ e ‘Éramos Seis’, protagoniza a comédia romântica ‘Hong Kong Love Story’, filmada durante a pandemia. Rayssa fala da experiência, dos planos, de feminismo e machismo estrutural e reforça a necessidade de não fazer aglomerações neste Carnaval: “Acho meio óbvio ter que explicar porque não pode ter o Carnaval como conhecemos, mas tenho aprendido nestes tempos, que coisas óbvias também precisam ser ditas. Ainda estamos vivendo uma pandemia que matou muita gente, deixou dor e sofrimento na vida de muitas pessoas. É só uma questão de consciência social, não é hora de folia. Sei que mexe com nosso coração, que muita gente espera o ano inteiro, eu também amo Carnaval, fico triste por não podermos estar juntos, mas ano que vem está aí. Passa super rápido e vamos poder aproveitar em dobro o que  não aproveitamos este ano. Definitivamente 2021 não é hora de folia”

*Por Brunna Condini

Raysa Bratilliere: "Podemos usar nossa imaginação neste Carnaval e aproveitar esses dias em casa” (Reprodução)

Raysa Bratilliere: “Podemos usar nossa imaginação neste Carnaval e aproveitar esses dias em casa” (Reprodução)

“Não me leve a mal, hoje é Carnaval”. O título do samba enredo da escola de samba Tradição, da folia de 1983, nos coloca no clima do Carnaval deste ano que vai viver de nostalgia. E também nos permite um trocadilho para ressaltar que ainda estamos em plena pandemia: “Não nos faça mal, não pule Carnaval”! Este ano não terão blocos de rua e nem escolas de samba desfilando, já que as aglomerações continuam proibidas, medida mais do que necessária por conta dos números da Covid-19.

Mas para quem deseja espairecer, a curtição pode acontecer em casa e com boas opções pela internet de lives e blocos. E é assim que Rayssa Bratillieri vai curtir os dias de feriado pandêmico, sem folia, mas com esperança e preservação. “Eu amo Carnaval de paixão! Desde pequena. Mas não curto bloquinhos, sinceramente, não me faz falta. Não tenho uma boa referência (risos). Todas as vezes que fui para blocos não vi coisas legais, estavam sempre muito cheios, muito calor, gente suada, colada (risos). Muitos amigos meus dizem que na verdade, eu nunca estive no bloco certo, com as pessoas certas. Pode ser até que seja verdade, mas tenho outras preferências”, conta a atriz. “Amo curtir o Carnaval na Sapucaí. Amo desfilar e pretendo fazer mais. Amei a experiência de desfilar ano passado. Venho de uma cidade (Apuçarana, no Paraná) que não tem Carnaval, bloco nas ruas e eu tinha que usar a minha imaginação, nem que fosse assistindo televisão e fazendo minha farra em casa. Ou no máximo dançando música de axé em clube. E acredito que esse ano vai ser parecido e não deixa de ser tão importante e especial quanto. Podemos usar nossa imaginação e aproveitar esses dias em casa”.

Rayssa Bratillieri e o namorado André Luiz Frambach posam na Avenida com colegas de elenco de 'Malhação' no Carnaval do ano passado no desfile da Unidos de Padre Miguel (Foto: Arquivo Pessoal)

Rayssa Bratillieri e o namorado André Luiz Frambach posam na Avenida com colegas de elenco de ‘Malhação’ no Carnaval do ano passado no desfile da Unidos de Padre Miguel (Foto: Arquivo Pessoal)

Consciente, Rayssa completa: “Acho meio óbvio ter que explicar porque não pode ter o Carnaval como conhecemos, com aglomeração, mas tenho aprendido nestes tempos, que coisas óbvias também precisam ser ditas. Ainda estamos vivendo uma pandemia que matou muita gente, deixou dor e sofrimento na vida de muitas pessoas. É só uma questão de consciência social, não é hora de folia. Sei que mexe com nosso coração, que muita gente espera o ano inteiro, eu também amo Carnaval, fico triste por não podermos estar juntos neste momento, mas ano que vem está aí. Passa super rápido e vamos poder aproveitar em dobro o que  não aproveitamos este ano. Definitivamente 2021 não é hora de folia”.

Levando o Brasil para o exterior

Aos 23 anos, a paranaense conhecida por atuar em ‘Malhação – Vidas Brasileiras’ (2019), acaba de filmar sua participação em ‘Hong Kong Love Story’, longa que marca sua estreia como atriz internacional. “Faço uma protagonista, uma brasileira. Eles estavam procurando uma atriz do Brasil para a personagem e entraram em contato com diretores e produtores daqui, quando o meu nome foi indicado. Fiz o teste em setembro do ano passado, tive três dias para encaminhar três cenas para a produtora de elenco em Los Angeles. Fiquei muito feliz deles olharem para o Brasil, é a possibilidade de furarmos mais uma bolha, e também a oportunidade de expandir o meu trabalho, participando de uma produção com pessoas do mundo todo”.

Rayssa Bratilliere em Hong Kong Filmando seu primeiro filme internacional (Arquivo pessoal)

Rayssa Bratilliere em Hong Kong Filmando seu primeiro filme internacional (Arquivo pessoal)

A comédia romântica dirigida por Keoni Waxman, tem previsão de estreia no final de 2021. “Minha personagem sai do interior do Brasil e vai para Hong Kong, na China, a trabalho. É uma história sobre poder e dinheiro, que é a realidade de Hong Kong, uma cidade muito rica. Se não me engano, a cada sete pessoas, uma é milionária ou bilionária”, diz Rayssa. “Quando li a sinopse, fiquei apaixonada pela personagem e pensei: preciso fazê-la para expressar os nossos sentimentos, os meus e os dela, que são tão equivalentes. Acho que o universo me escutou. Eu e ela temos muitas coisas parecidas. Também sai muito jovem do Paraná para ir para o Rio de Janeiro, atrás do meu sonho, de trabalho. Também tenho uma conexão muito forte com a família, me emociono só de pensar”.

"Sai muito jovem do Paraná para ir para o Rio de Janeiro, atrás do meu sonho, de trabalho. Também tenho uma conexão muito forte com a família, me emociono só de pensar”. (Divulgação)

“Sai muito jovem do Paraná para ir para o Rio de Janeiro, atrás do meu sonho, de trabalho. Também tenho uma conexão muito forte com a família, me emociono só de pensar”. (Divulgação)

Não teve medo de filmar lá e no meio da pandemia? Que medidas de segurança foram tomadas? “Olha, não vou dizer que não existiu uma preocupação tanto comigo quanto com a minha preparadora Thaís Mansano, que me acompanhou. Teve preocupação com a nossa segurança e saúde neste momento crítico que estamos vivendo. Mas a minha vontade de fazer esse filme era tanta, que não deixei o medo dominar”, garante. “Fiquei quase dois meses em Hong Kong e eles estão sendo muito cuidadosos em relação à pandemia. Todo mundo que chega no aeroporto faz um teste de Covid bancado pelo governo e mesmo testando negativo, você fica de quarentena duas semanas no hotel. Bares e boates fechados, os restaurantes fechando a partir das 18h. Uso de máscara obrigatório e quem não usar paga multa alta, podendo até ser preso. Isso tudo faz um controle muito grande da pandemia. Me senti segura lá”.

Rayssa conta também, que sua maior dificuldade não foi a língua, já que não domina o inglês, mas sim, o frio. “Peguei 7 graus, com sensação térmica de 4, 5 graus. E o maior problema dentro disso, para uma pessoa que já não gosta de frio como eu, é que a minha personagem não usava roupas adequadas para o clima. Isso foi um desafio porque nas cenas eu não podia demonstrar que estava com frio. Tinha dias que queria chorar de frio (risos), mas dava o ‘ação’ e a força vinha”, lembra Rayssa, que está envolvida no momento com a finalização do seu primeiro curta-metragem, filmado também na pandemia, ‘Plantando Retalhos’, em parceria com o namorado e também ator André Luiz Frambach e com a cunhada e diretora Camille Frambach.

Em seu primeiro curta-metragem, filmado também na pandemia, ‘Plantando Retalhos’, em parceria com o namorado e também ator André Luiz Frambach e com a cunhada e atriz Camille Frambach (Reprodução)

Em seu primeiro curta-metragem, filmado também na pandemia, ‘Plantando Retalhos’, em parceria com o namorado e também ator André Luiz Frambach e com a cunhada e atriz Camille Frambach (Reprodução)

Apaixonada pelo Brasil, ela não idealiza uma carreira fora daqui: “Quero fazer produções brasileiras que tenham alcance mundial Nasci neste país, aqui é meu lugar de afeto, onde está meu coração, minha família. Amaria consolidar minha carreira aqui e fazer personagens que possam levar nossa cultura e história para o mundo. Mas não fecho portas, também estou aberta a ser uma latina em carreira internacional se pintar a oportunidade”.

A revolução é feminina

Rayssa se considera uma feminista ‘em desconstrução’ sobre o machismo estrutural que acomete nossa sociedade e defende o bom diálogo para que as mudanças necessárias continuem acontecendo. “Acho que estamos transformando e revolucionando de geração em geração, mas o machismo enraizado acaba está em cada individuo, a desconstrução acontece em cada um, diariamente. Vejo esse machismo, por exemplo, quando uma mulher julga outra. Ou ainda, quando não nos sentimos suficientes por sermos mulheres, quando não nos vemos em cargos de poder, são essas coisas que precisamos ir desconstruindo. E também, quando olhamos pelos de mulheres de forma diferente dos pelos masculinos. Uma mulher sem sutiã também não é olhada como um homem sem camisa, aí entra a objetificação. Essa luta precisa ser constante e ter união”.

"O assédio acontece todos os dias com muitas mulheres. Então isso precisa ser conversado e o homem sair deste lugar que se coloca, superior, precisamos desconstruir isso para as outras gerações” (Divulgação)

“O assédio acontece todos os dias com muitas mulheres. Então isso precisa ser conversado e o homem sair deste lugar que se coloca, superior, precisamos desconstruir isso para as outras gerações” (Divulgação)

A atriz comenta uma situação recente envolvendo o assédio cotidiano, muitas vezes naturalizado. “Senti o que há muito tempo não sentia. Estava voltando para a casa a pé sozinha e estava vestindo uma bermuda, normal, nem colada era. Uma distância mínima até a minha casa, de cinco minutos. Se eu filmasse a quantidade de homens que abaixaram a janela dos seus carros, falando coisas, fazendo caras e bocas para mim, vocês entenderiam. Na hora, o sentimento foi de medo, queria chegar logo, senti impotência também. E isso acontece todos os dias com muitas mulheres. Então isso precisa ser conversado e o homem sair deste lugar que se coloca, superior, precisamos desconstruir isso para as outras gerações”.

O que ainda conserva da menina que veio do interior e que tipo de mulher vem se tornando?  “Me faço essas perguntas todos os dias. Que difícil isso. Quero ser melhor, mais madura, mais consciente. Alimentar o meu lado mais criativo, livre, e ao mesmo tempo acho muito importante não deixar de ter uma leveza, que tinha muito forte quando vim lá do interior do Paraná, de Apucarana. Ainda conservo essa ingenuidade, talvez tenha perdido um pouco da leveza, mas estou tentando pegar de volta (risos). Quero ser uma mulher decidida, auto suficiente, mas que não tem medo de expressar seus sentimentos, errar, que não tem medo da imperfeição”.