Ravel Andrade faz Chico Mário na nova série no Globoplay e contracena com o irmão, que protagoniza Betinho


Como o músico Chico Mário (1948-1988) na série “Betinho: no Fio da Navalha”, Ravel Andrade dá um show de atuação e toca os fãs com a música erudita, popular e encantadora. Ao mesmo tempo que interpreta o irmão de Herbert de Souza (1935-1997), o ator contracena com o próprio irmão, o protagonista Júlio Andrade. “Ela tem uma vibe familiar mesmo, a gente trouxe para montar uma liga mesmo. Algumas outras pessoas que não eram nada a ver também entraram nesta simbiose, como o Humberto Carrão. Essa energia já está ali. Quero ver isso na série porque ela fala sobre a família”. Para 2024, Ravel será protagonista pela primeira vez. Interpretará Raul Seixas, numa série que está em produção, na Globo

O artista Ravel Andrade encarna o músico erudito Chico Mário em nova série sobre o sociólogo Betinho, no Globo Play

*por Luísa Giraldo 

A série “Betinho: no Fio da Navalha“, criada por José Junior, estreou no serviço de streaming da Globo. Os irmãos Júlio e Ravel Andrade, dois dos principais artistas envolvidos no projeto, atuam como os igualmente irmãos Herbert de Souza (1935-1997), o Betinho, e o músico Chico Mário (1948-1988), respectivamente. Este é um dos papéis recentes de maior destaque de Ravel – que fez as novelas “Império” (2014) e “Rockstory” (2016)  -, e teve o privilégio de contar com a presença de Júlio não só no protagonismo da série mas no apoio artístico e emocional: “Júlio me dirigiu no série, mas ele me dirigiu também durante a vida inteira. Ele é o tipo de cara que me aconselha, um irmão que me dirige para a vida também. Em cena, quando eu vi a câmera pela primeira vez, olhei para o lado e lá estava ele. Naquele momento, senti muita gratidão e orgulho de estar em sua companhia. O sentimento de irmão realmente veio forte e de maneira muito natural”, emociona-se.

Para 2024, Ravel está cotado para ser o protagonista da série biográfica sobre Raul Seixas (1945-1989) que a Globo apresentará. Discreto, ele fez um voto para a posteridade: “Eu desejo um olhar muito mais sério para os nossos heróis. Desejo que o cinema se fortaleça, que a gente tenha investimento do Governo para produzir coisas boas. Que a arte seja um dos pilares do país porque a gente consegue ensinar tudo sobre a vida para as pessoas”.

Ravel Andrade relembra da conexão que estabeleceu com a herança cultural de Chico Mário durante as gravações

Ravel Andrade relembra da conexão que estabeleceu com a herança cultural de Chico Mário durante as gravações (Foto: Divulgação)

BOLERO DE RAVEL

Maurice Ravel (1875-1937), é um compositor francês famoso por haver criado “Bolero”. A música é tão famosa até hoje e a assinatura de seu autor se faz tão presente que, não raro, citam-na assim, junto ao nome do músico. Ele, aliás, foi influenciadíssimo por Debussy, Liszt e Strauss. É possível traçar um paralelo desse Ravel com o outro, jovem ator brasileiro, irmão de Júlio Andrade, influenciado por ele, e de 30 anos recém completos. Interpretando um músico, Chico Mário (1948-1988), irmão de Betinho na série que homenageia o sociólogo de fundamental importância no combate à fome no Brasil. Em “Betinho: No Fio da Navalha” divide o elenco com a namorada, Andréia Horta, dez anos mais madura e em mais anos experiente no ramo da interpretação. Um bolero moderno, de jeans e camiseta, distante daquele do homem que lhe inspirou o nome, no Século XIX. 

Chico Mário, o compositor e violonista Francisco Mário de Souza, se consagrou como um dos principais músicos da história da cultura brasileira do Século XX. Gravou com Raphael Rabello (1962-1995) , Aldir Blanc (1946-2020), Ivan Lins e Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006). Deixou trabalhos como compositor e instrumentista e entrou para a história como precursor da música independente no Brasil em um período em que as gravadoras dominavam o mercado musical. Alguns discos importantes são Terra”, “Sol e Mar” e “Tempo”. Participou , também do Festival dos Festivais de Minas Gerais (1986), onde recebeu o prêmio de melhor arranjador. Ravel o define como sendo alguém de um “talento maravilhoso para a música. O Chico tem um violão meio erudito e rebuscado de um jeito popular. Foi um cara que me ensinou muito não apenas nas músicas, mas nas vidas, sobretudo com as músicas políticas, que sempre diziam alguma coisa”. Com complicações tanto oriundas da hemofilia como da AIDS, o músico morreu em 1988. Antes de seu falecimento, artistas como Chico Buarque e Milton Nascimento fizerm um show beneficente para angariar fundos que pudessem ajudar os custos médicos do artista.

Para viver papel tão intenso, Ravel disse ter dado tudo de si. Ao entrar no personagem, o artista considera que ter cedido toda sua experiência e vivência sensível com o irmão para a relação de Chico e Herbert. “[A série] tem uma vibe familiar, a gente trouxe para montar uma liga mesmo. Algumas outras pessoas que não eram nada a ver também entraram nesta simbiose, como o Humberto Carrão. Essa energia já está ali. A série fala sobre família”. Irmão de Betinho, Chico Mário também tinha esse parentesco com o cartunista Henfil (1948-1988).

Também cantor, Ravel Andrade confessa se inspirar no irmão, Júlio Andrade

Também cantor, Ravel Andrade confessa se inspirar no irmão, Júlio Andrade (Foto: Divulgação)

IRMÃOS DE SANGUE

Ao assumir a faceta “familiar” do produto audiovisual, o ator de 30 anos correlaciona a conexão entre ele e o irmão com o contato com o diretor, Lipe Binder, já que, conta-nos ter sido convidado para dar vida ao Chico antes de o diretor dar o start ao projeto. Já com o cineasta, a intimidade foi colocada como principal elemento nas gravações. Aliás, a coincidência que une Henfil, Betinho e Chico Mário, além da consanguinidade, é o fato de que os três possuíam hemofilia – condição patológica oriunda de uma dificuldade de cicatrização. Se a arte é algo que transborda e também tem origem ancestral, atávica, isso é o que une os irmãos Júlio e Ravel. O mais jovem admitiu observar com frequência a faceta “mutante” do irmão mais velho, apelidado desta maneira há cerca de dez anos após sua atuação em “Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho”. Segundo o novato, é um privilégio acompanhar o processo de desenvolvimento do irmão como ator e como próprio familiar.  “O meu irmão sempre me disse para ser uma pessoa observadora da vida, já que ele é um mestre da observação. Olhar as transformações dele me ensina muito é um privilégio. Às vezes, as viagens que ele entra não são óbvias porque ele vai por um outro lugar, o que torna [a minha relação com ele] sempre em uma aula”, elogia.

Os atores e irmãos Júlio e Ravel Andrade contracenam como irmãos na nova série da Globo Play "Betinho: no Fio da Navalha"

Os atores e irmãos Júlio e Ravel Andrade contracenam como irmãos na nova série da Globo Play “Betinho: no Fio da Navalha” (Foto: Loiro Cunha)