*Por Rafael Moura
Neste segundo semestre, uma das grandes apostas do cinema brasileiro é o longa-metragem O Silêncio da Chuva, projeto de Daniel Filho inspirado no romance policial do autor Luiz Alfredo Garcia-Roza, publicado em 1996. E o elenco conta com Raquel Fabbri contracenando com um elenco de primeira integrado por Lázaro Ramos, Thalita Carauta, Guilherme Fontes, Cláudia Abreu, Mayana Neiva, Bruno Gissoni, Otávio Muller, Pedro Nercessian. A estreia dia 23 terá um gosto muito especial para Raquel, que está totalmente recuperada de uma cirurgia extremamente complexa para a retirada de um tumor raro atrás do intestino reto. Para conseguir fazer a operação, a atriz foi obrigada a recorrer a uma vaquinha virtual e recebeu uma “avalanche de amor” como conta.
“No final das gravações da novela “Amor de Mãe”, fui fazer uma consulta médica ginecológica e foram encontrados dois miomas e a endometriose. Quando fomos investigar os focos da endometriose, o tumor foi diagnosticado. Foi um susto, porque, quando o contrato com a Globo acabou, o plano de saúde também. Não tinha como estender. Foi uma cirurgia grande e eu corria muitos riscos se eu ficasse postergando. O tumor ia crescer e eu poderia ter algumas sequelas bem ruins. Só tenho a agradecer o universo por ter me mostrado isso da forma que foi e a todas as pessoas que me ajudaram. Hoje não tenho nenhuma sequela, porque tive ajuda. Se não fosse essa vaquinha virtual, eu não teria como arcar com nada praticamente. Me emociono demais sempre que lembro da avalanche de amor. Foram seis meses de recuperação, com muita dor, mas valeu, estou viva e bem”, agradece.
E ela fala sobre o prazer de estar no longa de Daniel Filho: “Foi uma experiência maravilhosa. Eu interpreto a Carmem, uma secretária que trabalha com a personagem da Mayana Neiva, que foi incrível como parceira de cena e na vida rolou uma mega conexão. Esse é também o segundo filme que faço com Lázaro Ramos (o primeiro foi ‘O Beijo no Asfalto‘, 2018) e foi só alegria. Sou muito grata pelo Daniel sempre lembrar de mim nas produções dele e o respeito e carinho com meu trabalho”, agradece a atriz, que esteve com o diretor no filme ‘Boca de Ouro’, 2020.
O pintor russo Wassily Kandinsky (1866-1944) disse que “toda obra de arte é filha de seu tempo e, muitas vezes, mãe dos nossos sentimentos”. E Raquel nos fala sobre o papel fundamental da arte, principalmente neste momento de pandemia. “É um ato de resistência. E como tem sido desesperador ver que não há incentivo. Eu não tenho nenhuma estabilidade financeira por trabalhar com arte e vejo muitos desistindo. A cultura é o que move, o que ensina e os artistas alicerces de cura, informação e educação”, pontua a atriz.
Com toda essa visibilidade, percebemos que desde sempre, os artistas são grandes formadores de opinião, influenciadores. Tendo uma imensa responsabilidade social perante a informação e formação do seu ‘público’. “Essa responsabilidade é gigantesca. Fico muito incomodada como tem grandes ‘influenciadores’ que não têm o mínimo de estrutura para ajudar na educação, na cultura. Muitos deles são um desserviço para a sociedade reforçando padrões de gordofobia, pressão estética, realidade deturpada, machismo. Precisamos ser fontes de fala para ajudar a sociedade, e não só pensar no dinheiro que se ganha com isso. É fácil perceber quem está nessa por grana, e quem não está. A qualidade do conteúdo e o apoio geral é discrepante. Infelizmente quem está nesse ‘padrão de marketing’ é que tem visibilidade e relevância”, reflete.
Em sua adolescência, Raquel Fabbri sofreu com distúrbios alimentares, como anorexia e compulsão alimentar, caso que se refletiu em uma de suas personagens, a Bia, da novela da TV Globo, Alta Astral, 2014. A garota tinha muitos complexos e engordou muito depois da morte dos pais e não conseguia se libertar da ideia de que era feia e gorda. Nunca teve um namorado e era formada em psicologia e trabalhava à noite em uma linha telefônica de ajuda a toxicodependentes. “A construção desses personagens começam por entender e estudar o ser humano. Começa por me aprimorar em não julgar e ter empatia. Na verdade, a Bia fez com que eu começasse o processo de me entender, me aceitar, amar. Foi a Raquel que levou da Bia muitos ensinamentos para a vida toda. É isso que amo em ser atriz: deixar que a personagem também transforme você como ser humano”, frisa.
Raquel, aos 33 anos, vem atuando no teatro, cinema e na TV. Seu último papel foi integrando o elenco de apoio na novela “Amor de Mãe”, em 2020. “A novela representou uma grande virada de chave para nós, artistas, podermos trabalhar no elenco de apoio e figuração. É uma abertura do mercado incrível e uma mudança na estrutura que só beneficia o produto final, trazendo mais oportunidades de emprego para quem de fato é ator”, explica, acrescentando: “Para quem não sabe, era comum chamar pessoas sem formação, para fazer esse trabalho, e isso é uma desvalorização enorme em muitos níveis. Foi um prazer e fico muito feliz. Não existe papel pequeno, existe trabalho bem feito”.
Em meio a todos os acontecimento em nossas vidas por conta da pandemia do novo coronavírus, Raquel, como todos, foi afetada pela turbulência do isolamento social. “Foi bem caótico. Foram muitos processos de enfrentar as pequenas coisas que a gente esquece com o dia a dia. Ainda está sendo, não passou. Temos que nos cuidar, ainda tem muito tempo pela frente com esse vírus, e muito chão de manter a rotina de cuidado e distanciamento mesmo após a vacina”, frisa.
A atriz conta que exercícios físicos, terapia e a atenção dos amigos e família foram de suma importância para amenizar a ansiedade nesse período. “E mesmo assim, tem sido a luta diária não surtar com tudo que está acontecendo todo dia, no Brasil e no mundo. Agora vemos o Talibã tomando conta no Afeganistão, mais mulheres serão trucidadas de inúmeras formas. É muito triste ver tanta falta de amor”, conclui.
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