*Por Domênica Soares
Em entrevista ao site Heloisa Tolipan, Rainer Cadete, ator, produtor e pai do Pietro conversou com a gente sobre carreira, evolução pessoal e caminhos da mídia no país. Rainer passou um tempo fora das telinhas para se dedicar a novos trabalhos, assinou produções de cinema, ganhou seu primeiro papel como protagonista no filme Virando a Mesa, que estreia no dia 24 de outubro, e atuou em mais produções. Hoje está de volta com a novela A Dona do Pedaço, da Globo, mas, mesmo já tendo toda essa experiência de 15 anos de carreira, ele não se define como um artista completo. “Sou um artista em construção, que está situado no meio do processo. O início e fim nós já sabemos como é. Na minha opinião, é importante estar no centro, porque é nele que adquirimos mais velocidade. Estou em construção, buscando me aperfeiçoar, seja no meio artístico, corporal e espiritual”, afirma.
Rainer conta que em todo esse tempo de carreira seu maior aprendizado foi em relação ao poder de sonhar, que para ele é um ciclo de planejar, agir e realizar. “Aprendi muito sobre esses ciclos e, além de tudo, sobre o autoconhecimento. Hoje em dia olho para meus demônios sem medo, e devo isso à minha profissão que tem esse poder de transformação contínua. Sei identificar meus defeitos e qualidades, e aprendi principalmente que não somos nada, estamos sempre de acordo com as circunstâncias. O importante é estar presente no aqui e no agora”, comenta.
Ainda em relação à profissão, o ator que mergulha de cabeça em todos os seus papéis, frisa que não atua simplesmente, mas que vivencia aquele momento. Ele afirma que ao fazer isso ganha a oportunidade de entrar em um universo novo a cada personagem e com isso consegue se desconstruir como pessoa e construir novos pensamentos a partir de um contexto, na maioria das vezes, novo.
“Na minha profissão existe a possibilidade de apagar muitas impressões que o público tem sobre o ator e começar a construir novas”. Rainer explica, metaforicamente, e conta que esse processo é como se fosse uma tela branca que sempre pode ser pintada de uma forma diferente. “É a tal característica camaleônica que muitos falam e eu sou adepto a isso. Sempre penso e proponho aspectos novos para meus papéis, desde físicos até mesmo psicológicos. É um mergulho profundo dentro de várias realidades e, devido à isso, sou capaz de expandir dentro de mim espaços que antes não tinha acesso”, revela.
Atualmente, atuando como o fotógrafo Téo, o ator comenta que vivencia de fato a profissão de um fotógrafo. Ele se interessa pelas técnicas, pelo olhar, postura e interpretação dos momentos e comenta um método importante que desenvolveu ao longo de sua jornada de sucesso: “Meu estilo de interpretar virou a arte de não interpretar mas, sim, de vivenciar experiências e torná-las reais”.
Passando para alguns assuntos de cunho político, Rainer comenta sobre como é ser um artista no Brasil e disse que a base dessa vivência é se reinventar a cada dia e lutar para fazer o que acredita ser importante para si mesmo e para o público. Dessa forma, o ator explica que através desse posicionamento de renovação existe a possibilidade de inserir a arte em seu devido lugar e com seu real objetivo que é “transformar, ouvir, trazer para as pessoas realidades que às vezes não são vistas de forma concreta”. Com seu lado positivo sempre aflorado, ele fala também que, nos momentos de crise e escassez, há sempre a possibilidade de surgimento de novas ideias e que com o estudo, capacitação, reciclagem de pensamento e ressignificação, uma flor pode surgir em meio ao caos.
O ator discorre que está tentando entender todo esse aspecto político e os caminhos que devem surgir com o corte nas leis de incentivo e desmonte na educação mas afirma que não desanima e que está sempre se questionando sobre a melhor forma de iluminar a vida das pessoas, de analisar o tipo de entretenimento que está levando para suas casas e que dessa forma é capaz de permanecer firme e forte com suas idealizações. Ele fala ainda sobre o comportamento social e que a população não deve desistir, mas sim tentar achar novos caminhos. “Precisamos nos revisitar com essas questões de uma sociedade machista, racista, sexista e internalizar todo aprendizado que podemos adquirir com esses movimentos”, afirma.
Quando conversamos sobre a sociedade e os preconceitos que a assombram, Rainer Cadete diz que as pessoas precisam rever a sociedade, principalmente a retórica e o discurso Conta que o filho Pietro é o único negro na sala de aula e diz que sente que muitas questões ainda precisam ser discutidas, principalmente na escola. Como pai, ele busca empoderar seu filho mas tem noção de que não sabe o que de fato ele vive. “ Sei como é ser pai, mas não tenho na minha pele o que ele sente. Por mais que sejamos iguais, refletindo a mesma sombra, existe uma diferença social gritante, um eco que sofremos até hoje.” O pai do Pietro diz que é necessário estudo e entendimento para que a sociedade caminhe para um aspecto de melhoria.
Comentando ainda sobre essas relações da sociedade, o ator discorre um pouco sobre as redes sociais e destaca seus aspectos positivos e negativos. Para ele, o melhor de tudo é a possibilidade de estar perto do público, ter um contato direto com aqueles que curtem seu trabalho, e também percebe que é uma excelente forma de divulgação, mas levanta o contraponto de que as redes sociais não podem basear a vida de alguém. “É necessário ter equilíbrio, eu absorvo as coisas boas e tento não alimentar angústias que venham a aparecer com as críticas ruins. A vida acontece aqui e não lá. É importante estar presente, com pé no chão, ar no pulmão e olho no olho” , define.
Ainda sobre a sociedade, Rainer falou sobre a geração dos jovens, explicando que hoje em dia, ele percebe que os mais novos são capazes de fazer diferente e trazer novidades para a sociedade, e claro, para o mundo artístico, mas o ator pontua a percepção de que hoje em dia não há muita valorização do aprendizado dos mais experientes e o que têm a oferecer para contribuir com o crescimento pessoal e profissional desses, que estão entrando agora no mercado e na vida. Contudo, diz que esses jovens são capazes de ensinar muitas questões, e dá o exemplo da TV aberta, que hoje em dia está em transição e se reinventando. Cita também a aproximação com os youtubers, que estão chegando para somar. “Essa conexão é importante para ambas as partes. Estamos falando sobre comunicação, então todo tipo de troca é válida, essencial e imprescindível. Não tem como fecharmos os olhos para o novo, hoje em dia as coisas passam por mudanças em uma velocidade muito grande”.
Concluindo, Rainer Cadete brinca que por mais que sua profissão seja artística, seus maiores ídolos são duas mães: a mãe do ator – da qual é eternamente grato a tudo – e a mãe terra. Para Rainer, o universo é capaz de trazer muitas mudanças, sincronicidade e, principalmente, o diálogo, comunicação e aprendizado, comentando que seu trabalho como ator e cidadão não tem fim: “ Através de tudo isso sou capaz de me conhecer e tentar entender a sociedade”. Com um olhar de esperança e uma tatuagem do símbolo de reticências marcado na pele, Rainer diz: “ A vida é um processo que não tem um fim, para mim, nós moramos em nossas reticências mais do que no ponto final.
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