Rafael Saraiva, do Porta dos Fundos, fala sobre crítica à nova novela das 6 e de ter sido vítima de 11 assaltos


Um dos novos nomes da igualmente nova geração de atores, Rafael Saraiva surgiu na cena nacional através do Porta dos Fundos. Agora, o ator enfrenta sua principal batalha que é fazer uma novela na Globo. Ele está no elenco de “No Rancho Fundo”, trama das 18h que irá substituir “Elas Por Elas” e que já está dando o que falar na web sobre estereótipos do Nordeste. O ator dará vida ao poeta Guilherme Thell, o “doidinho da cidade”. Além disso, poderá ser visto no filme “Chico Bento e a goiabeira maraviosa”, sobre o personagem da “Turma da Mônica”, numa peça de improvisação, “Quebra Cabeça”, e figurando entre os artistas focados em fazer graça quando o mundo parece ruir. O ruivo também fala sobre violência e ter sido assaltado 11 vezes e de sua vontade de fazer um projeto para jovens na TV aberta, que para ele é forma de fazer com que esta geração mostre seu talento

*por Vítor Antunes

Um dos sambas do Império Serrano, o de 2002, era uma homenagem ao escritor Ariano Suassuna (1927-2014) e dizia: “Sol inclemente, (…) sopro ardente, árida terra”. A frase, não à toa, introduzia o espectador a uma visão do Nordeste. Ou à visão estereotipada do Nordeste, como alguns pensam. Alaranjado, seco. Sobre essa visão clássica que se tem da região, que também costuma estar nas novelas e filmes, voltou-se uma crítica a “No Rancho Fundo“, trama de Mário Teixeira que sequer estreou no horário das 18h – vai ao ar a partir de 15 de abril, na Globo. Uma fotografia de lançamento e uma vinheta foram suficientes para que as redes sociais acusassem a trama de reiterar estereótipos. Rafael Saraiva, que está no elenco da novela, crê que as críticas são precipitadas: “Claro que essas críticas chegaram até nós, e as pessoas têm essas impressões devido às outras novelas, mas na minha opinião as pessoas precisam esperar. Ela se passa numa cidade pop, diferente do que é habitualmente mostrado. “No Rancho Fundo” tem personagens e ambiente diferentes do que eu costumo ver. As pessoas dão opinião, e compreendo, mas acho que se deve esperar a estreia. A novela trata de amor, de humor, de ascensão e fala mais de beleza que de miséria”.

Rafael Saraiva é jovem, tem menos de 25 anos, e integra e vem de uma experiência no Porta dos Fundos. Muito se fala que os jovens não assistem à TV aberta, que eles não transitam ou se interessam mais por esta plataforma. Há espaço para o jovem na televisão ainda? E fazendo humor? “Cada humor tem sua plataforma, sua qualidade, sua defasagem. Seria interessante se a TV aberta nos desse oportunidade para os jovens construírem uma linguagem disruptiva, mas não nos é dada a oportunidade de saber como essa audiência, que já construiu referências tão claramente [nos aceitaria], ou as pessoas que compõem esse núcleo de humor. É algo que só descobriremos mediante oportunidades, que eu gostaria de ter. Espero que possa acontecer e vai ser o máximo”.

Muitos jovens alegam que não se veem representados em nenhum dos lugares da TV e daí está a dissonância. Mas, a novela “Vai na Fé”, por exemplo, trouxe um tema contemporâneo e a juventude adotou. Eu, sim, tenho o interesse num programa para a televisão – Rafael Saraiva

Após haver participado do “Que História é Essa Porchat?“, Rafael tornou público um fato: E ele foi assaltado 11 vezes. “Acho que agora os assaltantes têm pena [de mim]. Não rolou mais. Nunca mais rolou mais não. E depois muita gente passou a falar sobre isso. Acho que o universo mudou – e claro que isso pode mudar amanhã [e eu tornar a ser assaltado]. Porém, não passei por uma grande tragédia e nada me colocou numa situação de vida ou morte”.

Em “No Rancho Fundo”, Rafael Saraiva dará vida ao poeta ultrarromântico Guilherme Thell (Foto: Sabrina Paz)

 

FÁBULAS, CORES, PORTAS E JUVENTUDE

No Rancho Fundo“, além de uma música famosa, escrita por Ary Barroso nos anos 1920 é o nome da nova novela das seis, escrita por Mário Teixeira. “Esse ambiente de fábula do Mário possibilita uma sensação de que estou fazendo teatro na TV. É um privilégio. Os personagens têm os arquétipos marcantes e isso é um prato cheio para nós, atores. Já que todos são muito entregues às emoções”, diz o ator, que vai interpretar uma releitura do poeta ultrarromântico Guilherme Thell.

Muito se questiona hoje sobre a presença de atores que não têm formação e que chegam às obras dramatúrgicas sem terem passado pela escola de teatro, ou que são influencers ou oriundos das redes sociais. Rafael afirma:

As pessoas mais velhas têm resistências a artistas que vêm das redes sociais e/ou influencers. A rede social e o palco estão conectados. Entendo a rejeição desse movimento quando a transição é feita de forma mercadológica e pouco artística, meramente furando fila por número seguidores. Mas é possível lutar para estar, é super possível vir das redes sociais e ser bem-sucedido

O ator é oriundo da Porta dos Fundos, um dos grupos de comédia mais prolíficos do YouTube. “Com o Porta eu comecei a ser mais ativo e ter uma rotina de produção audiovisual, a ter rotina de gravação, de decorar texto e a viver a indústria. O Porta é o lugar mais criativo, mais engraçado e interessante para um comediante”, elogia. E continua: “O Porta era um sonho de vida. Toda minha formação artística vem de lá. É uma experiência feliz. Sou muito fã dos meus colegas e eles mergulham, estudam… O Porta mudou a minha vida”.

Além do Porta, Rafael estará em cartaz no Tablado com “Quebra cabeça – uma peça que falta“, uma montagem dirigida por Barbara Duvivier e que é um infantil de improvisação, vai voltar ao espetáculo de improvisação “Presentes” e vai lançar o filme “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”, sobre a biografia do personagem da “Turma da Mônica“. “Acho que vai ser um sucesso, pois que é um personagem essencialmente brasileiro”, diz.

Quando iniciamos o texto falamos que hoje há um humor diferente, proposto pelos jovens, que curtem um humor de cotidiano, imediato. Dentre esses jovens talentos, Rafael destacaria alguns. “a Castorine, o Big Jão, o Bruno Ottoni… São pessoas que cresceram com a internet mais viva, com um humor sem personagens marcados, de bordões, de um humor mais direto que não precisa se fantasiar tanto. Um humor desmistificado”. Certo de que para ser ator é preciso, sobretudo dedicação, uma palavra que definiria a sua profissão, a seu ver, seria “arriscado”.

Para Rafael Saraiva, ser ator é ser ariscado (Foto: Sabrina Paz)