*por Vítor Antunes
Decididamente, esta não é a primeira vez que Jacqueline Sato conversa com o Site HT. Da outra ocasião, nos havia apresentado o projeto do programa Mulheres Asiáticas, que agora encerra a sua primeira temporada no Canal E!. A atriz celebra que o programa tenha encontrado acolhimento do público e da crítica. ‘O objetivo do programa era furar bolha e levar essa discussão para ambientes onde, muitas vezes, as pessoas ainda não pararam para pensar a respeito. Então, estou muito feliz que saiu assim. Recebo feedbacks lindos de pessoas que realmente se sensibilizaram com o programa, especialmente as que pertencem ao recorte, e que se abrem. Foram pessoas que, muitas vezes, não haviam pensado sob esse prisma e que seguiam emudecidas ou invisibilizadas, ainda que haja pessoas que falem sobre isso há muito tempo’.
Preparando-se para voltar à televisão, já que seu último trabalho Orgulho e Paixão (2018) já conta com seis anos, ela reflete sobre o impacto de retornar à TV aberta. ‘A TV aberta tem uma visibilidade muito maior e fico pensando que as pessoas vão entrar mais em contato com o meu trabalho através da novela. É lindo ver esse papel na novela e acho bem revolucionária a minha participação na trama’. Jacqueline não apresenta detalhes sobre a personagem, por restrição da Globo. Mas o que se sabe é que a personagem se chama Yuki, mulher de negócios que trabalha com Silvinha (Lellê).
ORIENTE-SE
Não faz muito tempo que a presença de pessoas amarelas tem ocupado as telas, mas nem sempre foi assim. No meado de agosto, entrou para o catálogo da Globoplay a novela O Grito, que foi uma das poucas a trazer uma pessoa com ascendência amarela como um personagem importante, vivida por Midori Tange, uma aeromoça que era contrabandista. Totalmente fora dos padrões que eram conferidos às pessoas desta etnia. De lá para cá, não poucas vezes os amarelos foram retratados com algum desdém ou estereotipação. O que, porém, vem mudando nos últimos anos. ‘Eu vejo que está rolando um movimento, uma melhora. Eu espero que melhore muito mais, mas é importante reconhecer também esses pequenos avanços que a gente já tem’. Ainda que para as mulheres já tenha havido avanços, para os homens ainda há um grande caminho a se percorrer. E muito se deve ao preconceito e a uma leitura equivocada sobre o corpo das pessoas amarelas. ‘As mulheres asiáticas, por anos, foram objeto de hiperssexualização, tanto que isso é uma das coisas mais buscadas em sites pornôs. Porém, fizeram o oposto com os homens, colocados como seres que não têm sex appeal. Amigos meus, atores, falam que em testes dizem não pensar neles, por não serem suficientemente viris, ou seja, através da diminuição dos corpos dessas pessoas. O que é um reforço da lógica racista. É como se o homem amarelo não pudesse ser galã, e que o público não acreditaria que aquela pessoa pudesse ser atraente, o que é terrível. Ainda que isso esteja mudando por conta do K-Pop’
É muito raro haver quem consiga emendar papéis por que há menos oportuniddaes para nós. Ainda que tenhamos a Ana Hikari com um super nome potente, falta um equivalente na ala masculina – Jacqueline Sato
Muito se dizia não haver presença de orientais em papéis de destaque por se dizer que eles não são a cara do Brasil, sendo que por anos mulheres brancas e/ou louras eram protagonistas. “Eu continuo sendo uma pessoa otimista, mas inicialmente eu me cobrava calma, e dizia para mim mesma que o papel ideal chegaria. Mas depois fui percebendo que era preciso algumas mudanças estruturais e que eu deveria começar a agir. Assim como é praticado nos Estados Unidos onde é muito normal muito de ver pessoas atrás das câmeras criando seus próprios projetos fazendo e tendo sucesso. Hoje em dia há um grande movimento de vários produtos feitos com elencos ou inteiros, ou majoritariamente asiáticos e que estão indo super bem comercialmente, inclusive então é uma demonstração do quanto esse público engaja. Já que cria-se, por exemplo, que o público brasileiro não se identificaria e eu acho, sim, que pode gerar identificação com o público nacional, especialmente fora do recorte étnico. Acredito que alguns outros profissionais do mercado já estejam de olho nisso, e eu espero que isso se reflita em mais trabalho, mais oportunidades e coisas boas, trabalhos bons”, pondera.
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