*Por Brunna Condini
Betty Faria volta às novelas em grande estilo após quatro anos. A atriz será Belisa, uma socialite decadente, em ‘Volta por Cima‘, próxima novela das sete da Globo que estreia em 30 de setembro. Na pele da personagem de família tradicional carioca que precisa se reinventar em uma vida sem luxos, e vai tentar ser influenciadora para ostentar na esfera virtual agora, Betty diz o que pensa do universo de ostentação da internet, em que parecer, muitas vezes é mais importante que ser. “Penso que a ostentação provoca um vazio muito grande, porque a pessoa nunca vai estar contente com o que conseguiu materialmente, com o que conseguiu ostentar, porque não é a essência. Aí vem o vazio e isso gera o desespero de ficar mostrando sua vida, suas relações e intimidades. Isso tudo é para ser aceito, ter views e está virando uma doença, porque o interior das pessoas não está sendo cuidado. Por isso vemos tanto ódio, porque ninguém está cuidando de se melhorar”, analisa.
Aos 83 anos e com mais de 60 de carreira, a atriz também reflete sobre os últimos anos: “Na verdade, fico pensando se realmente me reinventei, ou se melhorei como ser humano, e tive mais humildade de começar a aceitar outros tipo de personagens, de trabalhos. Não sei se chamo isso reinvenção ou de melhoramento, entendeu? Porque continuo trabalhando sem parar e, felizmente, as pessoas têm me chamado direto. Estou vindo de Portugal, onde fiz dois trabalhos lindos. Um deles, um filme que está irá para o Festival de Berlim”.
Acho que continuo trabalhando por conta dessa minha disposição e abertura de sair daquela coisa antiga de ‘estrela da TV Globo’, sabe?” – Betty Faria
Ao falar sobre sua personagem no folhetim escrito por Claudia Souto, Betty faz uma paralelo sobre como as classes mais abastadas deveriam refletir mais sobre a realidade. “Belisa teve muito dinheiro e não tem mais. Existe um preconceito em relação aos ricos. Ela e os irmãos Joyce (Drica Moraes) e Gigi (Rodrigo Fagundes), têm uma espécie de preconceito de casta. E tem a maneira como tratam o mordomo da família (Sebastian, feito por Fabio Lago), como um escravizado…é terrível…porque o Brasil parou com a escravatura há pouco, mas não dentro das classes mais altas”.
Vou trabalhando o psicológico, a idade, as mudanças, as ofertas de personagens, os não-protagonismos…tudo isso tem que ser trabalhado. Então, acho que melhorei, porque meu ego está bem mais trabalhado (risos) – Betty Faria
E completa: “Então, acho importante falar sobre isso para evidenciar que a minha personagem e a da Drica foram criadas assim, com essa enorme diferença social, cultural, monetária. Só que, agora, estão sem dinheiro, perdem o chão, todas as referências. Baixam a classe social, mas a tal da casta não baixam nunca, foram nascidas e criadas assim. E isso existe, mas como é retratado nessa novela passa a ser muito engraçado. É bom discutir sobre essas diferenças e sobre como vão ter que se ajustar a esses novos tempos e rever conceitos”.
Valorização da diversidade
‘Volta por Cima‘ está de olho na realidade do país, mais especificamente do subúrbio do Rio, e será protagonizada por Jéssica Ellen, que faz Madalena, a Madá, e Fabrício Boliveira, o Jão, que batalham por uma vida melhor. No mesmo núcleo, dono de uma empresa de ônibus, a Viação Formosa, em que passam os principais personagens da trama, está Edson Bacelar, vivido por Ailton Graça. Além do protagonismo negro, o público amarelo vai se ver representado também na novela, por meio de atores com ascendência japonesa, chinesa e coreana. O próximo folhetim das sete tem elenco diverso, de origens plurais. “É importante globalizar o trabalho. Quando fui convidada para fazer a Belisa e conheci a história da novela, vi a importância desse trabalho nesse momento. Porque com a extrema direita neofascista entrando no mundo da maneira que está entrando, e o neofascismo é contra pretos, contra judeus, gays, velhos…a TV Globo colocar mais uma vez protagonistas pretos em uma novela, além de tantos outros personagens interessantes e diversos também. É algo fundamental, inovador e me sento muito bem de abraçar esse projeto. É revolucionário”.
Acredito que atrizes e atores têm sempre que estar situados politicamente. Temos que cuidar, dominar os nossos egos para situar a obra politicamente – Betty Faria
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