* Por Carlos Lima Costa
O ano de 2020 tem sido dificílimo com todas as mazelas provocadas pela Covid-19 e a consequente quarentena a que todos se viram submetidos. O ator Stênio Garcia nutre este pensamento, mas com um elemento a mais. Afinal, em março, ele viu ser rompido o vínculo profissional com a Globo, após 47 anos de memoráveis personagens. “Para mim, 2020 é o ano que não existe, que não existiu, não vai deixar boas lembranças. Minha vida sempre foi o trabalho. Quando não trabalho, não existo. Isso significa quase a morte. Mas não tenho medo da morte, eu a desafio, vou tocando a vida”, reflete o artista em tom de lamento sobre o desfecho dessa história que começou a dar errada a partir de 2013, quando deixou de ser escalado para as novelas.
“Ultimamente eu estava na geladeira. O Silvio de Abreu proibiu os autores de me escalarem. Me tirou a carreira, o trabalho. Nem por isso vou processar a Globo, onde construí minha trajetória. Mas não vou falar dele, pois não quero lhe dar uma importância”, pondera. A percepção do que estava acontecendo o levou a prostração. Assim, ainda em 2015, por ordem de um neurologista começou a fazer uso de um antidepressivo em pequena dose. “O médico disse que eu tive um início de depressão, mas não tenho essa cultura da depressão, isso é coisa de gente chique, rica, eu sou apenas um matuto. Mas uso essa substância que me tranquiliza e melhora o meu abatimento, a minha tristeza por não ser mais escalado”, revela.
Ao lado da atriz Marilene Saade, sua mulher há 22 anos, ele vem se preservando em quarentena na casa deles na Zona Oeste do Rio, onde vive com o que recebe de aposentadoria. “Durante um tempo ganhei bem, juntei dinheiro, dei mesada para as minhas duas filhas, paguei estudo para um sobrinho, ajudei meu irmão. Era o provedor da família. Mas hoje não ajudo mais ninguém, minha reserva toda foi embora”, admite.
Stênio vai celebrar 60 anos de televisão em 2021. “Realizei grandes trabalhos”, diz. Enquanto relembra as novelas O Rei do Gado, A Padroeira e O Clone, além da minissérie Hoje é Dia de Maria, ele aposta em um recomeço durante a data festiva. “Gostaria de ter uma exposição sobre a minha trajetória, mas o mais legal será comemorar em grande estilo, atuando na minha profissão, naquilo que sei fazer”, assegura.
“Foi só deixar a Globo que os convites surgiram”, festeja Marilene. Desde que perdeu o vínculo com a emissora da família Marinho, ele recebeu convites para participar de três filmes, do seriado Sessentinha, da Amazon, e para a peça Eu te amo.com.dr, de Cazé Neto. Nada se concretizou ainda por conta da quarentena. Disposição não lhe falta. “Enquanto não tiver uma vacina para este coronavírus, acho difícil algo acontecer. Vou permanecendo em casa, pois não quero ficar doente. Não vou dar sopa. Mas continuo o mesmo, não mudei nada. Estou cheio de energia”, afirma o ator.
Enquanto segue a risca a sua quarentena, ele se distrai mexendo com a terra, plantando. E, se cuida com uma boa alimentação e exercícios diários. “Minha saúde está perfeita, tenho habilidades físicas, porque me exercitei bem a vida inteira. Até hoje ainda planto bananeira. Vejo pessoas da minha idade acabadas, mas eu, fisicamente, tenho vigor de um homem de 75 anos”, se orgulha aos 88. E brinca ao falar do amigo Antonio Fagundes, com quem brilhou no seriado Carga Pesada, onde interpretaram os caminhoneiros Pedro e Bino. “Ele é 17 anos mais novo, mas, às vezes, me sinto mais jovem do que ele devido a atividade física. Sempre trabalhei muito este lado”, diz, às gargalhadas.
Outro fator que ajuda a manter Stênio ativo é Marilene, 36 anos mais nova que o marido. “Ela tem uma alegria de viver espantosa, uma alma maravilhosa. Há 22 anos, acho que suguei algo dela, tanto que vive dizendo que eu sou a criança. Fazemos um monte de birutices juntos. Somos que nem crianças”, se derrete. “Foi um encontro de almas. Ele é o meu Sol. Nosso amor cresce sempre absurdamente. O dia que ele morrer eu vou junto, pode ter certeza. Sem o Stênio não fico”, devolve ela.
Na quarentena, Stênio desenvolve ainda mais outro hábito: A leitura. “Às vezes, leio 2, 3 livros ao mesmo tempo.” Entre os últimos, A Garota do Lago e Uma Mulher na Escuridão, ambos escritos por Charlie Donlea. Mas ao contrário de outras personalidades veteranas como Renato Aragão, 85, Ary Fontoura, 87, e Cid Moreira, 92, que estão ativos nas redes sociais, ele não se arrisca. “Para essas coisas não tenho saco e sou tímido. Também não sei mexer, nunca quis aprender”, confessa. E com a proximidade das eleições, admite também que hoje em dia “não tem mais vontade de votar”.
Artigos relacionados