‘Qualquer semelhança com a realidade da política brasileira não é mera coincidência’, diz Bruno Padilha

*Por Simone Gondim

Violência e corrupção são os principais ingredientes da série “Arcanjo renegado”, que tem dez episódios e já está disponível no GloboPlay. Elenco e direção estiveram ontem no Xian, no Bossa Nova Mall, para o lançamento da primeira temporada, centrada na história de Mikhael Afonso, líder da equipe Arcanjo, a mais bem treinada, eficaz e letal do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Marcello Melo Jr. é o protagonista, um agente incorruptível e traumatizado ainda na infância pela morte do pai, também policial, assassinado quando fazia um trabalho extra como segurança de supermercado. “Pedi para não me envolver tão intensamente com o personagem, não ficar naquela tensão o tempo inteiro, e levar como um desafio”, lembra o ator.

Marcello garante não ter sido difícil lidar com outras duas facetas de Mikhael: violento e implacável. Ele acredita que a série pode trazer uma nova etapa de diálogo em relação a posturas agressivas como as de seu personagem. “Por ser negro, de comunidade, e fazer um policial, vejo que tem uma questão muito mais profunda do que ser pela cor. É pela ignorância das pessoas. E a arte pode transformar isso”, afirma o ator. “É importante dialogar para unir esses universos e saber entender e respeitar os dois lados”, acrescenta.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Na ficção, Marcello comanda um grupo de 15 pessoas – 14 delas não são atores, são integrantes do Bope. “Poder observar o jeito como eles se comportam e falam no dia a dia foi importante”, afirma ele. Embora a troca com os policiais da vida real tenha sido muito rica, Marcello ainda tem seus incômodos. “Não mudou muito a minha forma de pensar sobre a polícia, a questão da comunidade e a questão do negro, mas me fez entender que a deficiência maior é política. Quem está acima na hierarquia segue interesses pessoais e manda seres humanos fazerem o trabalho sujo”, explica.

Alex Nader, que faz o sargento Rafael, policial da equipe Arcanjo que é um dos melhores amigos e cunhado de Mikhael, comenta que essa interação com os agentes da vida real ajuda a compreender melhor a realidade dos policiais. “Eles estão cumprindo ordens. O contexto que gera essas ordens é que deveria ser o ponto de discussão. Ser policial no Rio de Janeiro é o resultado errado de uma forma de administrar o poder público”, acredita Alex.

Além do contato direto com os agentes que formaram a equipe Arcanjo, todos os intérpretes de policiais na série foram preparados pelo major Ivan Blaz, que passou dez anos no Bope. O treinamento envolveu atividade física intensa, bem como aprender a segurar, montar e desmontar a arma, atirar e se posicionar corretamente. Dani Suzuki, que vive a capitã da PM Luciana, revela que, no começo, ficou um pouco assustada. “Já comecei com fuzil. Era muito pesado. No início, tinha medo de fazer os movimentos e atirar sem querer”, recorda ela. “Mas, depois que eu dominei, comecei a gostar. Tenho ótima pontaria”, revela.

Já Leonardo Brício, que interpreta Gabriel, comandante-geral da PM, confessa que a preparação não foi fácil. “Comecei ralando muito. Entender arma, entender comando, como a equipe se movimenta. Mesmo tendo poucas cenas de ação, era importante, porque meu personagem já foi comandante do Bope”, diz ele.

A corrupção na política é outro ponto forte de “Arcanjo renegado”. E, na série, Flavio Bauraqui está atolado em falcatruas até o pescoço: ele é Barata, chefe de gabinete de Custódio Marques, governador do Rio de Janeiro na trama criada por José Junior. “Esse personagem tem uma forma de olhar a vida completamente diferente da minha. Para ele, vale qualquer coisa para conquistar o que quer. O Barata representa a falta de amor ao próximo e alguém que sobrevive no caos político, onde todo mundo fura o olho de todo mundo”, explica o ator.