Protagonismo e empoderamento feminino marcam a carreira de Pathy DeJesus que, somente este mês, pode ser vista em três séries diferentes, com foco em discussões essenciais


Desnude, do GNT, Rua Augusta, da TNT, e Rotas de Ódio, do Universal Channel, falam sobre liberdade sexual, direitos de trabalho e discriminação, respectivamente. A musa ainda soltou o verbo sobre política e analisou o sucesso de sua carreira. “Quando eu fiz 13 anos, meu pai me explicou qual o meu valor, como mulher negra, em uma sociedade patriarcal e machista”, disparou

*Com Julia Pimentel

A hora e a vez das mulheres. Desde janeiro, escutamos discursos empoderados no Globo de Ouro, Oscar e muitos outros eventos, vimos meninas de um colégio privado no Rio de Janeiro lutando por igualdade dos uniformes e lamentamos o assassinato da vereadora do PSOL, Marielle Franco. Várias mulheres fizeram e continuam fazendo a diferença e, entre elas, está a atriz Pathy DeJesus que neste mês estreia em três séries de canais diferentes da TV fechada em papéis que dão voz ao gênero. Os projetos colocam luzes sobre grandes tabus da sociedade como desafiar padrões, liberdade sexual, racismo e direitos humanos.

Pathy Dejesus estreia em três séries somente neste mês (Foto: Lu Prezia)

“A representatividade é muito importante, porque se eu não me vejo eu me anulo. 54% da população do nosso país é negra e se eu ligo a TV e não vejo ninguém parecido comigo a impressão que temos é que não existimos. Acho maravilhoso estar representando esta comunidade, mas isto é só um ponto de partida, porque ainda acho que precisamos de equiparidade. Além disso, este exemplo não tem que ser só na mídia. Precisamos ver mulheres como eu fazendo parte de ONGs, estudando dentro de universidades e muitos outros para que o povo possa ver que é possível”, afirmou a musa. Cheia de engajamento e força, ela estreia neste primeiro semestre com Desnude, da GNT, Rua Augusta, da TNT, e Rotas de Ódio, do Universal Channel, e a partir do meio deste ano ela aparece em Desencontros.

Site Heloisa Tolipan: Rua Augusta estreou no TNT no dia 15 de março e, nesta série, você interpreta uma garota de programa chamada Nicole. Como foi fazer uma personagem que é possível de existir em um cenário atual?

Pathy DeJesus: Personagens são sempre complexos. Tudo é ficção, mas quando se trabalha mais próximo da realidade, como é o caso da Nicole, fica um pouco mais complicado. Tem pessoas que tem uma rotina parecida com a dela e possuem o mesmo trabalho que ela, são garotas de programa e strippers. A gente quer se dedicar o máximo possível de forma que o papel seja crível, não quero que vire estereótipo ou rótulo raso.

HT: A sociedade atual está caminhando, cada vez mais, para o empoderamento feminino. Mesmo assim, a personagem da Rua Agusta acaba levando uma vida dupla e escondendo para o namorado e a família a sua real fonte de renda, pois na série ela mente para eles dizendo que trabalha com telemarketing. Na sua opinião, isto acontece porque ainda há um tabu em torno da prostituição? Acha que ser garota de programa ainda deixa as pessoas chocadas na nossa sociedade?

PD: No caso dela, acho que usa a mentira para ter uma espécie de ‘Green Card’ dentro da cidade. A Nicole é prática, acho que não veria problema de falar que é uma cortesã. No entanto, ela mente para tornar o cenário mais fácil para ela, porque não quer ninguém falando no seu ouvido ou ter que dar satisfação. Mas é claro que ainda é um tabu, afinal, chamar a pessoa de prostituta é um xingamento.

HT: Já em Rotas de Ódio, da Universal Channel, a história é voltada para o assassinato de sua personagem, que é uma mulher da periferia que sofre constantes abusos. A partir disso, a temporada discorre sobre crimes de ódio. Qual o papel social deste trabalho?

PD: Nós, do elenco e equipe, batizamos está série como um produto necessário. Isto porque estamos vivendo um momento no qual a intolerância chegou ao ápice. Em contrapartida temos pessoas que estão se posicionando para combater isto. O crime de ódio, no Brasil, acontece de uma forma mais frequente do que imaginamos e por motivos insignificantes como a cor da pele, a orientação sexual, o time de futebol ou a religião. Isto assusta porque ninguém é igual a ninguém e, na cabeça do agressor, você precisa sofrer pela sua diferença. A nossa legislação não atua de uma forma eficaz contra este tipo de delito e quem pratica a infração se sente quase intocável. Esta dramaturgia vem denunciar isto de uma forma corajosa, acho que o público vai, no mínimo, parar para pensar sobre o tema. É um soco no estômago.

HT: Por ser um tema tão forte e necessário, como foi a preparação para este trabalho?

PD: Foi intensa e falo por mim quando digo isto. Tínhamos o nosso lado oprimido e o opressor e todos se dedicaram muito para isto. Esta preparação foi essencial para a profundidade e seriedade do projeto. O nosso objetivo era que as pessoas se sentissem impactadas e acho que conseguimos isto, todo mundo está atuando de forma brilhante. Tivemos a oportunidade de assistir o primeiro episódio e foi muito comovente.

HT: Acha que a evolução tecnológica e globalização acabaram intensificando a quantidade de crimes de ódio, deixando estas palavras, atitudes e julgamentos mais banais e comuns?

PD: Em termos de mídias sociais, acho que a internet somente potencializou um sentimento que já tínhamos há muito tempo. Sendo assim não acho que as tecnologias deixam as pessoas piores, na verdade, as mídias deram voz a algo que sempre existiu. Antes, a galera tinha algum filtro para ofender, afinal, tínhamos que dizer na cara do outro e cada ação gera uma reação. Agora, atrás de um computador todo mundo fica mais forte e valente devido à certeza da impunidade.

HT: Você é a favor de se posicionar na internet?

PD: Vejo muita gente do bem se aproximando e lutando, todo mundo está junto pedindo por mudança.  Pessoalmente, acredito que estamos vivendo um momento no qual a intolerância chegou ao ápice e por isso sinto que preciso me posicionar. O planeta está passando por um momento de branco e preto, em cima do muro não rola mais. Isto é bom e ruim, porque sabemos com quem estamos lidando. O inimigo está dando as caras.

HT: Você está em um momento muito especial da sua carreira na qual aparece em três séries de canais diferentes: Desnude, Rua Augusta e Rotas de Ódio. Acha que este produto audiovisual está abrindo novas portas para os atores?

PD: Acho que a linguagem está mudando, estamos tendo formatos diferentes. A série era um produto incerto até pouco tempo e hoje é um sucesso. As pessoas não precisam acompanhar com o mesmo ímpeto de uma novela, porque este material te deixa mais livre. A prova disso é que as emissoras estão dando novas oportunidades para os espectadores para assistir ao conteúdo. A grande peculiaridade do gênero é a proximidade com o cinema, algo que me atrai muito e pretendo fazer.

HT: O conteúdo destas três séries, que você faz parte, fala sobre o empoderamento feminino. Acha que é o assunto do momento?

PD: Acho que a gente acaba atraindo o que nós acreditamos, mas tenho medo de falar que é o momento deste tema, porque isto me sugere algo passageiro.  Acho que nós finalmente acordamos. Não acho que é o caso, na verdade, é um processo, não tem volta. Estamos traçando um caminho evolutivo lento e rápido, dependendo da situação. Acho que as mulheres finalmente entenderam que unidas nós somos mais fortes e isto já deixou de ser discurso.

 

A atriz é símbolo de representatividade feminina(Foto: Lu Prezia)

HT: De acordo com a realidade da mulher brasileira, qual o seu sonho para o futuro do gênero no país?

PD: O meu sonho para o futuro é uma utopia, mas acho que estamos no processo. Nós queremos chegar a um ponto de igualdade. Já provamos que somos tão inteligentes ou mais que os homens, mas ao mesmo tempo não vemos oportunidades iguais de emprego e de salário. Esta conta não está batendo.

HT: Depois de quatro anos de um governo instável e um impeachment, 2018 acabou sendo um ano muito aguardado pelos brasileiros. As novas eleições para presidente são um sinônimo de esperança para muitas pessoas. Como cidadã, quais são as suas expectativas?

PD: Não fiquei esperando 2018 chegar para mudar, as eleições deste ano são apenas uma continuação de 2017. Não sou uma pessoa alienada ao que está acontecendo ao meu redor, graças à educação dos meus pais que sempre me mostraram o meu lugar na sociedade. Quando eu fiz 13 anos, meu pai me explicou qual o meu valor, como mulher negra, em uma sociedade patriarcal e machista. Por isso sempre tento fazer mais pelas pessoas e busco crescer sem atrapalhar o próximo.