Professora Helena, de Carrossel, a atriz Rosanne Mulholland revive sucesso com reprise da novela na Netflix

* Por Carlos Lima Costa

Protagonizada por Rosanne Mulholland, a eterna professora Helena, a novela Carrossel, um dos maiores sucessos do SBT, onde foi exibida durante 14 meses entre 2012 e 2013, vem atraindo uma nova geração de crianças desde o mês de julho quando foram disponibilizados na Netflix os 310 capítulos da trama que mostra o cotidiano de uma sala de aula, além das narrativas pessoais dos alunos vividos por nomes como Larissa Manoela e Maísa. “Foi um grande sucesso e agora está voltando todo burburinho. Lembro sempre com amor. Essa personagem teve realmente um alcance muito grande, as pessoas tem imenso carinho por ela e eu recebi um retorno bem especial. Foi um trabalho intenso, único e gostoso de fazer até por ser infantil e com tantas crianças. Eu fiz trabalhos no cinema, ganhei prêmios, tive outro reconhecimento, mas no sentido de conquistar o público, a professora Helena é campeã. Foi minha personagem de maior alcance popular. Ainda tenho um retorno muito grande. O que me assusta só é o tamanho atual das pessoas (risos) que eu marquei a infância”, pontua ela, cujo trabalho mais recente na TV foi a vilã Lara, em Malhação: Toda Forma de Amar, exibida até abril de 2020. Carrossel ressurge em um momento deferente de vida de Rosanne que, em plena pandemia, estreou como autora, com o livro infantil Para Onde Foi Meu Coração? e se tornou mãe de Davi.

Com toda preparação que teve na época para representar a professora, antes das gravações começarem, há quase dez anos, no final de 2011, Rosanne dá sua visão sobre a situação da educação no país. “Infelizmente o ensino no Brasil está bem longe do que a gente gostaria e os professores muito desvalorizados. Isso é muito grave. Eu falava sobre isso quando fiz a professora Helena. Esperava que de alguma forma esse carinho que tinham pela personagem se estendesse para que as crianças valorizassem seus professores que são tão importantes para a nossa educação e desenvolvimento, para quem a gente vai vir a ser quando adulto e profissional”, observa ela, que teve uma mestra como Helena em sua vida. “Foi a Iécimim, a professora que me alfabetizou. Ela foi muito especial, era carinhosa, me incentivava a participar das apresentações da escola, a ler. Tudo que eu gosto de fazer parece que começou ali com ela”, relata Rosanne, que ainda não conseguiu parar diante da TV para rever sua marcante personagem.

“A professora Helena, de Carrossel, foi minha personagem de maior alcance popular”, frisa Rosanne (Foto: Vinicius Mochizuki)

Em isolamento social, a atriz, aos 40 anos, está voltada para os cuidados do filho, Davi, de 1 ano, fruto de seu casamento com o ator Marcos Veras, o policial Domênico, de Pega Pega, atual reprise das 19 horas, na Globo. “Acho que vou assistir Carrossel com o Davi, quando ele tiver maiorzinho (risos). É bom ter um trabalho meu que ele possa assistir, vai ser bem legal”, frisa ela, que no cinema atuou em filmes como Nome Próprio, Falsa Loura e Bellini E O Demônio.

Quem era e quem é Rosanne após a maternidade? “Que pergunta profunda! A Rosanne mãe é essa que tem agora outra prioridade na vida (risos). Mudou tudo, o centro, o foco. Confesso que ainda estou descobrindo quem é essa nova mulher. Ainda não encontrei o equilíbrio entre a mãe, a profissional e a mulher. Ainda está tudo meio bagunçado”, avalia. Por enquanto, inclusive, a atriz não tem previsão de retornar ao batente. “Ao mesmo tempo que tenho vontade de voltar a trabalhar, me aperta o coração ficar longe dele. É um paradoxo, mas, enfim, em algum momento vai ter que acontecer. Por causa da pandemia muita coisa também ficou parada. Até isso complica. Agora, nesse momento, preciso de um trabalho que me dê condições de estar minimamente perto para cuidar do meu filho ao mesmo tempo que exerço a minha profissão”, diz ela, que vai tomar a segunda dose da vacina contra a Covid, em setembro.

Marcos Veras e Rosanne Mulholland com o filho Davi (Foto: Reprodução Instagram)

Quando Rosanne descobriu que seria mãe, o mundo já vivia em isolamento social. Assim, viveu um processo complicado diante da atual realidade. “Tinha muitos sonhos e planos para a gestação, que foram frustrados, porque não podia sair, nem fazer nada. Isso mexeu bastante comigo. A gente fica muito sensível nessa fase. Não sabia nada sobre esse universo de bebê, queria sair, ver o que tinha, o que podia comprar, o que era necessário e aí saí uma vez, depois nunca mais. Tive que fazer tudo pela internet. Ao mesmo tempo, não posso reclamar, porque não faltou nada para a gente. Mas era muito tenso sair para fazer a ultrassonografia, especialmente no início que a gente não tinha nenhuma noção do que estava acontecendo”, relembra.

Além de tenso, foi um processo quase solitário. “Boa parte da minha família mora fora do Rio de Janeiro. Meu irmão e meu sobrinho, por exemplo, só conheceram meu filho agora quando ele fez um ano. A única pessoa da minha família que me viu grávida foi a minha mãe. Claro, tive todo apoio do Marcos, ficamos grudados, unidos, isso foi bom. Arrumamos o quartinho, pintamos a parede, colamos adesivos. Fizemos tudo para que ninguém viesse aqui em casa. Minha mãe ficou superfrustrada porque não pôde ir na maternidade. Somente o Marcos foi, ele, inclusive, cortou o cordão umbilical. A gente teve que contar muito um com o outro nesse período. Ele é um papaizão superapaixonado pelo Davi. Estamos muito unidos nessa missão de criar o nosso filho”, acrescenta.

Rosanne com seu livro infantil Para Onde Foi Meu Coração?, que marcou sua estreia como escritora (Foto: Divulgação)

Entre a novela Carrossel e a gestação, Rosanne desenvolveu outra vertente artística. Ela escreveu seu primeiro livro Para Onde Foi Meu Coração?, lançado somente esse ano. “Sou formada em Psicologia, fiz estágio na clínica da faculdade com crianças. Se tivesse seguido por esse caminho, teria escolhido atendê-las. Já dei aula de inglês para crianças, sempre gostei muito delas antes mesmo da professora Helena. Era para ter sido lançado ano passado, mas veio a pandemia, então, só mudei a dedicatória”, explica ela que já tem rascunhos, mas nenhum outro texto pronto ainda.

O livro fala de um menino que compartilha com o leitor a experiência do luto ao perder a avó. “O luto é mostrado de forma lúdica sem negar como é difícil passar por esse processo”, conta. A obra surgiu de uma experiência pessoal. “Tem muito da minha avó Edith. Eu o escrevi pouco depois que ela morreu no começo de 2016. Ela foi importante na minha vida, na infância especialmente. Eu a admirava muito”, revela.

“Confesso que após a maternidade, ainda estou descobrindo quem é essa nova mulher. Ainda não encontrei o equilíbrio entre a mãe, a profissional e a mulher”, explica Rosanne (Foto: Vinicius Mochizuki)

Quando lançou sua obra, ela realizou live na internet e percebeu a participação de antigos fãs de Carrossel. “Muitos já são adultos e estão sempre ali me acompanhando em tudo, é bem legal”, observa. Uma espécie de susto também levou quando foi filmar o segundo longa-metragem da franquia da novela, Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina, lançado em 2016. “Tinha feito uma novela com crianças e comecei a filmar com adolescentes. Então, a professora Helena tinha que mudar alguma coisa, porque não dava para tratar da mesma forma. E agora eles já são adultos, meu Deus do Céu”, diverte-se. O elenco ainda mantém contato. “Como a gente mora em cidades diferentes ficou difícil de manter esse vínculo tão forte. Mas tenho o contato deles, eventualmente a gente se fala ou até se encontra em algum evento, e se trata sempre com carinho. Fiz amigos ali, tenho muito carinho por aqueles atores”, afirma Rosanne, que descobriu o desejo de ser atriz por volta dos 12 anos de idade. “Comecei a fazer aula de teatro e não consegui mais parar. Mas tive dúvidas depois, tive umas crises perto do vestibular, tanto que eu fiz Psicologia, mas fiz apenas estágio nessa área”, explica a atriz, que aguarda o lançamento do filme A Espera de Liz, dirigido por Bruno Torres, ainda sem previsão de estreia.