*Por Brunna Condini
Uma coletiva para lançar uma série de humor em plena pandemia do Coronavírus só podia acontecer online e com leveza na abordagem mesmo trazendo temas difíceis para a roda, como o machismo. E foi exatamente neste clima que aconteceu na manhã de quarta-feira, o lançamento da segunda temporada da série “Homens?”, com estreia agendada para a próxima terça (14), no Comedy Central, às 22h. Fábio Porchat, criador, ator e um dos roteiristas do projeto, mediou e respondeu perguntas entre atores, diretores e os 45 jornalistas que estavam com eles em videoconferência via aplicativo Zoom.
“Tenho muita aflição de não conseguir ver as pessoas, mas vamos lá. Estou me sentindo naquele quadro “Jogo da Velha”, que tinha no Domingão do Faustão. Não parece, gente? Com todas essas carinhas na tela e sem poder ver o outro? ”, brincou Porchat. Da reunião permeada por boas risadas e papo bom participaram também os atores Rafael Portugal, Gabriel Louchard, Miá Mello, Giselle Batista, Lorena Comparato, Lua Blanco, além de Gigi Soares, que dirige a série ao lado de Johnny Araújo, e também Tiago Worcman, vice-presidente da Viacom International Media Networks (VIMN) Américas, responsável pelo Comedy Central, que falou direto de Miami, onde mora com a mulher, Carolina Dieckmann: “Estrear durante essa quarentena global demandou um esforço enorme nosso, quando tanta coisa está sendo cancelada. Ao mesmo tempo está todo mundo em casa e nós queremos oferecer um produto de qualidade”, garantiu Tiago.
Porchat completou entrando no enredo da nova temporada, que vai continuar acompanhando as aventuras de Gustavo (Gabriel Godoy), Pedrinho (Raphael Logam), Pedro (Gabriel Louchard) e Alexandre (Fábio Porchat), que se sentem perdidos a medida que o mundo se reinventa e as mulheres se empoderam, precisando desconstruir o próprio machismo. E, além disso, vão protagonizar novas discussões em torno de temas como traição, preconceito, machismo e aborto, já que na trama atual, terão que lidar com a gravidez de Natasha (Giselle Batista), que não é namorada de nenhum deles, mas se relacionou com todos na primeira temporada.
“O espaço de tempo de uma temporada para outra é de um ano, mas na série é de um dia. Então, os personagens não mudaram nada, têm as mesmas indagações. Terminou a primeira, com a personagem da Giselle (Batista), a Natasha, dizendo que estava grávida e não sabia quem era o pai”, lembra Fábio Porchat. “Então, desta vez um dos temas abordados é o aborto e os dois episódios foram escritos por roteiristas mulheres. Claro que é um desafio fazer rir através de um assunto tão sério como o aborto, mas fazemos rir na série, por exemplo, da ignorância a respeito do tema”.
O idealizador da produção revelou ainda, que quando criou a série tinha o pensamento truncado de achar que para fazer algo sobre homens, tinha que ter uma equipe prioritariamente masculina. “Agora tenho uma equipe também feminina, que sabe das coisas masculinas e vice-versa. Era um preconceito da minha cabeça. Então, ter a Gigi Soares na direção e a roteirista Juliana Araripe, mais o elenco feminino, e elas falarem sobre o universo masculino, tem sido muito importante”, admite Fábio.
Ele fez questão de salientar que nenhum assunto é tabu na série, que vai abordar também a liberdade sexual, relacionamentos abertos e até brochadas. “São temas atuais e recorrentes. Fazemos humor, mas com respeito aos assuntos que são delicados para muitos. Não é uma “lacromédia”, não queremos lacrar, queremos fazer rir”, avalia. “Falamos do machismo do lugar do homem, para que eles entendam que não existe essa da mulher chata falando do feminismo. Tem coisas que todos precisam desconstruir. É tipo dar remédio para cachorro, quando misturamos na comida. Estamos dando um remédio, embalando na comédia. Não queremos dar aula, só colocar o remédio no meio da comédia”.
Após a coletiva, Fábio Porchat continuou conversando com o site, e ressaltou a importância de abordar sempre, e cada vez mais, o tema central de “Homens?”, o machismo.
Quando você foi mais machista? “Provavelmente durante a adolescência e no início da vida adulta. Não se falava muito disso, pelo menos no meu entorno. Essa é a importância de termos representatividade das mulheres falando o que elas passam, porque a gente vai se tocando e aprendendo. Então, me desconstruir é também ouvir as pessoas ao meu redor”, admite. “Sou de uma família cheia de mulheres, tem minha mãe, três irmãs, tia, avós, então parei para ouvir e prestei mais a atenção. Então, quanto mais isso é falado, melhor”.
Porchat está em casa com a mulher, Nataly Mega, e conta que, apesar das incertezas do momento, tem tido dias bem produtivos. “Tenho escrito muito. E também criado alternativas junto com a equipe do Porta dos Fundos, pensando formas de gravar agora. Tem sido produtivo mais para criação, escrita e consumo, porque estou assistindo muitos filmes, séries e tenho conseguido ler”, diz. “Estou o tempo todo em casa, confinado, com minha mulher. Só saio para ir ao mercado. Minha rotina tem sido de muito trabalho, reuniões, lives, e muita escrita”.
Como está trabalhando suas apreensões com o período? “O que mais mexe comigo agora é pensar no futuro das pessoas que vão perder seus empregos, que não têm o que comer, como pagar a sua vida. Estou me juntando as várias campanhas, já doei dinheiro. Estou apreensivo sobre como será o futuro das pessoas e isso tem me deixado mal”, confessa.
Como ficou o Que História é essa Porchat?, as gravações pararam? “Já foram ao ar os quatro episódios inéditos que a gente tinha gravado, então não tem mais material inédito, porque paramos. O que fizemos e já estamos colocando no ar, foram oito episódios, para abril e maio, em que pegamos histórias dos 20 programas que passaram e juntamos por temas. Começamos esta semana, por exemplo, com histórias de terror, de anônimos e famosos, e juntamos em um programa só. Vamos ter histórias de amor e sexo, de trabalho, do que “deu ruim” e também vamos juntando inéditas que não foram ao ar porque não deu nos programas anteriores. Está funcionando bem”.
Que coisas deseja fazer assim que o isolamento for liberado? “Vou ao cinema, depois vou a um restaurante, comer bem, e também sentar com meus amigos em um bar, tomando chope e dando muita risada”.
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