*por Vítor Antunes
Ainda nascida na Bahia, a brejeirice de Priscila Fantin vem toda de Belo Horizonte, cidade na qual foi criada e com a qual se identifica. A atriz fez todo tipo de papel na televisão – desde uma sofredora italiana em “Esperança” a uma paulistana fútil em “Sete Pecados“, mas dois deles foram definitivos: A índia Serena de “Alma Gêmea” e a estudante Tati, de “Malhação”. Coincidentemente ou não os dois trabalhos voltaram ao ar praticamente juntos: “Alma” na Globo e “Malhação”, no Globoplay. A primeira, especialmente, tem uma audiência muito considerável, isola a Globo na liderança e puxa um índice muito bom para a novela que vem na sequência, “No Rancho Fundo“. Priscila, porém, não problematiza ver a si depois de tanto tempo: “Malhação” tem 25 anos e “Alma Gêmea“, quase 20 anos. São antigos mesmo e é muito gostoso me ver. Ver quem eu era nesses dois momentos da minha vida, ver como eu me jogava para fazer aquilo que estava proposto a ser feito. Eu fico muito orgulhosa daquela Priscila que está ali, muito jovem. É muito bom, eu fico sempre muito feliz quando tem alguma reprise ou quando fãs de outros lugares do mundo que as novelas passam, quando estão passando em outros lugares eles me mandam cenas, eu adoro ver”.
“Alma Gêmea” está na quarta reprise. É a segunda no Vale a Pena Ver de Novo, além de também haver sido reapresentada no Viva e de sua transmissão original. Para Priscila, muito se deve ao fato de a novela ser um dos projetos mais bem sucedidos de seu autor, Walcyr Carrasco. “Trata-se de uma obra-prima, um fenômeno. A novela com maior audiência da história do horário das seis. Creio que sempre que ela passar, vai ser benquista, bem assistida pelo que ela é como um todo. Walcyr é um excelente maestro dos seus personagens. Todos são bem desenvolvidos, com suas características, com suas tramas, e núcleos interessantes. Os personagens têm cor, tem cheiro. Fora isso, ele trata de um tema que a gente vivencia. Na época que passou, eu recebi muitas mensagens, e hoje recebo também, de pessoas dizendo que a trama acalentou esses telespectadores num processo em que as pessoas estavam vivendo. É uma novela que é um abraço”, destaca.
Além da trama, Priscila fala sobre dialoga com a depressão. Doença com a qual convive há muitos anos.
A depressão é crônica, não tem cura. A gente tem que ficar sempre cuidando mesmo. Eu lido com ela diariamente, eu lido com ela com atenção, com carinho, com paciência. Tem que entender, respeitar, entender os processos, entender que às vezes existem déficits químicos, fatores climáticos, hormonais, enfim, tem muitas coisas que influenciam. É uma doença muito complexa. A importância de falar sobre isso é que as pessoas que têm depressão não gostam de ter depressão. A gente não tem um raio-x, uma ressonância magnética para mostrar a dor que a gente sente ou o vazio que tem dentro da gente. Então, o que normalmente a gente tem é uma dor existencial. Não existe um exame que a gente mostre isso para as pessoas entenderem, então, é muito complicado a gente falar sobre a nossa doença. É importante dar as mãos – Priscila Fantin
Paralelamente a isso, a atriz está retomando suas origens nordestinas em “Partiu América“, filme da Netflix, que performou muito bem na plataforma “Trata-se de uma comédia leve e que tem emoção. Ficamos uma semana em top 1 no Brasil; uma resposta do público que foi além das nossas expectativas! Eu me diverti muito fazendo a Maria Caranguejo, claro, mas quis imprimir um tom mais sereno à mulher nordestina do que estamos acostumados a ver nas comédias comerciais, quis fugir do caricato. Sou baiana, Matheus cearense e tanto Rodrigo César o diretor, quanto Cadu Pereira, o roteirista, são pernambucanos. Já o sotaque da minha personagem é uma misturinha, com uma cadência única criada através do estudo psicológico e emocional da personagem, a partir de suas falas escritas”.
TODO AZUL
Um dos temas de “Malhação” (1999), quando Priscila Fantin estreou foi “Todo Azul do Mar“, de Flávio Venturini. A canção comparava a paixão com a primeira vez em que uma pessoa via o mar. Talvez este mesmo encanto foi o que levou a atriz à sua profissão. Ela chegou por acaso, foi convidada a trabalhar na novela, aceitou e despontou. Algo do qual se orgulha. “Minha relação com meu ofício é de muita gratidão! Tenho orgulho da minha trajetória, tanto profissional, quanto pessoal”. “Alma Gêmea“, assim como “Sete Pecados” e “Eta Mundo Bom“, são novelas com as quais a atriz teve em Walcyr Carrasco um autor parceiro. Ela exalta o trabalho com escritor. “A minha parceria com o Walcyr sempre foi intensa. E de alguma forma meio telepática. A gente se entende à distância. Eu captava o que ele queria e ele faz rubricas muito objetivas, claras, diretas sobre o que quer em cada cena. Sou muito fã do Walcyr”.
Sobre o debate de Serena ser índia ainda que branca, sua intérprete pondera e traz uma informação importante: “Serena é fruto de um estupro de um holandês com uma indígena. Eu acho que sempre há possibilidades de se trazer uma discussão à tona na sociedade”.
Faz algum tempo, Priscila vem trabalhando como palestrante motivacional. Não, não é coach, apenas compartilha o que vivencia.
Tenho feito palestras contando alguma passagem da minha vida que possa inspirar outras pessoas, que talvez vivenciem as mesmas dificuldades que eu já vivi e ainda vivo. Não pretendo me tornar coach. Pretendo ficar nessa pegada mais presencial mesmo de poder ajudar de certa forma, mas como não tenho nenhuma formação para isso, como eu tenho a minha história de vida, o meu exemplo pessoal, posso encontrar algumas possibilidades de melhora de qualidade de vida, alguma coisa assim – Priscila Fantin
A última grande aparição de Priscila na TV foi na “Dança dos Famosos“, do “Domingão com Huck“. “Me dediquei de corpo e alma, estudei cada milímetro dos meus movimentos dentro do pouco tempo de aula que o reality dispõe. Transformei meu corpo a cada ritmo. Sangrei, suei e chorei. Eu queria ser campeã para provar para mim mesma a minha capacidade. Mesmo aos 40 anos sem nunca ter dançado aqueles ritmos. Mesmo tendo condromalacia nos joelhos, hérnias de disco e o ombro esquerdo comprometido. E que a dedicação sempre vale a pena”. Ela prossegue dizendo que “O principal é que temos que ser inteiros para sabermos como lidar com outra pessoa. Vejo muitos pais com dificuldade de educar, no sentido de edificar um ser humano, porque se enrolam nas próprias dores, carências e expectativas. Aprendi que os limites fazem relações saudáveis. Eu sempre disse que somos mais fortes do que a nossa mente nos diz e no “Dança”, eu confirmei isso. Foi um processo muito difícil, física e emocionalmente falando. “
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