Andreia Horta tem uma missão pela frente: ela viverá Joaquina, filha de Tiradentes (Thiago Lacerda), na novela “Liberdade, liberdade”(leia como foi a festa de lançamento!) . A personagem que divide com Mel Maia carrega no sangue a luta pela revolução, já que, desde cedo, ouviu o pai repetir a lição: todos os homens e mulheres são livres. Após testemunhar o enforcamento de Tiradentes, é criada por Raposo (Dalton Vigh), um minerador simpatizante da causa dos inconfidentes que a leva para Portugal. Por lá, passa a se chamar Rosa, para despistar qualquer suspeita. É quando volta ao Brasil com a corte que Joaquina se depara com verdades sobre seu passado e descobre mais do sangue revolucionário que corre em suas veias. “Joaquina é fruto da transa entre a história e a ficção. Os pais dela não eram casados, nem moravam juntos. Joaquina via Tiradentes com pouca frequência, ele tinha sumido no mundo. A mãe o processou por não pagar a pensão. Os dois primeiros capítulos vão mostrar tudo isso, até mesmo ela presenciando o enforcamento desse pai e a morte trágica da mãe. Ela então é adotada pelo Raposo que, por algum motivo vai embora para Portugal e se alia à coroa. Ela fica lá, durante 20 anos, tendo uma vida na corte e volta ao Brasil em 1808, junto com a família real”, explicou.
Apesar de não ter tido um contato tão frequente com o pai, Joaquina tem, em si, os ideais de Tiradentes, que ficam mais latentes quando volta ao Brasil. “Tem uma semente ali. A personagem tem uma força atávica, uma herança sanguínea”, disse Andreia, que considera sua personagem uma ‘pós-feminista’. “Ela fala de justiça sem defender uma bandeira. Tem uma simplicidade muito bonita que fica adiante desses conceitos, ainda que eu tenha muito respeito a todos eles”, ressaltou. Interpretar uma mulher tão forte exigiu muito da atriz, que gosta do mergulho profundo. “Sou visceral porque me interessa viver as coisas, não quero passar por elas impune. E estou com sorte. Joaquina é um grande personagem, ela está na história do Brasil, é uma voz de vanguarda. Sai do país aos sete anos e volta 20 anos depois com um olhar bem puro sobre a situação daqui. A personagem me levou a descontaminar o sentido das palavras ‘justiça’ e ‘liberdade’ que muitos de nós deixamos contaminar por tanta sujeira. Ela me leva a escavar o sentido intacto desses valores. Uma mulher de muitos altos, que luta esgrima, dá tiro”, elogiou.
Falando nisso, a preparação foi intensa: “Eu era a única mulher tanto nas aulas de esgrima quanto nas de tiro. Cheguei para a primeira aula e já ouvi aquele estalo, de repente o cara atrás de mim deu um tiro no chão. Reagi e ele me chamou no canto e disse: ‘você não pode demonstrar que tem medo!’. Mas claro que eu posso (risos). Sou ainda uma atriz jovem, olha o meu tamanho, o medo faz parte. Mas as aulas me ajudaram a entender esse outro tempo, um tempo mais selvagem, ainda mais bruto e sombrio que hoje. Foi uma preparação bem radical”, contou ela, que considera uma honra interpretar parte da história do país nas telas. “Isso faz o ofício valer muitíssimo a pena. Além de tudo, a história se passa em Minas e sou mineira. Lembro na quarta ou quinta série, quando a gente começa a estudar Inconfidência Mineira e fica impactado com aquele quadro de Pedro Américo que mostra Tiradentes despedaçado. Agora, voltando a estudar, vejo o quão importante é ser uma atriz, mostrar que isso tudo ainda tem uma voz atual e que é preciso revalorizar as palavras justiça e liberdade porque ainda se clama por essas coisas que já deveriam estar estabelecidas no coração dos homens que governam”, disse.
Apesar de ter tido aulas de luta, esgrima, equitação e outras, Andreia descobriu que é… mulherzinha. “A Joaquina revelou para mim que sou mais mulherzinha que imaginava. Achava que não, mas aquela roupa, a cauda e as cenas em que tenho que manter a arma em punho horas para uma sequência, me mostraram o contrário. É um tal de sobe no cavalo, de me amarrar no formigueiro, me bater, uma loucura. E eu lá preocupada com meu cabelo, minha unha… Isso tudo revelou a mulherzinha que mora em mim”, contou, aos risos. Mas essas coisas não a preocupam tanto quem sabe que atuar é um ato de muita responsabilidade. “E, para quem interpreta, também deve ser um ato de liberdade. O meu desejo é que essa personagem traga uma consciência muito clara de como tudo poder ser se pudéssemos avançar na maneira de organizar a sociedade. Quero despertar o senso de justiça nas pessoas”, disse.
O desejo pela independência no dia a dia ficou ainda mais latente com Joaquina. “Ver mulheres nessas situações, ainda subordinadas, me motiva a cada dia ser mais insubordinada”, declarou ela, que acredita que sua protagonista chegou na hora certa. “Se protagonista é quem tá na proa de uma história, acho que sim. O momento está muito bom para mim. As coisas se organizaram da maneira mais brilhante possível. É aquilo de ‘tudo aquilo que é seu vem para sua mão na hora certa’. Acredito muito nisso. Minha mãe falava tanto isso, e eu ficava: ‘cadê?’”, revelou, aos risos. Aqui está.
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