Prestes a lançar o álbum “Elevador Gourmet”, João Côrtes concilia a música com o roteiro de um curta internacional


João assinou roteiro e direção do premiado longa-metragem “Nas mãos de quem me leva”: “Não só pela transformação e ascensão linda do empoderamento feminino que estamos vivendo, mas também porque eu vivo cercado de grandes mulheres, não só da minha idade, mas de todas. Tinha vontade feroz de trabalhar com uma mulher na liderança”

*Por Karina Kuperman

Cantor, ator, produtor, roteirista e diretor. João Côrtes é um cara de múltiplos talentos. A começar pela música: ele conquistou o segundo lugar no reality-show global “Popstar”, uma competição musical entre celebs, e o sucesso foi tanto que as pessoas que o encontram na rua ainda pedem uma “palinha”. “A recepção foi incrível, não poderia ter tido um feedback melhor do público. As pessoas me pediam pra cantar mais músicas, pra fazer covers, queriam sempre ouvir mais e elogiavam muito minhas apresentações. Fiquei bem feliz e bem surpreso comigo mesmo. Eu realmente não esperava chegar em segundo lugar. Foi uma jornada e tanto percorrida, de muitos desafios, muitas alegrias, amigos novos”, conta ele, que esteve entre nomes como Malu Rodrigues, Sérgio Guizé, Carol Trentini, Samantha Schmutz e outros, além, é claro, da campeã, Jennifer Nascimento.

João se prepara para lançar seu álbum “Elevador Gourmet” (Foto: Jonathan Wolpert)

Filho do grande produtor musical Ed Côrtes, João sempre flertou com o meio: “A música esteve muito presente na minha vida. Toda a parte da família do meu pai vive disso e eu cresci ouvindo música boa, com os primos, tios, avós e agregados, sempre tocando algum instrumento ou cantando nas festas. Comecei a estudar bateria desde cedo, e, mais tarde passei a estudar piano. Também fiz aulas de canto durante alguns anos com a minha avó, que é cantora lírica e professora de canto. Além disso, eu integrei, como cantor, a banda de jazz ‘8 do Bem’, criada há mais de dez anos pelo meu pai e o Derico (do sexteto do Jô), meu padrinho. Eu pretendo sempre levar a música junto comigo”, garante, para felicidade dos fãs. Felicidade, aliás, que tem ainda mais motivos: João lança, nesse ano, o álbum “Elevador Gourmet”, um disco de jazz que contará com músicas originais e rearranjos de canções conhecidas em versões “bem diferentes da original”, destaca.

O CD era um projeto antigo, mas as telinhas acabaram tomando conta da agenda do artista nos últimos tempos (Foto: Jonathan Wolpert)

“Já tenho essa vontade há algum tempo. Chegamos até a começar o processo, mas o lado ator acabou me trazendo bons projetos. No período que eu ia parar tudo pra me dedicar à música, fui convidado para dois filmes e duas séries depois de ‘Sol Nascente’, e não tive como recusar. Mas, agora, o CD vai sair”, promete. A produção, claro, fica por conta do pai. “Além da relação pessoal muito forte e próxima, nós também temos uma convivência profissional incrível. Ele trabalha no meio artístico há muito tempo, então acaba me ajudando muito em cada decisão difícil, me aconselhando em termos de carreira, enfim… Além disso, nossa conexão musical não poderia ser maior. É uma das coisas entre tantas que nos unem. O disco é resultado dessa nossa parceria”, diz.

Além disso, João acaba de se unir a Tentáculo REC, produtora de audiovisual, gravadora e editora. “E tem novos braços, a produtora de som ‘Tentáculo Áudio’ e a escola de ballet ‘Tentáculo Dança’”, destaca ele, que está prestes a colocar no ar o longa “Nas mãos de quem me leva”, com roteiro assinado por ele. “Eu escrevi esse longa em 2017, terminei no fim do ano, e durante 2018 eu fiz algumas leituras com amigos atores, roteiristas e diretores, para ter um feedback, e com essas opiniões,  ir trabalhando e aprimorando o roteiro. 2018 foi um ano de muito trabalho para mim como ator, então não tive tempo para pensar no meu filme, e muito menos, tempo de produzi-lo. Mas 2019 chegou e eu não queria mais esperar”, explica, sobre a história que fala de empoderamento e superação.

João Côrtes assinou o roteiro e a direção do premiado “Nas mãos de quem me leva” (Foto: Jonathan Wolpert)

“Esse filme surgiu de uma imagem que eu tive, por inspiração de uma grande amiga minha, em uma conversa sobre vida, sobre liberdade, enfim. Eu tive a imagem de uma jovem, de seus 20 anos, grávida, chorando, dirigindo em uma estrada. Sozinha. Com o sol brilhando em seu rosto e seus cabelos esvoaçantes. E essa imagem me provocou, me instigou a escrever sobre isso. A ideia de contar um drama com uma jovem mulher na linha de frente, como protagonista, era muito interessante. Não só pela transformação e ascensão linda do empoderamento feminino que estamos vivendo, mas também porque eu vivo cercado de grandes mulheres, não só da minha idade, mas de todas. Tinha vontade feroz de trabalhar com uma mulher na liderança, abordando temas tão sensíveis, tão delicados e tão reais”, afirma ele, que acredita veementemente que a arte é e deve ser instrumento de transformação. “Acredito que a principal função é refletir o ser humano, como um espelho mesmo, em todas as suas formas, belezas, poesias, defeitos, crises, nuances e cores. Sem medo. Colocar tudo em pauta e questionar, provocar, refletir… Falar sobre o empoderamento de uma jovem mulher, discutir o quanto não dependemos do outro para traçar o nosso destino para sermos felizes. Nossa vida, nosso destino, nossa história está em nossas próprias mãos, e nosso passado não nos define. O que vivemos, por mais difícil que seja, não nos define”.

Além disso, João vem trabalhado em outra produção: trata-se do curta “Flush”, todo em inglês. E, para isso, conta com um parceiro especial: seu colega de profissão e amigo Nicolas Prattes. “Decidi escrever em inglês por alguns motivos, diferentes. Eu e Nicolas temos a mesma ambição, no sentido da nossa carreira: trabalhar também no cinema internacional. E pra isso, estávamos buscando material nosso, como atores, em inglês. A ideia de escrever esse curta em inglês surgiu daí. Paralelo a isso, existe o prazer imenso que eu tenho de escrever em inglês. A sonoridade da língua colabora muito para a fluidez na hora de interpretar. Além disso, eu queria contar uma história que não se passasse no Brasil, mas que tivesse a marca do nosso país. Algo que deixasse claro a nossa vontade de espalhar essa mensagem para o mundo inteiro, principalmente no momento de censura que estamos vivendo. A ideia é filmarmos o curta e levarmos para os festivais, depois trazer para o Brasil. De fora pra dentro”, explica.

João e Nicolas construíram uma sólida amizade nos bastidores de “O segredo de Davi” (Foto: Reprodução)

Além de assinarem o roteiro, os dois também atuam no curta. “Eu e Nicolas já éramos bem amigos, fizemos um musical juntos em 2014, e, em 2018, estivemos no longa ‘O Segredo de Davi‘. O processo tem sido lindo, estamos na mesma página com relação ao tipo de mensagem que queremos passar, às questões que queremos levantar, e ao arco de cada personagem. Estamos bem animados pra filmar e lançar!”, avisa, sobre o filme que abordará um tema pra lá de especial: “Identidade de gênero. Não-binariedade. A liberdade de expressão do corpo e da mente. É por aí. Dois jovens, Tom e Sarah, ficam presos em um banheiro de um colégio americano, durante a madrugada, em uma situação inusitada. Duas pessoas completamente diferentes, de raízes distintas, e que terão que conviver e se entender durante essa noite nesse banheiro. Através dos diálogos, aspectos psicológicos e comportamentais da nossa sociedade atual são trazidos a tona, fazendo o espectador refletir sobre o que significa ser livre”, adianta ele, que também atua no projeto. “Vai ser a primeira vez que escrevo e atuo em uma mesma produção. Estou curioso pra experimentar isso, mas imagino que deve ser muito gostoso. Eu já tenho intimidade com o texto, com as personagens, tenho na cabeça o que eu imagino para a personagem que vou fazer… Mas de qualquer maneira vou ter que acessar uma outra área, como ator, na hora do ação”.

Os próximos passos são de gigante: um curta em inglês e uma série na HBO (Foto: Jonathan Wolpert)

Pensa que acabou? O ano ainda promete para João. “Estarei na série ‘O Hóspede Americano’, da HBO, que conta a história do ex-presidente americano Theodore Roosevelt e Marechal Rondon, quando ambos partiram em uma expedição no Rio da Dúvida, em Rondônia, no começo do século 20. Roosevelt será interpretado por Aidan Quinn, que protagonizou o filme ‘Music of the Heart’ com Meryl Streep e Gloria Stefan e estrelou ‘Lendas da Paixão’ com Brad Pitt e Anthony Hopkins. Além dele, também temos Chico Diaz e Theodoro Cochrane no elenco”.