*Por Brunna Condini
Prestes a completar 41 anos, em 13 de janeiro, Luis Lobianco estreia um novo trabalho, como um presente, três dias depois (16): a novela ‘Vai na Fé’, próxima na faixa das 19h da Globo. Ele é Vitinho, que na juventude formava trio com a protagonista da história, Sol, vivida por Sheron Menezzes, e Bruna (Carla Cristina Cardoso) nos bailes funk dos anos 2000, e acaba se tornando um compositor de hits famosos. “Esse trabalho é um presente. E eu adoro fazer aniversário. Dizem que capricornianos nascem velhos e morrem jovens (risos). Me sinto assim em algum aspecto”, diz Lobianco, que também estará em cena depois de uma temporada de sucesso em São Paulo, com a comédia ‘O Método Grönholm‘, no Teatro do Copacabana Palace, a partir desta sexta-feira (6). Sobre a passagem dos anos, ele reflete: “Tenho uma relação com aniversário bem afetiva. Como minha mãe biológica morreu quando eu era muito pequeno (6 anos), existia uma preocupação dos adultos, das minhas tias, que sempre fizeram umas festinhas inesquecíveis para mim. Hoje em dia, na data só não gosto que vire uma produção, porque já trabalho produzindo (risos), mas adoro deixar fluir, que as pessoas cheguem, aconteçam os encontros, os amigos”.
Essa novela está emocionante de ver: completamente diversa, em muitos sentidos: da cor da pele, fé, identidade de gênero, orientação. E também no sentido democrático, porque, antes, as cotas estavam ali apenas para serem cumpridas, e ,muitas vezes, quem tinha as falas com mais relevância nas histórias eram os padrões de sempre – Luis Lobianco, ator
Na enxurrada de descobertas pós-pandemia e com o amadurecimento que chega, o ator reafirma sua vocação para ser feliz e se tratar bem. “Demorei algum tempo na vida para entender a minha beleza, o meu corpo. Perceber o que ele gosta, o que me faz feliz, o que gosto de ver no espelho. Primeiro, porque desde sempre fomos massacrados por padrões. Isso é uma coisa que hoje já discutimos bem, mas sou dos anos 80. E neles, nos 90 e nos 2000, o que vimos foi a padronização de um corpo magro. Era algo massivo. Você fugir disso, deste ‘sequestro’ da sua autoimagem, é um movimento imenso. Acho que consegui e trabalho isso todos os dias, construindo uma identidade. Sei o que quero, curto. Adoro moda, por exemplo, sempre gostei de ir bem vestido para os lugares. Me visto com roupas que curta, mas também que signifiquem algo pra mim, de alguma forma. Isso é uma construção pessoal, não é algo copiado de uma revista, criado por um stylist. Sinto que essa minha construção está cada vez mais sólida. Fora isso, tem o cuidado com a saúde, você presta à atenção ao próprio corpo. Percebe o que ele te sinaliza”, compartilha.
“Durante a pandemia tive muita dificuldade para dormir. Senti que isso estava me fazendo mal, além do baque com as perdas próximas. Tudo isso foi me deixando com medo, ansiedade e até uma inércia, sabe? Tinha dia que eu não produzia nada, ficava só tomado dessas coisas. Pensei que isso me adoeceria, então fui procurar ajuda médica, o que foi maravilhoso. Fui à uma psiquiatra, nunca tinha ido antes. Faço terapia desde criança, desde que a minha mãe morreu. Psiquiatra acho que ainda não tinha ido pelo estigma. Mas conversei com vários amigos que falaram sobre o que os bons profissionais podem fazer por nós. Cuidar da saúde mental é primordial. Como qualquer médica, você pode e deve ir antes que algo grave aconteça. Fui na hora certa. Por isso, é tão importante que a gente fique atento ao que se passa conosco. Comigo não tem essa de ‘artista cria melhor na crise’, produzo muito melhor quando estou mais leve, bem. Para me sentir bem também faço atividade física. É algo que nos afasta da depressão. Dá preguiça? Super. Mas o efeito vale muito a pena. Você vai achando o que funciona para você. Estou encontrando o meu jeitinho por aqui”, completa.
Uma TV diferente
O artista estava longe de novelas desde ‘Segundo Sol’ (2018), e comenta o fato de perceber a televisão mais diversa e menos espelho de padrões. “Fiquei uns três anos sem a rotina do Projac (Estúdios Globo), falo de lá, porque é onde trabalho, mas de certa forma, a referência é a TV, e te digo, que os rostos estão diferentes. Em ‘Vai na Fé‘, já no primeiro encontro de elenco, equipe, para a preparação, era uma coisa emocionante de ver. Uma sala completamente diversa, em muitos sentidos: da cor da pele, fé, identidade de gênero, orientação. E também no sentido democrático, porque antes, as cotas estavam ali apenas para serem cumpridas, e muitas vezes quem tinha as falas, tramas com mais relevância nas histórias eram os padrões de sempre. Vejo que isso hoje é um pouco melhor dividido. Esses status que eram muito a partir da cor da pele, da sexualidade, do corpo magro, têm mudado”.
Sou dos anos 80. E neles, nos 90 e nos 2000, o que vimos foi a padronização de um corpo magro. Era algo massivo. Você fugir disso, deste ‘sequestro’ da sua autoimagem, é um movimento imenso – Luis Lobianco, ator
E pontua: “Claro que ainda tem muita transformação pela frente, porque acho que essa diversidade precisa chegar em outros espaços de poder também, em quem tem o dinheiro, quem decide para onde ele vai, quem decide que histórias vão ser contadas, que belezas vão ser colocadas em evidência. Quando eu falei que gostaria de fazer um galã, a sério, é uma brincadeira, uma provocação, mas é isso. Quero ver belezas diferentes, fora do padrão, protagonizando. Ainda tem muita água para rolar, porque precisamos chegar nas salas do poder, mas é uma mudança inevitável, tudo aponta para isso”.
Fé na humanidade
O personagem de Lobianco, na próxima novela das 19h, tentou se lançar como MC, mas suas letras não emplacaram. Tempos depois, ele se torna compositor dos hits e homem de confiança do cantor pop Lui Lorenzo, vivido por José Loreto. Vitinho é o responsável pelo retorno da Sol aos palcos, 20 anos depois, quando ela começa a se apresentar com Lui. O personagem é platinado, espirituoso e tem qualquer mistério com um amor do passado, que será desvendado ao longo da trama. “Sou curioso e intuitivo como ele. Vitinho é aquele cara que preenche as lacunas do ambiente, mas também tem sarcasmo. E, além de tudo, um ótimo astral. Me identifico. Não sei se eu consigo, mas tento melhorar os ambientes em que estou, como ele”, detalha.
Comigo não tem essa de ‘artista cria melhor na crise’, produzo muito melhor quando estou mais leve, bem – Luis Lobianco, ator
Na trama de Rosane Svartman, o carismático Vitinho conhece Wilma (Renata Sorrah) em uma agência para artistas, e a partir daí, de mero assistente, se torna o compositor dos hits e braço direito do cantor pop Lui Lorenzo. “Ele reencontra a personagem da Sheron anos depois, em outro momento, evangélica, mãe. E Vitinho é como eu, não coloca a fé dele em uma religião, mas respeita as escolhas da amiga e eles têm um reencontro que muda suas vidas. Eu me vejo no personagem no sentido de que tenho fé nas pessoas, nas relações”.
Mais do que ficar rezando para algo que não vejo, acredito que a gentileza faz diferença, o respeito ao tempo, à natureza das pessoas, isso é mais transformador para mim do que seguir uma doutrina e, muitas vezes, não fazer sua parte no cotidiano. Ao mesmo tempo, sou artista. Acho importante acreditar no que não vejo, em energias. Na força da natureza, no desconhecido, no mistério – Luis Lobianco
Pescando fundo
Na vida real, o ator é casado há 10 anos com o músico Lúcio Zandonadi, com quem mora no Rio de Janeiro e divide um sítio, além da criação de Odete, a charmosa cachorrinha adotada pelo casal. Mais conectado à sua essência, o ator fala dos lados que o habitam. “Eu estar ficando mais tempo no sítio tem a ver com um aprofundamento em mim, nas minhas relações. Sempre gostei de estar em contato com a natureza, desde pequeno. A família da minha mãe é da roça, do interior, meu avô sempre teve fazenda. Estávamos sempre no meio dos bichos, do mato. E também tenho um lado urbano, sou carioca da gema. Esse lado gosta de circular, tomar drink, bater perna, ferver e não abro mão dele. Mas chega uma hora que preciso da natureza, daí fiz esse investimento pessoal e para minha família, uma forma de estarmos ainda mais juntos. Cada vez que vou para o sítio tenho ainda mais certeza que fiz a melhor coisa. Na vida tudo é equilíbrio, não me peça para escolher quem sou. Quero tudo”, diverte-se.
Quando falei que gostaria de fazer um galã, a sério, é uma provocação, mas é isso. Quero ver belezas diferentes, fora do padrão, protagonizando – Luis Lobianco, ator
Capricorniano “em Capricórnio”, ele fala da influência da astrologia na sua vida. “Não sei se acredito exatamente, mas acho interessante, instigante. Gosto de falar do tema, mas não levo muito a sério. Tem gente que pira. Posso dizer que sou um capricorniano bem aterrado (risos). Tenho planner, agenda, sou o homem das listas, meu bloco de notas do celular não dorme. Adoro disciplina. Acho libertador. Tenho disciplina até para a minha bagunça. Adoro casa e a minha é toda arrumadinha, mas tem um lugar dela que deixo ser um lugar de bagunça. Planejo até a desorganização”. E brinca: “Lúcio é ariano. Brinco que ele é satanás. Olha, falando sério, ele é um ariano atípico, então dá muito certo. Temos um temperamento muito parecido, somos tranquilos. Dá um caldo bom”.
No mood do aniversário, Lobianco se permite imaginar como gostaria de estar daqui há 30 anos: “Ah, quero ser um coroa muito cheiroso. Hoje, os 70 já não são mais os mesmos, então desejo continuar curtindo a vida, tomando meus bons drinks, ainda tendo alguma ressaca, vai ficando pior? Vai, mas as vezes vale a pena (risos). Também quero continuar aberto para conhecer pessoas, fazer novos amigos. Estou trabalhando quase que 12 horas por dia com a Renata Sorrah, que é uma mulher plena de energia, beleza, humor, referências. Então, se eu for 10% do que a Renata é no futuro, já estarei grato e feliz. Ela doa vitalidade, é curiosa, gatíssima, uma inspiração”. E completa: “Também é um sonho poder me dedicar a menos projetos por vez. Me alimentar e voltar para trabalhar, sabe? Vivemos em uma cultura do sacrifício. Amo e preciso trabalhar, mas muitas vezes nos entubamos de coisas para fazer”.
O palco
George Sauma, Anna Sophia Folch, Raphael Logam e Luis Lobianco estão ensaiando a comédia “O Método Grönholm”. A peça dirigida por Lázaro Ramos e Tatiana Tiburcio chega ao Rio depois de uma temporada de sucesso em São Paulo. Estreou dia 6, no Teatro Copacabana Palace. Em cena, a história de quatro executivos ambiciosos que disputam uma única vaga de emprego. Confinados em uma sala e observados como que em um reality, eles são submetidos a provas pouco convencionais. A um passo de alcançarem a tão desejada posição, eles vão sendo envolvidos em situações tão surpreendentes quanto constrangedoras, sempre recheadas de revelações. Ao passo que se envolvem com o jogo, a verdadeira natureza de cada participante é exposta. Em clima de crescente tensão e recheada de humor ácido e ironia, o espetáculo traz diversas reviravoltas, despistando o público e revelando o lado mais ridículo do ser humano.
Adoro disciplina. Acho libertador. Tenho disciplina até para a minha bagunça – Luis Lobianco, ator
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