* Por Alexandre Schnabl com João Ker
Que o Rio de Janeiro é a Hollywood tropical, com pencas de celebrities (e paparazzi!) circulando para lá e para cá, isso não se discute. Afinal, a Cidade-Maravilha é o quartel general de emissoras como a Globo e a Record, e pela suas croisettes dão pinta os mais diferentes tipos que povoam a telinha. Portanto, nada mais natural que o Rio concentrar toda a sorte de celebrações que incensam as produções cinematográfica e televisiva. Com uma multidão de fãs estridente do lado de fora do Copacabana Palace, que parecia não se importar com o frio e a chuva fininha que teimavam em comparecer, personalidades da teledramaturgia nacional pisavam no tapete vermelho desta última noite de segunda-feira (28/7) para participar do 16º Prêmio Contigo de TV. Com cerimônia apresentada pelo casal estrelinha Taís Araújo e Lázaro Ramos, a noite foi de honrarias, piadas, evening gowns e a nata dos atores que costumam povoar o imaginário dos brasileiros. Sim, existe um quê de Oscar – ou de Festival de Cannes – na cidade apadrinhada por São Sebastião.
O red carpet começou cedo e, em se tratando de cariocas, surpreendentemente pontual. Após uma gigantesca quantidade de estrelas mirins à la Shirley Temple, provenientes de produções que iam de “Joia Rara” a “Chiquititas” e que garantiram a porção de fofura e “oooowns” da noite, chega à varanda do hotel mais icônico da cidade o ator Arthur Aguiar, que chamou atenção na segunda fase de “Em Família”. Depois de ter começado a carreira em “Malhação”, o ator e modelo foi um dos astros na adaptação nacional da série “Rebelde”, ao lado de Chay Suede, o mais novo galã queridinho da Rede Globo. Bye bye Caio Castro. Afinal, assim como em publicações tipo “Vanity Fair” e “Interview”, rei morto, rei posto, e o barulho que a versão jovem de José Alfredo (“Império”) fez nos últimos dias é suficiente para transformar o novo globete em objeto de desejo das fãs. E claro que publicações como a Contigo se encarregam de promover a renovação do star system brazuca com pompa e circunstância.
Arthur comenta que está “felizaço pelo Chay, porque ele conseguiu mostrar sozinho que não é só mais um rosto bonito na tevê” e que pretende continuar com a sua carreira musical: “Eu acabei de assinar um novo contrato e devo lançar um disco em breve. Ainda estamos trabalhando os detalhes, mas quero fazer tudo de uma forma que não interfira na minha carreira de ator”, revela o artista, que pretende misturar várias de suas influências, mas sempre mantendo o “samba-rock e algo romântico, definitivamente romântico”. Hum.
Fotos: Zeca Santos
O próprio Chay também passou pelo tapete vermelho, mas um pouco atrasado e com bastante correria para não perder a cerimônia. Com aquele seu jeito largadão e uma nuvem de perfume que anunciava a sua chegada, o ator quase não falou com repórteres, mas conseguiu confessar ao HT, com exclusividade, que não pretende jamais abandonar a carreira musical: “Eu sou ator e músico. Sempre. Até o fim. Nunca uma das coisas, sempre as duas”, declarou. Okay, Fábio Jr.
Vanessa Giácomo, uma das grandes estrelas da noite e vencedora do Prêmio de Melhor Atriz pela pérfida Aline de “Amor À Vida”, comenta logo na entrada que não tem muita preferência entre mocinhas ou vilãs: “Eu gosto de desafios, de contar uma boa história. Felizmente, ainda não passei por uma situação onde me parassem na rua e começassem a gritar comigo por causa de uma personagem”, ri, enquanto mantém as tais sandálias da humildade nos pés, afirmando que tenta não acreditar muito quando dizem que sua carreira está deslanchando. Fofa.
Apesar de ter algumas indicações e representantes durante a noite, foi impossível não notar o pouco impacto que “Em Família”, a última novela de Manoel Carlos, teve no público. Lica Oliveira, que viveu Dulce na produção, fala um pouco sobre os possíveis motivos por trás disso: “Para mim, a novela foi maravilhosa, um trabalho muito gratificante e eu não tenho nada a reclamar”, começou. “Mas há também a questão de que nós estamos vivendo em um tempo diferente, um período de muita competição. E não é só algo que aconteça entre emissoras, é um novo tempo onde a internet desempenha um papel fundamental”, opina.
“Em Família” chegou às tevês com uma missão difícil: superar duplamente “Avenida Brasil” e “Amor à Vida”, duas telenovelas que, cada uma à sua maneira, foram sucesso de público e cheias de personagens carismáticos. Aliás, um dos grandes responsáveis pelo sucesso de “Amor à Vida” foi Mateus Solano que, durante a noite, recebeu direto das mãos de Thiago Fragoso – e dos lábios, porque rolou até selinho comemorativo na hora da entrega no palco do Golden Room, o Prêmio de Melhor Ator por seu trabalho como o inconfiável Félix. Sim, os prêmios principais foram para ele, Vanessa Giácomo e para Thiago Fragoso como Melhor Ator Coadjuvante, revelando que a noite – que trazia como tema “tabu” – tratou de levar o assunto a sério, homenageando, sobretudo, as relações homossexuais e os vilões. O próprio intérprete do “Carneirinho” foi enfático ao receber o troféu: “Fico feliz em fazer parte da história da dramaturgia televisiva com um personagem que lança um olhar lúdico para o universo da homoafetividade, inédito na tevê brasileira. O Nico é alguém que acredita em contos de fada”.
Já Mateus, horas antes, era só elogios para o personagem: “É muito carinho que eu recebo do público. Ele já é uma criatura que vive além de mim e persiste até hoje nas redes sociais”, comentou o ator, que em setembro estrela a peça “Selfie”, de Miguel Falabella. No palco, ele se estende nessa observação: “O Félix transcende a mim, ao autor Walcyr Carrasco e ao diretor Mauro Mendonça Filho. Ele foi criado por nós, mas hoje em dia é uma entidade à parte, sobrevivendo nas mídias sociais em inúmeros perfis fake engraçadíssimos e que, além de conservarem a essência do personagem, revelam o carinho que ele gera. Tem o Félix Bicha Má, o Félix Amargo, O Félix Irônico e por aí vai”.
Fotos: Zeca Santos
Em visual com chapéu moderninho e cheio de bossa, com levada que lembra o estilão de agraciados do Grammy, Mauro Mendonça Filho, que subiu ao palco para receber o de Melhor Novela por “Amor à Vida”, reitera a visão de Mateus: “Esta produção pode até não ter sido unanimidade, mas foi forte, pelo texto do autor, pelo elenco maravilhoso e por ser o cenário onde rolou finalmente o famoso beijo gay. Foi como vencer a Copa. Bom, não esta última, é claro. Eu estava lá no sete a um”.
Fabiana Karla, que fez a Perséfone na mesma novela que Matheus, confessa que também recebeu um grande carinho do público com a personagem, que era adulta, bem resolvida, empregada e virgem: “Houve muita gente dando depoimento, eu me sentia quase em um divã”, confessa a atriz, que ainda disse não preferir entre comédia ou drama. “Eu gosto de atuar. O que me for proposto, eu aceito”, riu.
E, por falar em virgindade, quem circula feliz com novo cabelo pelo coquetel pré-premiação é Simone Soares, que anda se dedicando ao cinema. Ela vem em três novas produções para a telona até o final do ano, entre elas “O Último Virgem”, com Guilherme Prates e Daniel Erthal. Nele ela faz uma mulher madura que seduz um personal trainer mais novo, vivido por este último. O bonitão Erthal completa: “Os dois se aproveitam um do outro”. Bem, a produção parece lembrar um pouco “Uma Questão de Classe” (Class, 1983), em que uma Jacqueline Bisset madura se envolve com o novinho amigo do filho, na pele de Andrew McCarthy. Vamos ver.
Simone também se diz maravilhada com outro longa-metragem que vai estrelar no cinemão. “Esquadrão Anti-Sequestro”, em que interpreta uma modelo que é encarcerada e estuprada. “Estou encantada com a qualidade do filme, que tem uma pegada meio ‘Tropa de Elite’. Aliás, estou adorando esse acabamento cinematográfico da televisão atual e esse requinte de carpintaria é algo que não tem volta”. A atriz considera que, assim como a televisão americana, que atualmente passa por um boom de qualidade, a brasileira passa por um processo similar: “Com o agravante que, nos EUA, a tevê importa hoje grandes astros do cinema para sua séries, e aqui no Brasil, ela é já tão forte que rola o caminho inverso. Os atores saem da televisão e vão abrilhantar a sétima arte”.
Bruna Linzmeyer concorda em alguns aspectos com Simone: “Foi gratificante participar de uma novela como ‘Meu Pedacinho de Chão’, um primor de qualidade de texto, interpretativa e visual chancelado por um mestre como Luiz Fernando Carvalho“, emocionada por este ter ganho a categoria Melhor Diretor. Ela ressalta que os aspectos cênicos da obra são ímpares e que o conjunto todo, incluindo a fabulosa direção de arte e o figurino, é fundamental para essa consolidação da excelência teledramatúrgica, mesmo que a produção que acaba nesta semana seja bem mais estilizada que outras igualmente de alto padrão, como “Joia Rara”, “Império” ou “O Rebu”, mas mais fáceis de deglutir. “Mesmo assim, acho que o público em geral está se sofisticando, e mesmo uma novela como ‘Meu Pedacinho de Chão’ parece atingir – mesmo sem altíssimos números de audiência -, um público diversificado de telespectadores”, afirma. E Completa: “Minha avó mora em Corupá, no interior de Santa Catarina, e tanto ela como umas senhorinhas que são costureiras por lá se dizem maravilhadas com a magia desta fábula e mesmo com o figurino exagerado. Acho que hoje em dia não importa mais se o requinte se dá em uma obra de aspecto mais realista ou fantasioso. Há plateia para tudo que seja bom”. Antônio Fagundes, que também participou da produção, comenta: “O gostoso é conseguir manter o lúdico na tevê e a novela resgatou um ótimo gênero. Há um público diferenciado que aprecia o resultado – as crianças estão adorando – mas foi uma honra participar dessa produção”.
Fotos: Zeca Santos
Um dos maiores meteoros que a Rede Globo viu nos últimos tempos, Tatá Werneck papou o prêmio de Melhor Revelação e também agradeceu por seu papel na trama de Walcyr Carrasco: “Eu só amava aquela novela, foi um presente enorme”, destaca a atriz, que voltou às suas raízes de MTV e agora apresenta, ao lado de Fábio Porchat – com quem ela diz ter uma ótima química cômica – o programa de auditório “Tudo Pela Audiência”: “Eu saí da novela meio desprotegida, mas amo fazer as duas coisas. O público do programa está ali para deixar a gente de saia curta mesmo, então eu me divirto fazendo”, confessou Tatá, que ainda disse – ironicamente, talvez (?) – olhar o Google para acompanhar rumores sobre a sua carreira e que só conseguirá alguma folga após o dia 25 de setembro, quando encerra as gravações do programa. “Estou achando deliciosa a troca entre eu e Fábio. Parece que nos conhecemos há muito tempo”. Tatá ainda comentou no palco sobre sua interação com Elizabeth Savalla, que ganhou o troféu de Melhor Atriz Coadjuvante: “Eu e ela viemos de outro planeta. O mesmo”, conta, causando risos na plateia.
Fotos: Zeca Santos
Junto com “Amor à Vida”, “Amores Roubados” foi o outro grande vencedor da noite: foi eleita a Melhor Série ou Minissérie, assim como Cauã Reymond recebeu o prêmio de Melhor Ator em Série ou Minissérie. E Dira Paes foi quem abiscoitou o de Melhor Atriz nessa categoria, empatada com Fernanda Montenegro pela sua Dona Pituxa em “Doce de Mãe”.
Saindo do “universo plim-plim” e dando uma volta pelos estúdios do canal Record, quem está com novidade é Babi Xavier, que continua linda como sempre. Ao lado de Daniela Galli, ela faz parte da nova minissérie “Plano Alto”, que contará uma história romantizada da política nacional, com três momentos marcantes na linha do tempo brasileira: o início da ditadura, o período que vai das ‘Diretas Já’ aos anos do governo Collor e as manifestações que assolaram o país no ano passado. “A minissérie começa na virada de agosto para setembro, perto das eleições presidenciais de outubro, e isso é bom”. Sobre a onda de protestos que surgiu em 2013, a atriz, que interpreta a relatora de uma CPI na série, comenta: “O pessoal perdeu a razão a partir do momento em que usou a violência”, disse, se referindo aos manifestantes. “Demorou para chegar uma reação, mas é compreensível. Uma população que está sem saúde, sem educação de qualidade e é tratada como bicho, acaba revidando da mesma forma.” Daniela também diz que é contra qualquer tipo de agressão – vinda de polícia ou de ativistas: “É um momento delicado, mas a política precisa ser discutida. Eu sou contra black bloc e contra o dano ao patrimônio público, mas acho que essa história ainda está longe de acabar também”, comentou.
Emocionada e usando um vestido digno de uma femme fatale, Deborah Secco, que entregou o prêmio à Cauã, era uma das mais elegantes da noite, com seu corpinho de sereia. Passou pelo evento ainda um pouco atordoada com o prestígio que recebeu por seu novo filme “Boa Sorte” durante o Paulínia Film Festival: “A Judite, minha personagem, é uma mulher incrível, apaixonante e ciente da sua finitude, algo que eu pude aprender com ela. Foi um trabalho que me modificou muito, me ensinou a encarar a vida de outra maneira. Eu não fico mais ansiosa com o futuro, nem arrependida pelo passado. Eu vivo o meu presente porque é tudo o que eu tenho”, filosofou a atriz, que vive uma soropositiva na produção e tem recebido elogios atrás de elogios por sua performance. “Eu mudei muito para viver esse papel e não foi só em questão de corpo. Emagrecer tem remédio, é o de menos. O mais difícil foi eu abandonar meus vícios de atriz, abaixar completamente a minha guarda e largar as muletas para mergulhar de cabeça no universo dessa mulher tão incrível. O filme, assim como “Bruna Surfistinha”, tem nudez, tem cena de sexo, mas é algo estimulante. Também, se o trabalho não der aquele frio na barriga é porque não vale a pena”, entrega.
Fotos: Zeca Santos
Mas, em uma noite que emulou a atmosfera dos Oscar, os dois momentos mais mágicos foram, sem dúvidas, aqueles que homenagearam três mitos que fizeram a indústria televisiva nas últimas décadas, mas que foram igualmente marcantes em outros meios, como o teatro e cinema. Nathalia Thimberg. Visivelmente emocionada, ela diz: “Vejo nessa tela projetada a minha história, a minha vida. E ela foi feita com vocês, por vocês e graças a vocês”. Aplaudida de pé por muito tempo, ela representa o legado de verdade em época de sucessos voláteis e ausência de conteúdo na era da produção de conteúdo. Merece hoje e sempre. E causou tanta emoção quanto as homenagens póstumas conferidas a Paulo Goulart e José Wilker, com o público também de pé. Mas a dramaturgia se alimenta tanto de trajetórias de sucesso como da novidade. A filha de Wilker, a ex-modelo e atriz Isabel, conta ao HT: “Não tem como não ficar sensibilizada com isso, meu pai era tudo de bom. E fico feliz em tentar dar continuidade ao seu trabalho, estou em uma peça em São Paulo agora e estreio outra em outubro”. Sim, a fila anda e a história continua.
Fotos: Zeca Santos
Confira abaixo mais fotos da premiação:
Fotos: Zeca Santos
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