‘Precisamos naturalizar os corpos marginalizados do gordo, trans e não ficar frisando o tempo todo’, diz Mariana Xavier


A atriz fala da volta de “A Força do Querer” em reprise no horário das nove, e exalta os temas diversos e inclusivos da trama. Mariana também compartilha suas experiências na quarentena, fala do autoconhecimento como ferramenta de transformação, e comenta sobre o amadurecimento da relação com o namorado, o ator Diego Braga: “A questão de ficarmos isolados juntos, foi uma questão prática. Não queríamos ficar separados no meio de uma pandemia tão séria. Fomos com muito medo, porque éramos um casal de sete meses. E do dia para a noite, viramos um casal com dois filhos de 4 anos (risos). Mas fizemos um acordo pré quarentena: nos avisaríamos se ficasse demais para um dos dois. Mas tudo fluiu muito bem. Eu e Diego temos um acordo de sempre poder ajustar as velas. E sempre falamos que se fosse para morarmos juntos, seria em um novo lugar e não ninguém se encaixando na vida do outro. Posso dizer, que agora que ele está vivendo a experiência da casa dele, também está sendo muito legal voltarmos a ser namorados. Por que a ordem natural é casar? Queremos namorar, correr atrás dos nossos sonhos e realizações. Para que a gente seja um casal cada vez mais incrível, precisamos ser incríveis como pessoas. Está sendo ótimo ter dois lugares para ir, a minha casa e a dele”

*Por Brunna Condini

Mariana Xavier está feliz da vida com a notícia de que a reprise de “A Força do Querer” foi a escolhida para substituir “Fina Estampa” na faixa das nove, na Rede Globo, provavelmente entre agosto e setembro. “Amei a notícia da novela voltando, mesmo compacta. Eu e Silvero (Pereira) vamos fazer uma live na semana da estreia, para falar dos personagens, dos temas que eles levantam”, conta.

“A Biga (Abigail), minha personagem, e o Nonato/Elis, que ele fazia, traziam muitos temas importantes sendo abordados na trama, como os preconceitos enfrentados pela comunidade LGBTQI+, identidade de gênero e transsexualidade, e a naturalização dos corpos diversos, por exemplo. Além disso, eu e Silvero nos tornamos grandes amigos. A novela fala de diversidade, tolerância e respeito às diferenças, e mais do que nunca, falar sobre isso é importante, porque agora temos uma espécie de chancela para esses tipos de preconceitos virem à tona. E tem o lado de ser maravilhoso me ver no ar de casa, sem me arriscar. Aliás, essa iniciativa das reprises é a mais acertada, enquanto as produções e suas gravações não podem ser retomadas em segurança por conta desta pandemia”, conclui sobre a novela que tem como mote central a realização dos sonhos e o preço que se paga por isso.

“A Biga e o Nonato/Elis traziam muitos temas importantes sendo abordados na trama, como os preconceitos enfrentados pela comunidade LGBTQI+, identidade de gênero e transsexualidade” (Divulgação)

A personagem de Mariana é descrita como: “Uma representante do orgulho plus size, muito bem resolvida com sua aparência”. Mas a atriz acredita que o papel de Biga no folhetim, conduz a discussão para além do preconceito gordofóbico. “Você desconstrói preconceitos quando passa a olhar para essa pessoa como alguém que tenha uma vida. A Biga é secretária, tem seus interesses pessoais, se gosta. Precisamos naturalizar a presença destes corpos marginalizados, do gordo, do trans, e não ficar frisando o tempo todo os diferenciais. Ela ser gorda é só uma das características, não a define. Como atriz foi muito importante, porque eu não era o alívio cômico da história. Foi incrível não fazer a personagem só engraçada. Inclusive, muita gente ficou frustrada na época porque na sinopse dizia que A Biga viraria modelo plus size. Mas a trama foi por outro lado e só quase no final ela teve essa história de virar modelo. Isso foi bom, porque parece que a mulher precisa sempre de um reconhecimento público da sua beleza”, analisa.

Amor e quarentena

Quando deu entrevista para o site em janeiro deste ano, após sofrer uma queda, com a consequente lesão no ligamento do tornozelo, e fratura de fíbula, passando por uma cirurgia de emergência para colocação de dois parafusos, Mariana não poderia imaginar, que teria que enfrentar uma pandemia após esse processo.

“Minha quarentena começou antes por conta do acidente. Essa queda me trouxe muitos prejuízos, mas me obrigou a desacelerar para entrar neste longo e necessário isolamento social. Se tivesse em turnê, trabalhando a todo vapor, eu ia ser um carro em alta velocidade, com o freio de mão puxado, ia capotar. Então penso que apesar de tudo, esse acidente teve uma função, sabe?”. A atriz vai passar por nova cirurgia, prevista para este sábado, mas garante que a intervenção é tranquila: “A princípio, saio no mesmo dia, no máximo no seguinte. Essa cirurgia tende a ser algo mais simples, só para tirar os parafusos. Vou ficar de molho mais um pouco, mas nem se compara à cirurgia anterior”.

Mariana quando após a queda em janeiro: “A cirurgia que vou fazer agora tende a ser algo mais simples, só para tirar os parafusos” (Reprodução Instagram)

Como tem passado por esse período de isolamento? “Se eu falar de um ponto de vista egoísta, ignorando todo o absurdo que está acontecendo no país, posso dizer que estou muito bem. Tenho consciência de que sou privilegiada. Estou podendo atravessar esse momento de forma segura e confortável.  Meu trabalho foi muito frutífero nos últimos anos, não sou consumista, pude me planejar financeiramente pra um imprevisto. Sigo me cuidando, me permiti desacelerar, não alimentar a ansiedade.

Você tem falado muito sobre autoconhecimento, auto amor. Como esse mergulho vem te transformando nos últimos anos? “Me conhecer traz uma satisfação grande, que é admirar o conjunto da obra que eu sou, me sentir confortável na minha pele. Ter certeza das coisas que quero e não quero para mim. Isso é base para tudo, para o trabalho, relacionamento, porque se eu não estou neste lugar de plenitude, as escolhas ficam comprometidas. Antes, achava que liberdade era dizer “sim” para tudo. E poder dizer “não”, saber o que não se quer, não te faz bem, te deixa muito mais livre”.

“Me conhecer traz uma satisfação grande, admirar o conjunto da obra que eu sou, me sentir confortável na minha pele” (Reprodução Facebook)

Mariana entrou na quarentena namorando o ator Diego Braga há apenas sete meses. Por questões práticas, o casal decidiu passar o período juntos. Diego é pai dos gêmeos Diana e Danilo, de 4 anos, que ficavam parte do tempo com eles. Foi uma prova de fogo para um relacionamento tão recente? “Olha, dizem que quem sobreviveu ao isolamento como um casal, tende a ficar mais unido (risos). Acho mesmo que é o nosso caso. E ainda com as crianças, para alguém como eu, que escolheu não ser mãe, foi surpreendente”, constata.

“Eu e o Diego sempre conversarmos muito, desde o primeiro dia. E acho que esse período foi de amadurecimento da gente, da nossa relação. Acredito que essa quarentena, para quem estava aberto às transformações, foi um acelerador de mudanças. O mundo parou: você quer seguir no fluxo ou vai descer, parar e se perceber? Eu e o Diego vivemos e investimos em muitas mudanças nesta fase”.

“Olha, dizem que quem sobreviveu ao isolamento como um casal, tendem a ficar mais unidos (risos). Acho mesmo que é o nosso caso” (Reprodução Instagram)

Mariana tem se surpreendido com o relacionamento: “Convidei o Diego para ficar aqui no isolamento e as crianças ficam parte da semana com ele. Então, foi tudo muito intenso e também incrível. Passar pela quarentena com o Diego, me fez perceber que podia dividir a vida com alguém de novo. Fui capaz. De ceder em muitas coisas, de viver essa experiência com tudo. Para o Diego também foi maravilhoso. Porque quando ele se separou, ficou na casa da mãe, então essa temporada aqui o fez se sentir apto a viver as coisas que sonhava, como ter a casa dele. E ele acabou de se mudar, está feliz. Digo que foi um processo de empoderamento masculino”.

“Convidei o Diego para ficar aqui no isolamento e as crianças ficam parte da semana com ele. Então, foi tudo muito intenso” (Reprodução Instagram)

Depois da experiência deu vontade de casar, morar debaixo do mesmo teto para valer? “A questão de ficarmos isolados juntos, foi uma questão prática. Não queríamos ficar separados no meio de uma pandemia tão séria. Fomos com muito medo, porque éramos um casal de sete meses. E do dia para a noite, viramos um casal com dois filhos de 4 anos (risos). Mas fizemos um acordo pré quarentena: nos avisaríamos se ficasse demais para um dos dois. Mas tudo fluiu muito bem. Eu e Diego temos um acordo de sempre poder ajustar as velas. E sempre falamos que se fosse para morarmos juntos, seria em um novo lugar e não ninguém se encaixando na vida do outro”, divide Mariana.

“Posso dizer, que agora que ele está vivendo a experiência da casa dele, também está sendo muito legal voltarmos a ser namorados. Por que a ordem natural é casar? Queremos namorar, correr atrás dos nossos sonhos e realizações. Para que a gente seja um casal cada vez mais incrível, precisamos ser incríveis como pessoas. Está sendo ótimo ter dois lugares para ir, a minha casa e a dele”. Mariana também desmistifica a história da cobrança da maternidade para que a mulher se sinta mais completa: “Amo os filhos do Diego. Mas nunca quis ser mãe, amo ser madrasta”.

Com Danilo e Diana: “Amo os filhos do Diego. Mas nunca quis ser mãe, amo ser madrasta” (Reprodução instagram)

Produção sem pressão

No próximo dia 31, Dia do Orgasmo, Mariana estará em um live no canal do GNT no Youtube, ao lado de Deborah Secco, Marcela McGowan, e outras personalidades e artistas, no projeto da web série, “Liberdade vem de dentro”. “É um projeto para falar de liberdade sexual feminina. Pelo direito da mulher sentir prazer. São quatro episódios no canal e dia 31 de julho, vai ter uma live de duas horas. É para o Youtube, mas terão flashes no GNT”, anuncia.

Com a necessidade de isolamento social mantida, o projeto do seu monólogo continua em suspenso, mas Mariana pretende retomar a produção de conteúdo para o seu canal. “Estou ensaiando uma volta. Já entendi que o Youtube é uma plataforma que só ajuda quem vive para ela. O canal hoje não me dá dinheiro, ele me custa para produzir, mas estou repensando mais como um serviço de utilidade pública. Então, pretendo fazer vídeos e vou colocar também no Instagram, para que ajude as pessoas. Quero falar dos aprendizados desde o início da quarentena. Vou começar por aí”.

“Tenho em mim esse complexo de “Mulher Maravilha”, de querer fazer tudo, mas tenho aprendido muito para não voltar para esse ciclo” (Reprodução Facebook)

Sobre datas e prazos, Mariana diz que a única certeza, é que vai respeitar seu tempo . “Quando parei o canal, estava ensaiando o monólogo. Estava já adoecendo com a ansiedade, essa obrigação de produtividade. Tenho em mim esse complexo de “Mulher Maravilha”, de querer fazer tudo, dar conta de tudo. Tenho aprendido muito para não voltar para esse ciclo. Se descuidar, volto. Minha profissão não é digital influencer, não quero essa obrigação de ter que criar e compartilhar conteúdo o tempo todo. Tudo na minha vida sempre foi autêntico. Sou atriz e comunicadora, e o comunicador produz quando tem algo a comunicar”.

Ela constata e compartilha, um dos maiores aprendizados do período: “Acho que uma das coisas mais preciosas foi ver o quanto foi importante antes disso tudo acontecer, eu ter sempre abastecido minhas amizades profundamente. Então, mesmo distante fisicamente das pessoas, é como se o meu reservatório de afeto estivesse tão preenchido, que agora falte para acabar”.