Pré-estreia de “Aquarius” inaugura o Reserva Cultural, novo espaço dedicado à arte em Niterói, e retoma o protesto da equipe no Festival de Cannes: “Não tinha ninguém imparcial naquele contexto”, disse Maeve Jinkings


Sobre a abertura do local que teve projeto desenhado por Oscar Niemeyer, Sonia Braga, que protagoniza o longa e é moradora da cidade, disse que é fundamental que novos espaços dedicados à cultura sejam inaugurados. “Sempre que se cria um núcleo artístico, também se cria um movimento social e um desejo nessas pessoas”

Depois da repercussão do protesto realizado no Festival de Cannes, “Aquarius” estreia no Brasil. A partir da próxima quinta-feira, 1º, o público poderá assistir à narrativa dirigida por Kléber Mendonça Filho e protagonizada por Sonia Braga que ficou ainda mais conhecida depois do elenco ter se posicionado contra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no tapete vermelho da premiação francesa. Mas, como o HT gosta de adiantar os acontecimentos, fomos conferir a pré-estreia de “Aquarius”, que inaugurou Reserva Cultural, novo espaço dedicado à arte em Niterói. Moradora da cidade, a atriz Sonia Braga destacou a importância de haver um local como a Reserva Cultural para a população niteroiense. “Sempre que se cria um núcleo artístico, também se cria um movimento social e um desejo nessas pessoas. Eu acho que temos que facilitar isso, e não dificultar por medo”, argumentou Sonia.

Maeve Jinkins, Humberto Carrão e Sonia Braga na inauguração do Reserva Cultural, em Niterói (Foto: Reprodução)

Maeve Jinkins, Humberto Carrão e Sonia Braga na inauguração do Reserva Cultural, em Niterói (Foto: Reprodução)

Porém, como o assunto da noite era o lançamento do tão aguardado filme “Aquarius”, vamos ao longa. Na narrativa, Clara (Sonia Braga) é uma aposentada, viúva, mãe de três filhos e moradora por boa parte da vida de um apartamento em Boa Viagem, no Recife. No entanto, o edifício em que a personagem vive com a família foi todo comprado por uma construtora que deseja fazer um novo prédio. Contrária ao projeto e única moradora que se recusa a vender o imóvel, Clara passa a sofrer ameaças para que realize o negócio. Sobre o trabalho que trouxe a incrível Sonia Braga de volta ao cinema nacional, a atriz destacou o prazer que foi trabalhar com a equipe do longa durante todo o processo de gravação na capital pernambucana. “Eu ainda não estou acostumada com a separação dessa equipe, que foi uma das melhores que eu já trabalhei na minha vida. O roteiro de “Aquarius” é muito intenso, importante e lindo e virou um filme ainda mais incrível e profundo com o trabalho de toda essa equipe. Ele já é um trabalho internacional. Ele chega ao Brasil já com uma medalha de ouro, o que é muito bonito. É como um viajante”, contou.

Sonia Braga na pré-estreia de "Aquarius" (Foto: AgNews)

Sonia Braga na pré-estreia de “Aquarius” (Foto: AgNews)

A equipe que fez diferença na produção do filme também foi o ponto ressaltado por Maeve Jinkings. Orgulhosa e honrada, a atriz interpretou uma das filhas de Sonia Braga em “Aquarius”. E, como nos contou, esta experiência foi como uma realização profissional na carreira de Maeve. “O filme é uma obra muito especial que me toca muito. E fazer a filha da Sonia Braga, evidentemente, dá um toque mais especial ao trabalho. Eu cresci vendo os filmes da Sonia. Ela é um ícone do cinema. Além de grande atriz, a Sonia é uma pessoa deliciosa, divertida, inteligente, espirituosa, generosa e tem muita coisa para ensinar a qualquer jovem ator. Ela é uma mestra e uma grande performer”, elogiou a companheira de elenco.

Porém, alegrias e euforias à parte, a pré-estreia de “Aquarius” também foi marcada pelos comentários e repercussões do protesto em Cannes. Para Maeve Jinkings, a ideia do ato realizado em um dos maiores festivais de cinema do mundo partiu de todo o elenco. “Várias pessoas da equipe achavam que estavam tendo uma ideia original. E, quando fomos conversar sobre isso, percebemos que essas idéias estavam vindo de diversos lados, inclusive de fora da equipe, por causa da comunidade audiovisual brasileira que também estava lá. A gente tinha acabado de sofrer o golpe, que foi aquele processo absurdo que eu não consigo chamar de outra forma a não ser assim. Além disso, ainda tivemos, na mesma época, a extinção do Ministério da Cultura. Então, não tinha ninguém imparcial naquele contexto. E não tinha como ser diferente disso. Havia uma motivação muito grande para que a gente se manifestasse sobre tudo isso”, explicou a atriz que destacou a necessidade da equipe ter se posicionado em solos franceses. “Foi muito importante ter feito isso, não só pela equipe de “Aquarius”, mas pelos artistas de outras áreas que também apoiaram. Por estarmos em um evento internacional, a repercussão foi muito maior. Mas tiveram outras manifestações e, graças a isso, o governo interino voltou atrás e ressuscitou a pasta”, completou.

Maeve Jinkings e Sonia Braga (Foto: AgNews)

Maeve Jinkings e Sonia Braga (Foto: AgNews)

Além de todos os debates que o protesto da equipe de “Aquarius” gerou no Brasil e no mundo, para o elenco, o ato em Cannes teve conseqüências. Apesar da qualidade, o filme dirigido por Kleber Mendonça Filho se envolveu em uma polêmica com a comissão que elege o filme que irá representar o Brasil no Oscar. A confusão foi em decorrência da oposição explícita de um dos membros, o crítico Marcos Petrucceli, às ideologias do diretor de “Aquarius”. Outra questão encarada como “boicote” por parte do elenco, é a classificação etária que definiu que apenas os maiores de 18 anos podem assistir ao longa. Para Humberto Carrão, que está no elenco de “Aquarius”, todas essas discussões acabam ajudando na divulgação do filme. “Eu acho que, claramente, é uma forma de censura. Se compararmos a outros filmes que tiveram classificações etárias menores e com cenas muito mais fortes, percebemos que, em relação à “Aquarius”, é uma forma de retaliação e de evitar um público mais jovem nas salas de cinema. Porém, para mim, acaba fazendo ainda mais marketing”, opinou o ator Humberto Carrão.