Pós-‘Matrix’, os irmãos Wachowski depositam seu DNA em Mila Kunis. Será que agora eles se superam?


No novo sic-fi estrelado por Channing Tatum – O Destino de Jupiter – a dupla de cineastas tenta se livrar da maldição do cyber espaço!

Acaba de ser lançado o trailer legendado de “O Destino de Jupiter” (Jupiter Ascending, EUA, 2014), a nova produção dos irmãos Wachowski (da trilogia “Matrix”), rodada sob a chancela da Warner Bros e programada para estrear em 8 de agosto. Trata-se de uma ficção científica com toques estelares, com roteiro trancado a sete chaves e estrelada pelo “Magic Mike” Channing Tatum e a morena de olhões amendoados Mila Kunis.

Escrita e dirigida por Andy e Lana Wachowski, e com produção-executiva de Roberto Malerba e Bruce Berman, a película conta a história de Júpiter Jones (quase nome de uma dublê de revolucionária esquerdista com estrela de filme fetichista!), que sonha com as estrelas, mas leva vidinha pacata e medíocre, trabalhando como diarista em casas de família. Entretanto, sua vida muda quando é localizada por Caine (Tatum), ex-cacador geneticamente modificado, com orelhas que deixariam tanto o Senhor Spock (Leonard Nimoy) de “Star Trek”, quanto o elfo Legolas (Orlando Bloom), de “O Senhor dos Aneis”, salivando de inveja. O encontro com o alienígena dá partida à descoberta de que a mocinha, com sua assinatura genética, é a próxima na fila para receber uma fabulosa herança que pode mudar o equilíbrio cósmico.

Trailer: divulgação

Parece viagem? Tomara que que seja mesmo – e no bom sentido! O último filme dos irmãos, coincidentemente chamado no Brasil de “A Viagem” (Cloud Atlas, Warner Bros, 2012) e estrelado por Tom Hanks e Halle Berry,  foi fracasso retumbante de bilheteria e de crítica. Resta saber se, com esta nova produção, os cineastas-produtores-roteiristas conseguem se reabilitar perante às plateias, ou se terão a mesma sina que outro expoente da sétima arte, alçado ao estrelato no mesmo ano em que “Matrix” estourou nas salas de exibição e nas rodinhas de conversa, quando os irmãos ganharam evidência. Como todos sabem, M. Night Shyamalan, autor do estrondoso sucesso “O Sexto Sentido” (The Sixth Sense, Hollywood Pictures, 1999), virou queridinho da mídia no filme protagonizado por Bruce Willis e o então menino Haley Joel Osment para, depois, morrer aos poucos na praia. O diretor indiano até hoje periga se tornar conhecido como enfant terrible de um mega sucesso só, salvo uma ou outra sacada isolada, como a narrativa que conta a história de uma invasão alienígena à Terra, do ponto de vista de uma família comum, à margem desse evento extraordinário, em “Sinais” (Signs, Buena Vista Pictures, 2002). Dessa mesma maneira, o público está até hoje esperando outra produção de Andy e Lana Wachowski que esteja à altura do seu primeiro grande sucesso.

Naturalmente, superar o conceito inovador de “Matrix” é tarefa árdua. Além de abordar o cyber espaço em uma época em que a revolução digital mal havia se consolidado, o roteiro era transgressor ao lidar com a questão do confronto entre o mundo das aparências e a realidade comum. Quem é mais sedutora? Aquela figurinha fotochopada que escolhemos a dedo para estampar nosso avatar nas mídias sociais ou nossa triste figura (real e assutadora!), quando acordamos de manhã, de rosto inchado e com remela, cabelo desgrenhado e olheiras de ressaca, sem qualquer artifício que transforme nossa vida ordinária em algo mais atraente? Obviamente, o argumento do mundo artificial criado pelas máquinas para manter os humanos escravos, em sua essência, se assemelha à uma existência de vitrines, red carpets e editoriais de moda, nada verdadeira, mas altamente palatável e, assim, muito mais fácil de engolir do que aquela realidade rota e sombria, de quem acordou em um universo pós-apocalíptico depois de tomar a tal pílula vermelha. Ou, pelo menos, saiu para uma jornada de trabalho enfadonho em uma rotina nada especial. Típico caso em que o “Acorda, Alice!” difinitivamente não é mais interessante, mas, como costuma dizer Woody Allen: “A realidade ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife”.  Portanto, fica difíci para qualquer um, incluindo os irmãos Wachowski, conseguir ter outra epifania no mesmo nível. Vamos ter de esperar até agosto para ver.

Fotos: divulgação

O elenco de “O Destino de Jupiter” conta ainda com medalhões como Sean BeanEddie RedmayneJames D’Arcy e Tim Piggot-Smith, o que pode ser meio caminho andado, além de uma equipe técnica que costuma colaborar com a dupla de diretores, como o diretor de arte Hugh Bateup, a figurinista Kym Barrett e o compositor Michael Giacchino.