*Por Simone Gondim
Não é de hoje que as grandes emissoras estão encerrando contratos longos com nomes consagrados da TV e optando por vínculos temporários, geralmente por obra. Estrelas como Miguel Falabella, Tarcísio Meira, Glória Menezes, Antonio Fagundes, Renato Aragão, José de Abreu, Stênio Garcia, José Mayer, Malu Mader, Vera Fischer e Pedro Cardoso estão entre as que não fazem mais parte do elenco fixo da TV Globo, por exemplo. Em comunicado oficial, a empresa alegou um balanceamento entre contratos de prazo longo e de obra certa, a fim de atender de forma racional ao permanente fluxo de produções e se preparar para os desafios do futuro, evoluindo em seus modelos de gestão. Para um mercado cheio de atores e atrizes que sonham conquistar seu espaço, aumenta a expectativa. Mas fica no ar a pergunta: por que as emissoras apostam tão pouco em caras novas?
Para a produtora de elenco Gabi Rosales, o fato de a TV, atualmente, dividir a atenção do público com outras telas diminui as chances de as emissoras investirem em novatos e novatas como protagonistas de suas tramas. “No passado, as novelas reinavam absolutas nos lares e no coração dos telespectadores. Atualmente, por uma questão de mercado, infelizmente não é possível arriscar tanto, pois se aquela aposta não agradar, o produto corre um sério risco de retorno negativo do telespectador”, afirma ela. “Em uma época na qual dividimos verbas publicitárias com tantas outras plataformas, fica muito arriscado para uma emissora sofrer esse baque, então é mais seguro colocar uma cara que já seja conhecida do grande público”, acrescenta.
Ainda assim, Gabi acredita que nem tudo está perdido para as futuras estrelas. “Lugar para novos talentos sempre temos. Hoje em dia é mais difícil alguém se lançar como protagonista inicialmente, mas os bons atores conseguem ir galgando seu espaço aos poucos, aproveitando as oportunidades menores e, com o tempo, pegando um papel principal”, ressalta.
O agente Leandro Alencar, responsável por lançar, em 2019, dois protagonistas de “Malhação – Toda forma de amar” – Pedro Alves, que fez o Guga, e Jade Cardozo, intérprete da vilã Leila – é um dos que acredita no potencial de quem está chegando agora. “Grande parte do nosso casting é de caras novas. Vou muito ao teatro, onde posso conhecer profissionais e ter aquela identificação para começar um trabalho de sucesso”, explica ele. “Minha profissão tem essa coisa de caça-talentos. Gosto bastante disso e vejo que vem dando certo. É um trabalho de formiguinha, mas muito gratificante de fazer e acompanhar. Depois, você vê seu talento no ar, seja na TV ou no cinema, e aí o coração dispara”, observa.
Leandro confessa estar empolgado com o burburinho em torno da escolha da atriz que será Juma Marruá no remake de “Pantanal”, anunciado pela TV Globo. “Essa onda da nova Juma está sendo incrível. Atrizes desconhecidas mostrando interesse em fazer parte de uma obra de 30 anos atrás, que muitas nem assistiram. Torço muito para que seja uma cara nova do mercado, seria incrível demais. Quem sabe sai do meu escritório”, anima-se.
Mas há quem se incomode com a dispensa dos veteranos. Um deles é José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que foi um dos executivos mais poderosos da televisão brasileira. Em vídeo enviado ao programa “A tarde é sua”, da Rede TV!, ele se posicionou. “Quando a Globo começou, teve um ano de incertezas até que nós chegamos e evitamos que ela fosse à falência. Alguns artistas vieram não por salários milionários, porque não havia dinheiro. Eles vieram porque acreditaram em uma ideia, de forma que eles têm que ser tratados de uma forma diferente. Tem que haver uma gratidão em relação a esse pessoal, que eu considero investidores e não contratados da TV Globo”, disse Boni. “A contratação por obra certa é legítima, mas a gratidão é imprescindível”, finalizou.
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