*por Vítor Antunes
Pelé costumava falar de si na terceira pessoa, isso quando não distinguia suas personalidades: Era “Edson” – seu nome de batismo – ou Pelé, de acordo com a situação. Hoje, o que costuma ser repetido é que quem partiu foi o Edson. O Pelé, não. Este é eterno. Para além dos nomes que usava para distinguir a si de sua persona, o Rei também chegou a atender por outros títulos: Ministro, ator, e até por… Plínio! Na novela “Os Estranhos”, da extinta TV Excelsior, chamou-se Plínio Pompeu. Na trama das 18h, “História de Amor”, fez uma participação como a si próprio, porém, na função de ministro extraordinário dos Esportes. Em outros programas viveu personagens que tinham seu nome e aproveitavam da sua fama e personalidade. Hoje, transcendeu à vida, pois já tinha a História a seu favor. Veja cinco momentos de Pelé na TV.
Os Estranhos, 1969
No ano de 1969, Pelé já era um nome reverenciado no futebol. Havia conquistado a Copa de 1958 e 1962. No último ano de década de 1960, ele foi convidado a protagonizar a novela “Os Estranhos”, de Ivani Ribeiro (1922-1995). A fórmula pretendia ajudar a emissora a ter melhores resultados na audiência, que vinha em baixa, e a ter também melhor retorno comercial, pois que estava à beira da falência. A novela foi ao ar no horário das 19h30 e foi exibida por pouco mais de quatro meses. A trama de Ivani, que misturava ficção científica, extraterrestres e contava com o Rei do Futebol vivendo um escritor de romances policiais chamado Plínio Pompeu, o único amigo de um grupo de extraterrestres que veio à Terra para passar férias (!). A trama não logrou bons resultados. Descontente com o folhetim, Rosamaria Murtinho pediu para deixar a trama. Outro dado curioso: Na trama “Pelé era proibido de amar”, como dizia a Revista Intervalo. Seu personagem, desde o início, não teria par romântico. Dizia-se à época, que por exigência de sua esposa à época, Rose. A Excelsior viria à falência no ano seguinte, 1970. Esta foi a única novela completa na qual Pelé trabalhou.
É extraordinário o espírito de disciplina do Pelé. Sempre chega no horário e fica no estúdio até o diretor dispensá-lo. (…) Até comove o esforço do rapaz em se entrosar com a turma. E se está numa roda , fica todo sem jeito quando alguém o chama de Rei – Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006)
História de Amor, 1995
Entre 1995 e 1998, Pelé foi o Ministro dos Esportes durante o Governo Fernando Henrique Cardoso. Lançando mão desta passagem pelo segmento de políticas públicas para o esporte, Pelé, tão logo fora nomeado, gravou uma participação na novela “História de Amor” (1995). Na trama de Manoel Carlos, protagonizada por Regina Duarte, o atleta contracenou com Nuno Leal Maia, intérprete de Assunção, que era um jornalista esportivo, e falou sobre suas expectativas na ocupação do cargo. Um dos feitos de Pelé como ministro foi a lei que levava o seu nome, e que determinava a extinção da figura do passe nos contratos dos atletas de futebol por três anos.
O Clone, 2001/2002
Na novela de Gloria Perez várias personalidades estiveram presentes no “Bar da Dona Jura”, núcleo popular da trama das 20h. O botequim da personagem de Solange Couto tornou-se famoso não apenas pelo pastel de camarão, mas pelas visitas de famosos, que iam desde Ana Maria Braga a Oswaldo Sargentelli (1924-2002). Pelé também marcou presença. Pegando carona na campanha e na esperança do pentacampeonato do Brasil na Copa de 2002, o que viria a acontecer, o jogador aproveitou para lançar uma música temática sobre o campeonato mundial, além de contracenar com a icônica personagem dona do bordão “não é brinquedo não”. A música fez algum sucesso e passou a compor a trilha complementar da novela, no disco “O Melhor do Bar da Dona Jura”.
Copa do Mundo de 1994 e 1998
Pelé esteve presente em quatro, dos cinco, títulos em Copa do Mundo pela Seleção brasileira. No de 1958, 1962 e 1970, era jogador. No de 1994, comentarista pela TV Globo. O atleta fora convidado por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ainda durante a Copa de 1990. A sua imagem junto a Galvão Bueno tornou-se imorredoura – ambos comemorando o tetracampeonato do Brasil, abraçados, ao fim do jogo contra a Itália. Bem sucedido na função de comentarista, Pelé repetiria a função como comentarista na Copa seguinte, de 1998, ao lado de Galvão Bueno. Porém, a campanha do Brasil não foi favorável e a Seleção não conquistou o pentacampeonato na edição francesa do campeonato mundial. Após o passamento de Pelé, dia 29/12, Galvão gravou um depoimento emocionado, exibido pela TV Globo.
O que eu queria dizer é o seguinte: (…) Edson se foi, mas Pelé, não. Pelé é eterno, Pelé sempre será eterno. O Rei Pelé, primeiro e único. Era um brasileiro que era rei do mundo inteiro. O maior patrimônio da história do futebol mundial. O mundo em geral fica mais triste, fica uma espécie de um vazio porque ele foi único – Galvão Bueno, em 2022.
Família Trapo, 1967
Em 1967, Pelé gravou uma participação especial no humorístico “Família Trapo”, que era exibido pela TV Record. Naquele episódio, o Rei do Futebol “ensinava” os personagens de Ronald Golias (1929-2005) e Jô Soares (1938-2022) a jogar bola. Nervoso em sua estreia como ator, o atleta dizia não haver decorado “bem o papel”. Afeito a improvisações, Golias fez várias piadas inventadas na hora quando, durante a gravação, Pelé tropeçou, em cena. O episódio foi ao ar assim mesmo. Família Trapo era uma sátira da Família Von Trapp, de “A Noviça Rebelde”, e tonou-se um dos maiores sucessos da história da TV Brasileira, e especialmente, da TV Record.
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