*por Luísa Giraldo
Nos bastidores de “Garota do Momento”, o momento é de celebração por estar conquistando o carinho da Geração Z e virado fenômeno nas redes sociais.Embora não tenha sido a primeira cena homoafetiva em uma novela da TV Globo, o beijo dos personagens Guto (Pedro Goifman) e Vinícius (Elvis Vittorio) ainda dá o que falar em “Garota do Momento”. Até hoje ainda desperta debates acalorados nas redes sociais. Parte do público comemorou a consolidação do casal, porém muitos telespectadores criticaram a duração do momento, avaliado como “muito curto”. Em entrevista exclusiva ao site, Pedro Goifman, 21 anos, reflete sobre a importância dos relacionamento homoafetivos para a trama narrativa e critica LGBTfobia, ainda presente na contemporaneidade.
Inabalável com as críticas, Goifman reflete sobre a duração da cena. “A imagem do beijo sintetiza muita coisa e eu não tiro a importância dela de forma alguma. Estou muito feliz que, na novela atual de maior sucesso, tenhamos tido essa cena”.
Ainda mais importante do que o beijo, é a história que estamos contando. O texto aborda de forma muito sensível, não só a homossexualidade, como outro assuntos políticos importantes. A trajetória do Guto é bonita e acredito que estamos contando essa narrativa de forma responsável — Pedro Goifman.
Bissexual assumido desde janeiro, o ator abre o coração sobre as semelhanças entre o universo de descobertas do personagem e dele próprio. Para além da questão com a sexualidade, o Pedro se identifica com Guto de muitas maneiras.
“Acredito muito na ideia de que todos os personagens estão dentro de nós, dos mais bonzinhos aos mais cruéis — até porque ninguém é uma coisa só. Todo mundo já passou ou vai passar pelo período que o Guto está vivendo: a adolescência, um momento de muitas descobertas, perguntas e inquietações”, pontua.

Pedro Goifman fala sobre beijo gay em “Garota do Momento” (Divulgação/ Philipp Lavra)
No entanto, nem tudo são flores. Goifman vive inquietações diferentes de Guto. “Sou muito diferente dele. Não vivi as mesmas situações que ele enfrenta. Mas esse é o trabalho do ator: criar, inventar, mentir e viver. E pelo retorno que tenho tido, tem funcionado. Muita gente está se identificando com o Guto, o que me deixa muito satisfeito”.
Sou curioso sobre o mundo e sobre mim mesmo. Acho importante me repensar e me reinventar, tenho isso em comum com o Guto — Pedro Goifman.
LGBTfobia
Ao frisar que não é um pesquisador da área, o que pode o levar a dar uma “análise rasa”, Pedro Goifman reflete sobre as conquistas da comunidade LGBQIA+ na contemporaneidade. Aos interessados pela temática, ele indica a leitura de obras de filósofos como Paul B. Preciado e Judith Butler, referências contemporâneas no pensamento da teoria Queer e do feminismo.
“Sobre algo ter mudado e se as pessoas lidam melhor com a temática LGBQIA+: sim, melhorou, mas o preconceito ainda existe e é muito forte. Não podemos negar os avanços, mas também estamos longe do ideal. Se acomodar é impossível. Sobre o preconceito velado: é também. Ainda há muita gente sendo assassinada, muitos ataques explícitos rolando”, lamenta. A novela dá bastante espaço para essa discussão. A carga dramática é compartilhada com Anita (Maria Flor), Edu (Caio Manhente) e Nelson (Felipe Abib), mãe, irmão e pai do personagem respectivamente.

Pedro Goifman dá detalhes sobre relação com Klara Castanho e o resto do elenco (Divulgação/ Philipp Lavra)
Na novela, o personagem Guto contou sobre a atração por Vinicius à mãe e ao irmão. Os familiares aprovaram a relação. Toda a tensão foi guardada para o momento que Nelson, um personagem marcado pro falas machistas e homofóbicas, descobrir sobre a sexualidade do filho.
Goifman reflete sobre a postura de Nelson, que retrata inúmeros comportamentos retrógrados e machistas na contemporaneidade, especialmente após a ascensão do conservadorismo no Brasil nos últimos anos. “Acho triste que figuras como essa existiram e existem até hoje. É muito importante que retratemos isso na ficção e acho que o texto e a atuação do Felipe equilibram o Nelson em perfeitas doses do ridículo, de brutalidade, do risível, da crueldade, do tosco e do grotesco”, avalia.
Não podemos negar os avanços, mas também estamos longe do ideal. Se acomodar é impossível — Pedro Goifman.
Relacionamento no set
Antes do personagem de Pedro Goifman se envolver com Vinícius, ele teve um breve romance com a doce e traumatizada Eugênia (Klara Castanho). O término do casal não foi bem encarado pela moça, que atribuiu o rompimento à sua aparência (Eugênia tem cicatrizes por todo o corpo de um incêndio). Foram inúmeros capítulos até que Guto abrisse o coração para Eugênia e confidenciasse o segredo: a paixão por outro homem. Eles se tornaram, finalmente, bons amigos. “Nunca vivi uma situação parecida”, relembra ele.
Goifman define que a relação com os parceiros de cena Klara e Elvis “é excelente”. O ator detalha, inclusive, a dinâmica com a artista, que é super reservada. “A Klara foi a pessoa que mais me ajudou a entender a linguagem da novela, como tudo funciona. Ela faz isso desde criança e entende muito. Foi fundamental para a minha construção do Guto”.
O intérprete também celebra a relação com o atual par em “Garota do Momento”, que está conquistando o carinho da Geração Z e virou fenômeno nas redes sociais. Pedro aproveita o momento para celebrar a dinâmica do elenco: “Muita inião. Estamos muito felizes com a novela e nos damos muito bem e isso aparece na tela”.
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