*Por Brunna Condini
Letícia Colin tem resplandecido como a anti-heroína Zelia na novela ‘Garota do Momento‘, e agora também brilha no longa ‘A Lista‘, produzido pelo Núcleo de Filmes dos Estúdios Globo, que está disponível no catálogo Globoplay. Letícia e Lilia Cabral são cúmplices ardilosas na trama das seis da Globo, e repetem a dobradinha no filme, desta vez como mãe e filha, para contar a história adaptada da peça homônima de Gustavo Pinheiro, com direção de José Alvarenga Jr. “A minha personagem, Carolina, deflagra uma relação complicada entre mãe e filha. Inclusive essa é uma das coisas que faz a Laurita, personagem da Lilia, sentir um mal estar, uma falta de ar, que não sabe indentificar o que é. Isso ‘aluga um tríplex’ na cabeça dela, que acha que está doente, mas está ansiosa. Essa é uma das questões delicadas que o filme aborda. Elas tentam uma aproximação, só que têm uma relação bem difícil. Até que acontece alguma comunhão até o final”, conta a atriz, que na vida pessoal também lida com a ansiedade extrema e procura ajuda.
A atriz destaca que seu encontro com Lilia aconteceu primeiro em ‘A Lista‘ e não em ‘Garota do Momento‘, embora o longa só esteja sendo lançado agora. “Filmamos antes. Fiquei muito feliz de reencontrá-la na novela”. Satisfeita com o momento frutífero na carreira, Letícia também fala dos planos: “Depois da novela, devo fazer mais um filme, mas antes quero descansar com o meu filho. Vamos curtir uma praia, que ele ama, além de estar aprendendo a nadar cada vez melhor. Vou dar um pequeno reset e voltar para trabalhar, porque ainda tenho muitas histórias para contar”.
Me parece muito pertinente continuarmos criando e falando da gente no audiovisual. Porque quando a gente fala da gente, falamos de todo mundo. Nos conectamos nas nossas particularidades. É uma alegria muito grande fazer cinema neste momento do país e fazer parte desta geração de artistas, e que venha o Oscar (risos) – Letícia Colin
Letícia Colin comemora o momento no cinema nacional e fala de como lida com a ansiedade nos dias de hoje (Divulgação)
A atriz destaca a satisfação de lançar um filme neste bom momento para o audiovisual e para o cinema brasileiro. “Está lindo! A gente comemora de verdade o sucesso da Fernanda Torres, de ‘Ainda Estou Aqui‘, de um cineasta tão consistente como o Walter Salles, e do Selton (Mello), um artista que acompanhamos e cada vez escolhe melhor seus trabalhos. Tudo isso é motivo de muito orgulho. Além do tema do filme alcançar tanta gente se dando conta de algo tão importante para a história do país. Tem também outro filme maravilhoso, o ‘Baby‘, do Marcelo Caetano, que é um ídolo e quero muito trabalhar com ele. Esse é um longa deslumbrante, necessário. Fico muito honrada de estar vivendo no mesmo tempo e espaço destes artistas”.

Lilia Cabral e Letícia Colin são mãe e filha em ‘A Lista’ (Foto: Reprodução/Instagram)
Autoconhecimento e fé em busca do bem-estar
Ao comentar sobre a trama de Laurita em ‘A Lista‘, que sofre dentro da sua solidão com crises de ansiedade, Letícia fala como ela mesma lida com a questão da sua saúde mental. “Eu super conheço a ansiedade e acho que lido com ela diariamente. Já tive momentos em que fui mais assaltada por essas sensações que capturam a nossa presença. A ansiedade é essa ausência do momento presente e dessa percepção, dessa existência, dessa afirmação de estar aqui e agora, de que era exatamente isso que deveria estar acontecendo e não outra coisa. Busco muito a análise, tenho um psicanalista que me acompanha. Às vezes, eu faço duas sessões por semana, mas se eu estiver mal, recorro a ele e faço três sessões, porque é preciso falar. É preciso dar contorno às nossas emoções e impulsos, e dar nome também para o que sentimos. Assim, vamos dando destino para as nossas angústias e vamos concretizando essas emoções, que às vezes nos sequestram. Mas aí a gente traz elas de volta, colocando-as nos seus devidos lugares”.

“Me parece muito pertinente continuarmos criando e falando da gente no audiovisual. Porque quando a gente fala da gente, falamos de todo mundo” (Foto: Jorge Bispo)
A atriz que vem praticando o budismo desde 2015, revela o caminho de sua fé hoje na busca por paz e orientação:
O budismo me ajudou muito na minha juventude para a vida adulta. Carrego dentro de mim os ensinamentos que o budismo de Nitiren Daishonin me trouxe. Hoje em dia, eu sou adepta do candomblé e tem feito muito sentido para mim essa conexão com os Orixás e com a natureza. Isso também me ancora – Letícia Colin
“Conheço a ansiedade e acho que lido com ela diariamente. Já tive momentos em que eu fui mais assaltada por essas sensações. Para lidar busco a análise e a fé” (Foto: Jorge Bispo)
A Lista
A narrativa principal de ‘A Lista‘ acompanha Laurita (Lilia Cabral), uma professora aposentada e moradora de Copacabana que, inesperadamente, passa a conviver com sua vizinha, a cantora lírica Amanda (Giulia Bertolli), atriz que também colabora no roteiro supervisionado por Marcelo Saback. A relação entre as duas, a princípio marcada por diferenças geracionais, acaba transformando irreversivelmente suas vidas. Letícia faz Carolina, a filha de Laurita. “A Giulia, que é a filha da Lilia na vida real, interpreta a vizinha. No filme, a filha sou eu”, brinca. Ela analisa o enredo do filme, que aborda com leveza temas profundamente humanos e universais.”Um dos pontos de tensão deflagrados no roteiro é a solidão de Laurita, que vive em Copacabana, que é um lugar que acolhe a todos e a todas as solidões, né? Copacabana é uma realidade importante nessa história. A filha dela, minha personagem, também mora no bairro, mas elas não têm uma relação boa. No filme, percebemos que parece ser por conta do casamento dela, como se o marido não se desse bem com sua mãe. E aí elas vão se separando, esfriando, ficando distantes e não conseguindo romper com essas diferenças”, diz.

Giulia Bertolli e Lilia Cabral, filha e mãe na vida, são vizinhas na ficção (Divulgação)
“Ao longo da história, a Laurita começa a fazer terapia e descobre que esses conflitos com a filha acontecem porque elas são muito parecidas. As duas têm personalidade forte, e também tem alguma invasão na vida dessa filha, das escolhas dela. Acho que isso acontece muito, essa simbiose na maternidade, essa falta de limites e esses atropelos parentais. É um filme, que apesar de ser leve, divertido, é construído em cima de bases de psiquê muito sólidas, sabe? Então, tem a solidão dessa mulher, que é viúva e ri disso, agradece até por isso, talvez porque não tenha tido um casamento muito feliz. E vive uma linda liberdade tardia, vai redescobrir sua sexualidade, a alegria de viver pós pandemia, que também é um elemento muito forte para o filme. Como essas pessoas sobreviveram, como nós, que estamos aqui, podendo fazer essa entrevista, contar essa história, sobrevivemos, e como a gente vai conseguir se reconectar com um sentido mais profundo da vida. Também tem essa jornada de uma personagem que se reconecta com um sentido mais profundo de viver, inclusive com relações fora daquelas compulsórias, que são as familiares. Laurita é convidada a se envolver com os amigos do destino, da vida”.

“Carrego os ensinamentos do budismo. Hoje em dia eu sou adepta do candomblé e tem feito muito sentido para mim essa conexão com os Orixás e com a natureza” (Foto: Jorge Bispo)
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