Paula Braun lança primeiro filme como diretora: ‘É difícil produzir cinema no Brasil. Quase desisti, mas deu certo’


A atriz estreia na direção do documentário “Ioiô de Iaiá”, que produz desde 2014, focado na relação de sete casais juntos há cerca de 50 anos. Paula fala sobre a produção, que estreia no Globoplay, o casamento com o ator Mateus Solano e o amadurecimento da relação e a realidade de criadora no país: “Há dez anos já era difícil produzir, principalmente para mim, que sou uma atriz e estou começando a dirigir. E, agora, ficou pior. Acho que todos os produtores de cultura têm enfrentado dificuldades. Não só por conta da pandemia, mas por uma questão política. Foram muitos fatores que fizeram a realização do filme só acontecer agora. Em alguns momentos tive até vontade de desistir, confesso. Achava que não ia ficar pronto. Mas deu certo. Ele é fruto de uma equipe muito bacana e que bom que vai estrear agora, neste momento em que a terceira idade foi uma das mais prejudicadas com esse vírus, essa realidade horrorosa que estamos enfrentando”

*Por Brunna Condini

Paula Braun vai ver nascer para o público o seu primeiro filme, que foi gestado desde 2014. ‘Ioiô de Iaiá‘ estreia dia 1º de outubro, no Globoplay, e mostra sete casais que estão juntos há cerca de 50 anos. Feliz da vida, ela fala sobre a demora do processo para a conclusão do projeto: “É muito difícil produzir cinema no Brasil. Há 10 anos já era difícil produzir, principalmente para mim, que sou uma atriz e estou começando a dirigir. E, agora, ficou pior. Acho que todos os produtores de cultura têm enfrentado dificuldades. Não só por conta da pandemia, mas por uma questão política. Foram muitos fatores que fizeram a realização do filme só acontecer agora. Em alguns momentos tive até vontade de desistir, confesso. Achava que não ia ficar pronto. Mas deu certo. Ele é fruto de uma equipe muito bacana e que bom que vai estrear agora, neste momento em que a terceira idade foi uma das mais prejudicadas com esse vírus, essa realidade horrorosa que estamos enfrentando”.

E pontua: “Esse filme tem um tempo dele. Primeiro entrevistei quatro casais, depois tive um filho. Fui montar o material e percebi que precisava ouvir mais casais, então foi mais um ano de entrevistas e, depois, filmamos mais três casais que foram essenciais. Tudo isso também fez meu olhar amadurecer para escolher o material de uma forma ética, em que eu não expusesse ninguém de uma forma não respeitosa”.

"É muito difícil produzir cinema no Brasil. Há dez anos já era, principalmente pra mim, que sou uma atriz e estou começando a dirigir. E agora, ficou pior" (Divulgação)

“É muito difícil produzir cinema no Brasil. Principalmente pra mim, que sou uma atriz e estou começando a dirigir. Há 10 anos era assim e, agora, ficou pior” (Divulgação)

O documentário acompanha o dia a dia e os ensinamentos aprendidos em uma vida compartilhada por décadas, os sonhos realizados e as dificuldades enfrentadas tanto nessa longa jornada quanto agora com as barreiras impostas pela vida. “Também é um retrato do próprio Brasil e suas contradições, pois traz a visão de casais de diferentes culturas, religiões e camadas sociais. Através do amor e companheirismos, o público é apresentado à histórias que venceram a ditadura, a pobreza, o preconceito contra a homossexualidade e outros obstáculos em um país desigual e em constante transformação”, detalha, acrescentando: “São perfis muito diferentes e o mais bonito disso tudo, é onde eles se encontram na história, com o amor, as dificuldades, os conflitos. Descobri fazendo o filme que desejo falar mais sobre a velhice. Sobre viver um dia de cada vez. Sem pressa, sem precisar provar nada pra ninguém. Tudo isso eu vi em um ritmo de vida deles muito calmo e sereno. E isso mexeu muito comigo. Fiquei pensando nas escolhas da vida e o que vale a pena de verdade. Tive muita sorte como cada um desses casais abriu a casa, a vida, a família para mim, suas histórias e tudo o que viveram comigo e na minha frente. Momentos que a arte proporciona e estão bem vivos dentro do filme”.

Paula com um dos casais do filme: "Fiquei pensando nas escolhas e o que vale a pena de verdade. Tive muita sorte como cada um desses casais abriu a casa, a família pra mim, suas histórias e tudo o que viveram comigo e na minha frente" (Divulgação)

Paula com um dos casais do filme: “Fiquei pensando nas escolhas e o que vale a pena de verdade. Tive muita sorte como cada um desses casais abriu a casa, a família para mim, suas histórias” (Divulgação)

Amor de todo dia

Casada com o ator Mateus Solano há 10 anos e juntos há 13, eles são pais de Flora, 10, e Benjamin, 5. Paula diz que contou com a parceria e olhar do ator durante todo o processo do filme. “Ele foi parceiro ao quadrado, me incentivando muito, principalmente nos momentos difíceis, que eu achava que não daria certo. Me colocou e coloca para cima sempre e isso é muito importante em um casal em que um apoia o trabalho do outro”.

Mateus Solano e Paula, que fala do período pandêmico: "Nós fortalecemos como casal" (Reprodução Instagram)

Mateus Solano e Paula, que fala do período pandêmico: “Nós fortalecemos como casal” (Reprodução Instagram)

E avalia o casal no período pandêmico até aqui. “Agora estamos os dois trabalhando e as crianças voltaram para a escola. A pandemia tem uma outra abertura do que foi no ano passado, quando ficamos todos muito dentro de casa. Quando ficamos os quatro fechados, tivemos muito medo do que aconteceria, medo de perder as pessoas para essa doença. Foi muito triste, não tem nada para se tirar de lição disso. Foi um baque grande. Mas, ao mesmo tempo, ficamos numa bolha de amor nós quatro, um dando força para o outro. Quando eu estava pior, Mateus segurou. E vice-versa. E nós dois protegendo as crianças para que fosse menos duro para elas, porque um ano e meio de uma infância é muito tempo. De todo o mal, nos fortalecemos, inclusive como casal”.

Paula também reflete sobre a história de amor que vive com Mateus: “Não sei por que damos tão certo. Acho que o motivo é nos escutarmos e termos calma um com o outro. Também passamos por muitas fases. Já estamos mais maduros. Eu tenho 42 anos e, ele, 40. E temos cada vez mais, vivido um dia depois do outro. Essa é uma lição que aprendi com o filme. E dando valor aos pequenos prazeres. Isso é muito gostoso. Nos planos estão muitas viagens juntos, mas vamos devagar”.

Atriz e criadora

Com quase 30 anos de trajetória nas artes, ela revela que tem um projeto como atriz a caminho. “Estou bem feliz, porque tenho saudade de atuar. E também vou continuar investindo na carreira como roteirista e diretora. Já tenho outros projetos para tocar. Agora, em outubro, a ideia é que eu me isole por umas duas semanas para terminar um roteiro. Também quero me aprofundar no tema da velhice em outro trabalho. O tempo é algo que mexe comigo, me assusta e fascina. Acho que agora tem uma perspectiva boa de produzir com os streamings. Estou numa fase bem animada com tudo o que está vindo”.

Relação nas redes

Nas redes sociais, a atriz tem curtido a relação próxima com os seguidores. “Sempre gostei muito de interagir com as pessoas. O meu lado que fez o documentário é um lado curioso, que gosta de ouvir histórias, conversar, conhecer outras realidades diferentes da minha. O mundo é grande e cada pessoa carrega o mundo, experiências e visões diferentes. Gosto demais disso”.

"Estar numa rede social também dá a chance de ignorarmos o que não curtimos, o que incomoda a gente. Aprendi a ignorar o que vem de uma forma agressiva, invasiva" (Divulgação)

“Estar numa rede social também dá a chance de ignorarmos o que não curtimos, o que incomoda a gente. Aprendi a ignorar o que vem de uma forma agressiva, invasiva” (Divulgação)

Mas analisa o outro lado destas relações: “Estar em uma rede social também dá a chance de ignorarmos o que não curtimos, o que incomoda a gente. Aprendi a ignorar o que vem de uma forma agressiva, invasiva. Já me abalei muito com violências que me escreveram nas redes, mas hoje em dia aprendi que por trás de um avatar podem ter problemas que nem são da minha alçada, são da pessoa. Então, quando não curto apago e relevo. Simbora pra frente”.

Paula também comenta sobre o movimento de aceitação de corpos livres, da ‘vida como ela é’, no mundo digital e na TV, que vem crescendo. “Ao mesmo tempo que vejo esse movimento muito bonito das pessoas com seus corpos reais, com gente falando sobre isso, publicando fotos, o que é uma vitória gostosa e importante para todas as mulheres; ainda tem um número enorme de procedimentos vendidos a preço de banana e pessoas muito novas já fazendo um monte. Não que eu seja contra fazer procedimentos, se você acha que isso realmente vai mudar algo na sua autoestima, mas a questão é: o exagero com que isso é feito. E a facilidade. Muitas vezes sem acompanhamento e suporte por trás. Porque quando você muda sua imagem no espelho, muitas coisas mudam dentro. E nem sempre isso vem como uma coisa boa. Acho que devemos ter muito cuidado”, opina.

“Sem dúvida, o movimento que acho mais interessante é o que nos aceitamos, nos vemos nos outros, nas atrizes, atores e influenciadores, que fogem de padrão quase ‘impossível’ para o corpo, para a realidade econômica e cultural do Brasil, que é diverso, rico e bonito”.

"Sem dúvida, o movimento que acho mais interessante é o que nos aceitamos, nos vemos nos outros, atrizes, atores e influenciadores, que fogem desse padrão quase 'impossível' para o corpo" (Reprodução Instagram)

“Sem dúvida, o movimento que acho mais interessante é o que nos aceitamos, nos vemos nos outros, nas atrizes, atores e influenciadores, que fogem de padrão quase ‘impossível’ para o corpo (Reprodução Instagram)

“Sem dúvida, o movimento que acho mais interessante é o que nos aceitamos, nos vemos nos outros, nas atrizes, atores e influenciadores, que fogem desse padrão quase ‘impossível’ para o corpo, para a realidade econômica e cultural do Brasil, que é diverso, rico e bonito”.