* Por João Ker
Invasão verde e amarela na Cidade Luz. Começa hoje (01/04) o 16º Festival de Cinema Brasileiro de Paris, com vários filmes ainda inéditos comercialmente no Brasil. A mostra, que este ano tem como temas O Futebol e a Ditadura, reune uma seleção de 26 longa-metragens feitos no país ou que se relacionem a ele.
Sobre os 50 anos do Golpe Militar, foram selecionados o inédito “Setenta”, documentário sobre um grupo de amigos que lutaram na década de 1970 contra os militares; e “O ano que meus pais saíram de férias”, drama ficcional de 2006 que gira em torno de uma criança com doze anos de idade e seus pais exilados. Para os amantes do esporte haverá a pré-estreia mundial de “Looking for Rio”, documentário francês em que o jogador Éric Cantona explora a rivalidade dos times cariocas. Outro grande destaque do festival será a reexibição do clássico drama ficcional “Pra Frente, Brasil” (de Roberto Farias, Embrafilme, 1982), com Reginaldo Faria, Antônio Fagundes, Natália do Vale e Elizabeth Savalla, que aborda a paixão do brasileiro pelo futebol e o fato de a Copa de 1970 ter sido uma espécie de ‘política pão e circo’ para que algumas pessoas esquecessem momentaneamente a ditadura. O documentarista Eduardo Coutinho também será lembrado durante a mostra com a exibição do filme “Cabra marcado pra morrer” (Mapa Filmes, 1985) que fala, da maneira peculiar pela qual Coutinho ficou conhecido, sobre uma família destruída pela ditadura.
Entre os lançamentos, está também “O Lobo Atrás da Porta” (de Fernando Coimbra, Gullane Filmes, 2013), drama ficcional sobre uma mulher apaixonada por um cara casado e obcecada pela família original que ele mantém. Durante o Festival do Rio, no ano passado, o longa rendeu o prêmio de melhor atriz para Leandra Leal e ainda dividiu o de ‘Melhor Filme’ com “De Menor”, que fala sobre a situação de crianças entregues à vara de justiça infantil. Outro dessa recente leva que foi elogiado durante o festival carioca e será exibido em Paris é “Tatuagem”. O drama de Hilton Lacerda se passa em uma Recife durante a ditadura e conta de forma original e livre de preconceitos a história de um jovem militar homossexual que se apaixona por um ator performático.
A capital francesa ainda terá um gosto da diversidade cultural, geográfica e artística brasileira, com filmes que exploram diferentes facetas do país. Serão exibidos “Revelando Sebastião Salgado”, primeiro documentário sobre um dos mais importantes fotógrafos nacionais; “A Batalha do Passinho”, que mostra como a dança vira um movimento popular e chega a conquistar o país inteiro, inclusive Beyoncé durante o Rock in Rio; e uma metalinguagem do cinema brasileiro, com o documentário “Cidade de Deus – 10 anos depois”, que mostra a mudança na vida dos protagonistas depois que o clássico de Fernando Meirelles foi lançado.
O Festival começa com a exibição de “Serra Pelada” e termina com o documentário “Democracia em Preto e Branco”. A França, por sinal, anda tendo um caso de amor com o cinema brasileiro. Coisa de pele. No 26º Fetsival de Cinema Latino-Americano de Toulouse, a sensibilidade do mineiro “O Homem das Multidões” (de Marcelo Gomes e Cao Guimarães, Cinco Em Ponto2013) acaba de levar o maior prêmio da noite , depois de ter ganhado o ‘Prêmio do Júri’ e ‘Melhor Fotografia’ no 29º Fetival de Cinema Internacional de Guadalajara, na Espanha. A história fala basicamente sobre como as relações interpessoais podem ser artificializadas por pessoas que desejam fugir da solidão. Um maquinista que encontra companhia em multidões desconhecidas e uma controladora da estação de metrô que vive mergulhada em redes sociais – outro artifício que imita as relações humanas – são os personagens principais da trama. É variedade nacional para nenhum brasileiro ou gringo reclamar.
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