Os impactos do machismo: no BBB e na vida, passando pelos episódios recentes com Paolla Oliveira e Luana Piovani


O Brasil tem observado os recentes episódios machistas e preconceituosos que vem acontecendo no BBB24 e nós também refletimos sobre isso aqui. E ampliando o foco, ainda analisamos as consequências do machismo nos episódios envolvendo a pressão estética sofrida por Paolla Oliveira, e as críticas aos posicionamentos de Luana Piovani, que mais do que ais do que apontar uma discordância em relação aos seus pontos de vista, tentam descredibilizá-la, bem ao modo do tratamento de nossa sociedade patriarcal. Fato é: falas machistas, comportamentos abusivos, assediadores e discriminatórios não são mais aceitos. E ninguém aguenta mais educar ninguém. Procurem saber! Assim melhoramos todos

*Por Brunna Condini

Com uma semana de BBB24 o que sobressaiu no confinamento não foram as biografias individuais e nem os estilos de jogo, mas um festival de declarações machistas, sexistas, etaristas e preconceituosas de alguns participantes. No mesmo período, fora o reality, também virou assunto aqui fora o ataque a mulheres famosas, como Paolla Oliveira e Luana Piovani, por situações distintas, mas tendo o machismo na raiz dos episódios. Ou seja, a frase de Simone de Beauvoir (1908-1986) infelizmente ainda faz muito sentido nos dias atuais: “O machismo faz com que o mais medíocre dos homens se sinta um semideus diante de uma mulher”.

No Big Brother assistimos em rede nacional os confinados Rodriguinho e Nizam, com a presença e conivência de Lucas Pizane (atualmente no Paredão ao lado de Beatriz e Davi) e Vinicius, criticarem e opinarem sobre o corpo de Yasmin Brunet. O pagodeiro disse que Yasmin “já foi melhor” e que “estaria velha”. Isso, depois de outro episódio com os  participantes Luigi e Maycon (primeiro eliminado), que comentaram sobre as roupas da modelo.

Como se não bastasse, o mesmo Nizam sofreu duras críticas após dizer que não gostaria de ficar só de ‘beijinhos’ com a influenciadora Alane Dias, ‘forçando’ a ideia de ter que rolar mais que isso. Ele ainda foi acusado de pressionar Alane em uma discussão envolvendo Vanessa Lopes. E como se não bastasse, manipulou a situação para que Vanessa ficasse do lado dele, estimulando a rivalidade feminina. Os internautas têm cobrado um posicionamento do apresentador Tadeu Schmidt sobre os episódios, mas talvez isso não aconteça agora porque senão de cara o jogo de um grupo de destaque pode desmoronar. Com tão pouco tempo, a nova edição do programa mostra mais uma vez os impactos do machismo estrutural em nossas relações. E nós, o que podemos aprender espiando isso no confinamento? E no paralelo da vida?

Rodriguinho, Pizane, Nizam e Vinicius conversam: Yasmin Brunet foi a pauta (Reprodução/ Instagram)

Rodriguinho, Pizane, Nizam e Vinicius conversam: Yasmin Brunet foi a pauta (Reprodução/ Instagram)

Machismo e pressão estética

Nenhuma mulher está livre do machismo e de sofrer os efeitos da pressão estética. Nem mesmo as que se encaixam em boa parte dos ‘requisitos’ da  beleza padrão comum – conjunto de normas estéticas que formatam o corpo de um indivíduo, de acordo com processos culturais localizados em um determinado espaço e tempo histórico. É uma construção social, ou seja, não é algo que sempre existiu na natureza, não é universal nem imutável -, como definiu em artigo Olívia Baldissera, jornalista e historiadora, analista de conteúdo da PUCPR digital. É difícil escapar da vigilância contida neste padrão.

Paolla Oliveira não escapou. Deslumbrante e potente em suas atuações na vida e na arte, a atriz vem sofrendo ataques na internet, como relatou no último domingo em entrevista ao ‘Fantástico‘. Desde dezembro do ano passado, quando postou um vídeo nas suas redes sambando em um ensaio da escola de samba Grande Rio, da qual é Rainha de Bateria, Paolla vem lidando com comentários maldosos sobre seu corpo, idade e por aí vai. E apesar dos danos que esse tipo de ação causa, ela não se calou. “Comecei a ver a onda de mulheres admirando meu posicionamento, e a ver as críticas de um de um olhar um pouco mais afastado. Respondo, argumento, faço vídeos. Me sinto corajosa de estar fazendo isso. Do alto do meu privilégio, uma mulher branca padrão, bem-sucedida, eu estou falando: eles não me não me deixam em paz”, disse a atriz. Os padrões estéticos são fruto de uma sociedade opressora e machista, que empurra as mulheres para um lugar de perda de identidade para atender aos anseios dessa estrutura muitas vezes. O jogo é duro. E Paolla sabe disso:

Paolla Oliveira fala de críticas ao seu corpo e como pressão estética se tornou pauta (Reprodução Globo)

Paolla Oliveira fala de críticas ao seu corpo e como pressão estética se tornou pauta (Reprodução Globo)

“Não acordei um dia e falei assim: “A minha pauta da vida vai ser corpo, do nada”. Fui provocada, estou sendo provocada há anos. Assim, eu imagino que várias mulheres que estão assistindo agora vão sentir também essa provocação. É o tempo inteiro, só que a gente se cala. O estar mais confortável me faz ter mais vontade de falar, de querer subverter os lugares que eu mesma já ocupei, sabe?”. E usa sua voz para defender a liberdade de ser:

Liberdade de ter o corpo que eu quiser, de sair do jeito que eu quiser. Se eu puder estar no carnaval, mas sem ter tanta preocupação, vou estar mais feliz – Paolla Oliveira

Mais do que as dicas de beleza e de revelar como cuida do seu visual, informações já tão compartilhadas nas revistas em entrevistas, Paolla nos ensina agora sobre respeito e levanta a bandeira vermelha para comportamentos contrários a isso. Afinal, não estamos mais dispostas a negociar o óbvio: nossos corpos são somente da nossa conta.

Quando o machismo influencia o posicionamento delas

Nas redes sociais a tiktoker Vanessa Lopes começou a ser acusada de ‘passar pano’ para comportamentos machistas e defender a sororidade só na internet, já que preferiu desvalorizar o posicionamento de outras mulheres no confinamento, sem escutar com generosidade seus argumentos. Primeiro com Yasmin Brunet, numa tentativa de conversar sobre a polêmica envolvendo o ex-marido da modelo, Gabriel Medina. Depois, com Alane Dias, que chegou a desmaiar de estresse e ansiedade na intenção de proteger Vanessa de comentários pejorativos feitos por Nizam e companhia a respeito da relação da tiktoker com os espelhos da casa e exposição. Nizam manipulou e Vanessa optou por ficar do lado dele.

Mulheres podem ser machistas? O machismo é composto por ações dentro de um sistema misógino, então mulheres podem ter comportamentos machistas e assim se tornam parte da engrenagem que ajuda a manter os valores patriarcais. A rivalidade feminina se relaciona com o machismo muito por isso, porque a manutenção dessa estrutura coloca as mulheres uma contra a outras. Fiquemos atentas. E que nossas pautas sejam mais sobre colaboração e menos sobre disputas.

Vanessa Lopes conversa com Yasmin Brunet sobre o ocorrido fora do BBB 24 (Reprodução Globo)

Vanessa Lopes conversa com Yasmin Brunet sobre o ocorrido fora do BBB 24 (Reprodução Globo)

Contra o machismo e a deslegitimação da fala feminina

“As pessoas ainda têm medo de ser quem são, porque acham que não vão agradar, e aí entram para o rebanho”. A frase de Luana Piovani em uma entrevista, diz muito sobre o quanto a atriz valoriza a própria essência e não está disposta a fazer concessões para agradar quem quer que seja. Muito menos seguir a maioria quando pensa diferente.

Luana defende sua liberdade de escolha e expressão, doa a quem doer. Curtindo ou não a personalidade e o modo de fazer da atriz, o importante é pensar sobre como ela usa visibilidade para jogar luz em temas importantes, seja na sua vida pessoal, na das suas seguidoras e até na de outras famosas, como quando mencionou Mariana Goldfarb e Ana Hickmann para discutir sobre relacionamentos abusivos. Luana deixa sempre claro que não está no mundo e nem nas redes a passeio.

Luana Piovani se posiciona contra os desdobramentos do machismo (Foto: Reprodução/ Instagram)

Luana Piovani se posiciona contra os desdobramentos do machismo (Foto: Reprodução/ Instagram)

Recentemente ela virou assunto novamente quando comentou sobre a participação de Wanessa Camargo no BBB 24, que hoje se relaciona novamente com Dado Dolabella, ex de Luana, processado por agredi-la no passado. “Não importa se hoje ele come ou não come carne. Depois que eu fiz a denúncia, três mulheres vieram falar comigo que apanharam dele. A gente chama quem comete crime de criminoso. Wanessa é muito querida, batalhadora, estudiosa e dona do seu destino, não está lá sozinha, mas com a sombra de um criminoso ao lado dela. Se você acha que tudo bem se relacionar com um cara que já agrediu quatro mulheres, parabéns, é uma escolha sua. Mas, de novo, o Brasil todo passar pano para um criminoso é problema nosso”, postou em seus stories. Luana recebeu e rebateu críticas por suas falas, que insinuavam que ela não havia superado o ator e até que seria uma mulher amargurada, louca e que queria ‘aparecer’. A artista fez questão de se posicionar salientando que é bem-sucedida, não tem problemas de autoestima e não quer saber da vida de ninguém:

Só estou aqui para falar da minha vida, da minha arte, da minha verdade – Luana Piovani

Importante aqui é destacar que os comentários direcionados à Piovani vem carregados de estereótipos que costumam ser direcionados a deslegitimar as falas femininas. Independente de concordarem ou não com a atriz, esses ataques são uma forma de violência frequente às mulheres, com o intuito de calá-las e isso precisa ser combatido. Fato é, que na vida ou no BBB, o patriarcado está desmoronando. Falas machistas, comportamentos abusivos, assediadores e discriminatórios não são mais aceitos. E ninguém aguenta mais educar ninguém. Procurem saber! E assim, melhoremos todos.