*Por Karina Kuperman
Manuela Dias é o nome do momento. Autora de “Amor de mãe”, trama das 21h da Globo, a baiana de 42 anos fala sobre a inspiração para a novela: “Eu sou filha de uma dessas mães brasileiras. Uma guerreira solitária que luta com um sorriso no rosto. A força da minha mãe sempre me comoveu e me fez crescer. Eu sempre sonhei em ser mãe e nunca achei que, comigo, fosse ser tão difícil. Perdi três bebês antes de conseguir ter Helena. Quando ela finalmente nasceu, junto com ela veio a ideia de ‘Amor de mãe‘. A novela estava inteira na minha cabeça, com nome, enredo e tudo”, conta, em entrevista à revista “Crescer”.
A trama global acompanha as vidas de diferentes mães, de várias classes sociais e estilos. São personagens vividas por nomes como Regina Casé, Taís Araújo, Adriana Esteves. “Eu não pensei em representatividade social quando escrevi, mas na complexidade da estratificação social como um corte horizontal, que separa as pessoas, e na maternidade como um corte vertical, que nos une. Acho interessante propor que o Brasil se veja refletido. Vivemos uma estratificação social perversa, fortíssima. E as classes sociais se ligam pelos nossos conceitos e preconceitos. Por que algumas donas de casa exigem que as funcionárias comam em pratos e com talheres diferentes? Por que lavar ‘a louça dos empregados’ com uma bucha diferente? Precisamos nos questionar sobre esses hábitos escravocratas, muitas vezes perpetuados de forma estrutural. Fiz bastante pesquisa sobre como vivem os funcionários domésticos no Brasil e a realidade é chocante. Li relatos que me fizeram chorar, como o de uma mulher incrível, que depois virou rapper, a Preta Rara, que conta que não tinha acesso ao único banheiro da casa e que por isso aprendeu a fazer suas necessidades em um pote de sorvete. Ou da outra mulher que estava há seis anos se alimentando apenas de ovo com salsicha e arroz. O que é isso? Precisamos nos chocar com isso a ponto de mudar hábitos desprezíveis como esses”, protesta.
Falar de maternidade, claro, não é fácil. São muitas vivências, diferentes histórias e momentos. Manuela sabe bem a delicadeza que o assunto exige: “Sabe aquela frase ‘quando for mãe, você vai entender’? É a coisa mais verdadeira que tem. É fácil julgar a mãe cujo filho faz manha na rua, ou a outra que deixa a criança com sobrepeso comer chocolate… Mas quando você é mãe entende que o buraco é muito mais embaixo. Nenhuma mãe quer errar com o próprio filho, mas se existe uma certeza é a de que todas vamos errar. E eu acho que a solução que torna essa certeza mais suave é que a única coisa que não pode faltar nessa relação é amor. Amor, respeito, incentivo. Hoje em dia penso que uma das maiores tarefas de uma mãe é fortalecer a auto estima da criança”, analisa.
Para Manuela, ser pai ainda é uma tarefa diferente da materna: “A paternidade no Brasil, a meu ver, é um espaço ainda a ser conquistado pelos homens. Eles pagaram caro, todas as contas, para não ocupar esse espaço, vinculando a imagem do pai ao provedor sem paciência para criancices. Atualmente, se um pai vê o filho e presta atenção nele, ou se troca uma fralda, todo mundo bate palma, inclusive mães que criam seus filhos praticamente sozinhas e sabem bem que aquela fralda será a única da semana ou quiçá do mês! O homem espera aplausos a qualquer fralda trocada ou louça lavada. E nós mulheres precisamos urgentemente parar de bater palmas para isso, pois normalmente os homens ainda estão fazendo bem menos do que metade do trabalho. Sem falar que hoje em dia, sequer o papel de provedor está sendo ocupado pela figura paterna. A mulher precisa se valorizar como elemento central da sociedade, porque é o que somos”.
Artigos relacionados