*Por Ana Clara Xavier
No tapete vermelho do shopping Rio Design Barra, nessa quarta-feira, o elenco de “Travessia” se reuniu para prestigiar a trama antes da sua estreia nacional. A narrativa fala de uma relação conturbada entre pai e filho. Roberto, interpretado por Chico Diaz, se distancia de seu filho Júlio, com atuação de Caio Castro. O mais novo possui envolvimento com tráfico de drogas e é apaixonado pela personagem de Camilla Camargo, Mariana. Após a morte da mãe de Júlio, pai e filho vivem uma disputa pela herança da mesma e, no meio disso tudo, Roberto acaba sendo preso por ter atropelado um garoto.
Para contar esta história e até que chegasse aos cinemas, foram três anos de espera depois das filmagens, mas, nesse meio tempo, a obra obteve os prêmios de melhor filme e melhor montagem no 10º FestAruanda que ocorreu em 2015, enquanto o ator Chico Diaz recebeu o título de melhor ator. “É sempre bom ganhar um prêmio. Ainda mais com um filme diferenciado como esse que pede uma reflexão mais profunda. O festival de Aruanda é muito sério, então foi uma honra”, contou o ator.
O lançamento oficial foi nessa quinta-feira, dia 23, quando o publico brasileiro pode ver o resultado pela primeira vez, já que não houve exibição anterior por falta de verba na distribuição. “O objetivo do filme era ser feito para festivais e não de forma comercial. E agora, está no circuito nacional. Isso foi um bônus. O que vier vai ser muito bem-vindo. Nosso objetivo já foi cumprido. Estamos muito felizes com o resultado”, explica o ator Caio Castro. “Eu estou muito feliz pela estreia. Depois de três anos, estamos vendo a coisa acontecer. Foi feito com muito carinho por todos. O filme já foi bem recepcionado, premiado e está indo super bem de crítica”, conta Camilla Camargo.
O longa foi filmado na Bahia, pois o diretor, João Gabriel, queria retratar um cenário extremamente brasileiro. Entre os atores coadjuvantes está o baiano Amaurih Oliveira. “O diretor traz uma ideia bastante diferenciada da Bahia, mostrando um outro lado do estado. Um lado mais denso, não tão alegre. Trouxe ainda um elenco baiano e um elenco nacional, como Chico e o Caio”, comenta, antes de ser completado por Chico: “Foi muito bom filmar lá. Apesar da Bahia ser um lugar muito vibrante, a trama é ao contrário. É questionadora. Por isso o diretor foi muito corajoso”.
A trama traz como proposta um gênero dramático que não é muito comum no cenário brasileiro. “Travessia” faz o espectador pensar e busca propor novas possibilidades cinematográficas pouco utilizadas no país. Para o diretor João Gabriel, o mercado está refém da comédia. As distribuidoras preferem não arriscar investindo em outros gêneros. “O pessoal do meio artístico que assistiu ao filme na estreia em São Paulo falou ‘que bom, porque isso é cinema. Que bom que ainda existam diretores que tem a coragem de fazer filmes assim’. A gente precisa ter tramas diversas no cinema, mas às vezes as pessoas vão mais para o lado da comédia e deixam o drama de lado. Todas as vezes que eu saio da sala, eu fico com embrulho no estômago. É um filme que mexe com a gente, que cutuca. Fico muito feliz de fazer parte disso”, disse Camilla Camargo. “O lado dramático acontece mais nas novelas e no teatro. Tem uma frase que diz ‘A vida imita a arte’. A liberdade poética é muito importante para criar novas possibilidades. O cenário brasileiro atual é muito propício para novas oportunidades. Acho que a gente pode tirar algo desse momento de crise política e econômica que estamos passando. Porque são nestes momentos que algo se transforma, que surge uma luz para novas possibilidades”, exemplifica Amaurih.
No entanto, o cenário em que a obra cinematográfica será exibida preocupa algumas pessoas do elenco. O filme concorre com a audiência de ‘A Bela e a Fera’, ‘Velozes e furiosos 8’ e vários outros que estão sendo muito aclamados pelo público. “Estamos concorrendo com grandes filmes do mercado americano. Espero que as pessoas possam conferir esse filme que foi feito com muito carinho. Uma produção nacional, com um elenco fantástico. É bom ter passado pelos festivais e ter um selo de reconhecimento artístico”, afirma o diretor. Mas Chico Diaz rebate este pensamento. “Acho que esse filme tem uma personalidade própria. Ele não compete com ninguém. Fala sobre o homem brasileiro, fala de perdas e ganhos, de destino e uma relação entre pai e filho. Não é de apelo fácil, claro. Mas é importante nesse cenário em que vivemos. Ele representa uma outra via. Não é comédia, nem um blockbuster. Ele representa a nossa realidade”, acredita Chico.
Caio Castro não se importa com a quantidade de pessoas que irá assistir ao filme. Para ele, o projeto é muito mais importante. “A gente fez um filme não comercial. Achei muito inteligente do João a forma como ele conduziu as coisas. Não é um filme que faz os outros darem risadas. Achei muito corajoso da parte dele. Honestamente, nem tudo são números, nem tudo é dinheiro. Quando eu falei para ele que estava dentro, quando li o roteiro, disse ‘não sei nem quanto você vai me pagar, não sei nem quanto vou ter de cachê nesse filme. Eu vou fazer’. O que me encantou foi a oportunidade de trabalhar com um diretor jovem e que está começando no cinema assim como eu. Além do fato de Chico Diaz ser meu pai. Eu tive a oportunidade de poder fazer cinema da forma que eu acredito que deva ser. Para mim, é esse o tipo de linguagem, o tipo de filme. Respeitando as pausas, as respirações. O corpo falando sem precisar usar a fala. Então, poder fazer isso foi animal”, afirma o ator que se mostra apaixonado pelo gênero.
As poucas críticas que a trama recebeu foi a falta de diálogo e cenas entre pai e filho. O diretor João afirma que foi proposital. “Na maioria dos filmes se expõe muito as relações. A proposta desse é exatamente oposta. O que queremos mostrar é a interseção. O tempo que eles se afastam que gera a tensão de um possível reencontro. Por exemplo, quando a gente briga com alguém nos afastamos por um tempo. E a ideia é exatamente essa. Nesse meio tempo eu tento mostrar a intimidade de cada um. Quero mostrar como é a dor e os sentimentos de cada um por estar longe um do outro”, explica.
Desde que ficou pronto, a atriz baiana Cyria Coentro nunca havia assistido o longa. “Você perde a noção do que fez. Faz muito tempo. Vou ver com muito frescor”, aponta. Além dela, a atriz principal Camilla Camargo e o ator Amaurih Oliveira haviam assistido pela primeira vez, depois de anos, apenas na exibição de São Paulo, no último dia 18. “Vai ser bom assistir esse filme agora porque na pré-estreia de São Paulo, estava muito preocupada com a opinião da minha família e amigos. Então, aqui vou poder assistir mais tranquila”, disse a atriz complementada por Amaurih “No sábado foi a quinta exibição dele e por incrível que pareça, nas outras exibições eu não pude ver. Assisti pela primeira vez agora. E eu fiquei muito surpreso com o resultado. Porque quando você faz acaba esquecendo depois. Além disso, na edição o filme pode ficar diferente”.
O ator Caio Castro atua pouco nas telonas e explicou ao HT qual a diferença entre novelas e a produção de um filme. “O cinema pode ser mais breve que a novela, mas é mais intenso. Até mesmo para personagens menores. No sentido técnico, os dois são parecidos. Mas a gente sabe como um filme vai acabar, na televisão tudo pode mudar”, explica o galã. Camilla sabe exatamente do que Caio está falando. Ela está gravando a releitura da novela infantil ‘Carinha de anjo’. Na TV, sua personagem é completamente diferente da mocinha do filme. Além disso, ela atua no gênero comédia. “Estou fazendo ‘Carinha de anjo’ em São Paulo. O que é uma loucura. São personagens tão diferentes. O que é uma delícia da minha profissão. Ano passado, eu estava em cartaz com uma peça chamada ‘Caros ouvintes’, em que eu fazia uma cantora de rádio dos anos 60 e ao mesmo tempo estava gravando a novela. Eram personagens opostos. E é isso que eu amo da minha profissão. O que eu gosto é não ter monotonia, fazer sempre a mesma coisa”, explica.
Artigos relacionados