Os 38 anos de “Novo Amor”: Novela de Manoel Carlos sem Helena e que mudou de nome por causa de polêmicas


Em 14 de julho de 1986, estreou na extinta Rede Manchete a novela “Novo Amor”, marcando a segunda obra de Manoel Carlos fora da TV Globo. O autor já tinha estreado estreia por lá deu-se na minissérie “Viver a Vida” – homônima à novela que ele escreveria em 2009 e que vai ser exibida em breve no Viva. Originalmente intitulada “Brilho”, a novela teve seu nome alterado para evitar associações com a cocaína, então conhecida pelo mesmo nome. A trama, protagonizada por Renée de Vielmond, destacou-se por sua abordagem inovadora e temas polêmicos, como o aborto, que geraram controvérsias e problemas com a censura. A novela também trouxe de volta Nathalia Timberg, trabalhando novamente com Manoel Carlos após “A Sucessora”. “Novo Amor” alcançou excelente audiência, solidificando a presença de Manoel Carlos como autor de novelas e abrindo caminho para a sua trilogia do “Amor”, completada por “História de Amor” e “Por Amor”, essas últimas, na Globo.

*por Vítor Antunes

Tida como perdida, por contar no arquivo da Manchete, sobre o qual não há disponibilidade acerca de seu conteúdo, no dia de hoje, 14/07, em 1986, estreava “Novo Amor“, segunda obra de Manoel Carlos fora da Globo depois que ele lançou-se exclusivamente à carreira de novelista. Esta é, inclusive, a primeira novela de Maneco na extinta emissora, já que sua estreia por lá deu-se na minissérie “Viver a Vida” – homônima à novela que ele escreveria em 2009 e que vai ser exibida em breve no Viva. Dois pontos unem a antiga novela com a contemporaneidade, além, claro, do fato de ela estar aniversariando. O título da novela seria “Brilho”, nome da revista de moda que centralizaria a ação. Todavia, naquela época, a cocaína era apelidada de “brilho”.

Na época, Manoel Carlos ainda não tinha a tradição de batizar personagens protagonistas como “Helena”, e a protagonista, vivida por Renée de Vielmond, chamava Fernanda. E a novela chegou a marcar 25 pontos de audiência no Rio, na época. Um índice excelente para a então novata Manchete, fundada em 1983.

Em 1986 escrevi ‘Novo Amor’ para a Manchete. Um nome péssimo, apesar da palavra ‘amor’, que eu voltaria a usar em outras duas novelas, para a Globo [História de Amor e Por Amor]”. O título original da história era Brilho, nome da revista de moda que abrigava um dos núcleos mais importantes da trama. Mas a ideia foi vetada por Adolpho Bloch (1908-1995), dono da emissora, alegando que poderia haver uma associação com a cocaína, que era chamada, pelo menos na época, de ‘brilho’.”  – Manoel Carlos (2002)

O nome “Brilho” foi mantido estritamente para a revista de moda. Inclusive, vale destacar que o Site Heloisa Tolipan conseguiu um dos raros registros da novela, bem como da própria Revista Brilho, com Nathalia Timberg, na capa. A atriz dava vida à personagem Lígia, e voltava a trabalhar com Manoel Carlos, após ambos haverem sido parceiros em “A Sucessora“. Nathalia, por sua vez, vivia tanto na novela como na vida pessoal, uma experiência muito particular. Na novela, sua personagem se separava. Na vida pessoal, a atriz também estava separando-se do escritor Sylvan Paezzo (1938-2000). O novo encontro entre o autor e a dama do teatro seria em “Páginas da Vida“, num personagem sem muito destaque.

Uma reportagem do Jornal do Brasil sobre a trama aponta que a novela enfrentou problemas com a Censura por trazer o aborto como um de seus temas. Outra reportagem do extinto diário, sinaliza que o personagem que passava por isso era o vivido por Cristina Aché, Teresa. O aborto voltaria a sereum tema importante na contemporaneidade, quando um Projeto de Lei (PL) tinha como objetivo equiparar o aborto ao homicídio. Durante a novela, em entrevista à jornalista Danuza Leão (1933-2022), a atriz Cristina Aché disse que tal como sua personagem, ela também foi estuprada.

Renée de Vielmond em “Novo Amor”, e Nathalia Timberg na capa da Revista Brilho, o principal cenário da trama (Foto: Biblioteca Nacional/Revista Manchete)

A “HELENA” SE CHAMAVA FERNANDA

A chegada de Manoel Carlos à Manchete se deu em 1984, pouco depois de sua saída da Globo, em razão da morte de Jardel Filho (1928-1983). O primeiro trabalho dele na emissora, conforme ressaltado, foi “Viver a Vida“, minissérie protagonizada por Cláudia Magno (1958-1994) e Paulo Castelli. Dois anos depois, ele faria “Novo Amor“. A ida de Maneco à extinta emissora veio, segundo ele, de um desinteresse mútuo entre ele e a Globo, segundo declarou a O Globo, em 2002. “Estava triste com a morte do Jardel [Filho] e com o desfecho da novela “Sol de Verão“. Então, quando o contrato acabou, não renovei. Na verdade, não houve empenho de nenhuma das partes na renovação, em vista do desgaste do episódio. Fiquei algum tempo superando o estresse. Foi quando recebi o convite da Manchete, através do Maurício Sherman (1931-2009). […] Foi uma experiência muito boa essa, e sempre recebi apoio de todos lá dentro, principalmente do Zevi Ghivelder, então diretor-artístico da emissora”.

Junto à chegada de Manoel Carlos à Manchete, veio Renée de Vielmond, isso depois de um longo “namoro”. Segundo pesquisa do Site Heloisa Tolipan, ela já queria se retirar das novelas, quando foi convidada pela Manchete, chegou a negar os primeiros convites, até que aceitou fazê-la. A própria Revista extinta confirma isso, quando entrevistou Renée, em 1986. Segundo ela, foi definitivo o fato de ser uma novela do Manoel Carlos para fazê-la voltar. E ela já havia sido convidada para outras quatro novela. “Quem me chamou para esta novela foi o Ary Coslov. (…). [Outro fator que me fez aceitar foi que] não temos a cobrança de 80% de audiência, nem de seus heróis e vilões”, disse ela.

Depois desta trama, Renée faria “Olho no Olho” (1988) e participações episódicas em novelas. Na década seguinte, “Barriga de Aluguel” (1990), “De Corpo e Alma” (1992), “Pátria Minha” (1994), “Explode Coração (1995) e “Paraíso Tropical (2007). De lá para cá, nenhuma outra. Coincidentemente, “Novo Amor” estreou no dia do aniversário da atriz: 14/07.

Eu não sou a heróina da novela. Aos 32 anos nem tenho idade para isso. (…) Maneco escreve para mulheres e chega a levantar bandeiras feministas – Renée de Vielmond, em 1986

A personagem de Vielmond chamava Fernanda, em vez da famosa “Helena”. Mas a novela tinha uma característica que seria mais tarde uma marca de Manoel Carlos. Um número grande de personagens e de núcleos paralelos. Tanto que, segundo ele próprio, não havia um protagonismo marcado na novela. “Fernanda é o fio da história, mas a trama vai muito além disso. (…) Cada personagem tem suas características próprias e peculiares. Na verdade, o protagonista é aquele que está em cena”.

Essa característica do ator, o que também é uma marca sua, gerou descontentamentos. A atriz Sônia Clara pediu para sair da novela, por estar descontente com os caminhos de sua personagem. Outro detalhe importante é que as cenas iniciais da protagonista aconteciam bem longe do Leblon. Fernanda era de Brasília e de lá vinha para o Rio. O único país ao qual foi possível localizarmos informações de que a trama foi exibida, foi Portugal, em 1987.