Reflete sobre os desafios e reveses de ser atriz e lidar com a exposição excessiva, especialmente quando comparada com sua experiência no mundo da moda. Ao falar sobre como a visibilidade pública muda com a televisão, ela comenta: “Quando eu era modelo atingia a um público. Um artista plástico, quando ele tem um sucesso na sua área o reconhecimento entra em outro público. A imprensa que você atinge quando está exposto na TV é outro, vai para tudo quanto é lado. Na televisão, você fica exposto demais”. Claudia também destaca que não se vê como uma atriz vocacionada e convencional, reforçando sua identidade como uma artista multidisciplinar: “Eu me considero muito mais uma artista multimídia ou visual, mesmo por que uma atriz tem que ter a vocação para sê-la”.
Márcio Garcia e Claudia Liz em “Cara & Coroa” (Foto: Divulgação/Globo)
Em outro momento, aborda sua trajetória como modelo, ressaltando como sempre enxergou seu trabalho mais como uma performance: “Como modelo, eu me vejo muito mais performática. Eu acho que eu sempre fui uma artista que me expressei em diversos nichos, o que é normal nas artes. Então a moda para mim era uma performance”.
Além disso, a artista compartilha sua experiência com seu mais recente trabalho, o lançamento da coleção “Entrelinhas”, uma linha de estampas e tecidos de decoração para a Donatelli, inspirada na relação entre Emilie Flöge (1874-1952) e Gustav Klimt (1862-1918). Sobre o processo criativo e o desenvolvimento dessa coleção, ela diz estar envolvida há um ano com o projeto sobre a estilista e empresária austríaca, conhecida por suas criações em tecidos, onde fundiu arte e moda na criação de longas túnicas e capas com padrões intrincados, eternizados nas telas de Gustav Klimt. “Fui aprender como é um trabalho de estamparia e com inspiração em Emilie Flöge. Foi um trabalho de grande pesquisa e, em setembro, realizamos o lançamento. É a isso que eu tenho me dedicado. É um trabalho de curadoria enorme, já que os desenhos dos tecidos são em jacquard, não são estamparias, são tramas”.
Claudia Liz e a coleção de tecidos batizada “Entrelinhas” (Foto: Adriano Damas)
Em sua produção, a artista se aprofunda na história de Emilie Flöge, a musa e parceira criativa de Klimt, explicando como essa figura a inspirou: “Emily Flöge, foi uma mulher que na virada em 1904, ela abriu uma loja em Viena numa das melhores ruas e empregou 80 costureiras. Embora namorada do pintor Gustav Klimt, não quis casar nem ter filhos, mas ficou conhecida como “a musa do Klimt”, ainda que seja mais que isso. Foi uma mulher sábia, à frente do seu tempo e que abriu caminhos para várias outras estilistas”. Sobre sua pesquisa e envolvimento com a história de Flöge, revela: “Eu sempre me interessei por essa história dela, que é pouco conhecida. Acabei fazendo uma busca sobre essa mulher tão criativa, em quem me inspiro nos meus desenhos”.
A artista reflete sobre o atual comportamento da moda, especialmente no que diz respeito à inclusão de corpos múltiplos nas passarelas. Ela destaca que, embora o progresso seja visível, ainda é lento e limitado: “Eu acho que caminha a passos não tão rápidos e largos, mas com inclusão. Acho que a imprensa tem que sempre falar nisso, porque é uma coleção, entra a diversidade e depois ela é abandonada, como se ‘já tivéssemos tocado na pauta’. Tem marcas que realmente abraçam a diversidade e não é algo superficial. Espero que um dia a inclusão da diversidade seja algo natural, em que não seja necessário levantar uma pauta”.
Claudia Liz visita a própria história com coragem (Foto: Acervo/Site HT)
Além disso, Claudia aborda o tema etarismo e a importância da interrelação entre diferentes gerações no ambiente profissional. Ela vê valor na troca de experiências entre jovens e pessoas mais maduras, e critica a exclusão de profissionais mais maduros: “Eu, como artista, eu não sou alvo de etarismo. É tudo ponto de vista, mas eu sinto que cada vez mais jovens estão nas empresas substituindo talentos maduros. O mundo ideal é juntar o sênior com jovens, com certeza, e aí um alimenta o outro, mas o sênior não dever ser descartado, porque não se descarta experiência e conhecimento. Acho que o maduro complementa o saber do jovem”.
A fala da artista reflete a valorização da maturidade profissional aliada à energia e à agilidade das gerações mais jovens. Ela reconhece a importância de um equilíbrio entre a experiência acumulada ao longo dos anos, que proporciona uma visão mais estratégica e ponderada, e a capacidade dos jovens de se conectarem rapidamente às inovações tecnológicas e de oferecerem soluções ágeis. O desejo de Claudia de trabalhar em parceria com alguém mais jovem demonstra seu entendimento de que a colaboração intergeracional pode resultar em uma combinação poderosa: a impetuosidade e a familiaridade com as novas ferramentas de trabalho, juntamente com a sabedoria e o conhecimento adquirido ao longo de uma carreira. “Adoraria ter um assistente, por exemplo, que aliasse a impetuosidade do jovem e a maturidade do sênior. Uma mente jovem que está ligada em tecnologia, que dá uma resposta rápida nisso, e uma mente mais madura, mais experiente, que te dá um caminho mais curto, mais certeiro, mais sábio”.
Eu tenho 42 anos de profissão, tenho um repertório. Isso me proporciona uma capacidade de encarar o trabalho com profissionalismo. Já trabalhei no mundo inteiro. Então eu sei o que é ser uma profissional. Eu sou de uma época onde os jovens respeitavam os mais velhos e hoje não é muito assim. Tem muito jovem que acha que a pessoa mais velha é apenas velha. Ele não acha que vai envelhecer e que isso é um amadurecer – Claudia Liz
Claudia Liz fala dos novos projetos e do amadurecimento (Foto: Acervo/Site HT)
Para Claudia a democratização e universalização das artes plásticas no Brasil revela uma profunda inquietação quanto à distância entre a arte e o público geral. Ao destacar que a arte precisa transcender os limites dos espaços institucionais e adentrar o cotidiano das pessoas, ela propõe uma reconfiguração da relação entre a produção artística e seu público. Argumenta que a arte deve “sair dos espaços fechados e se tornar parte do ambiente urbano”, apontando para a necessidade de uma maior presença nas ruas, onde o acesso à cultura é mais amplo e diversificado. “Eu acho que a arte tem que incentivar, tem que ir para a rua, ter apoios, tem que ter exemplo”. Para ela, a falta de acessibilidade é um grande obstáculo.
É preciso que estejamos falando de artes de uma forma democrática, o tempo inteiro, entrar na televisão e estar lá falando com a vovó… porque a televisão e internet, hoje, é mais do que a televisão. Mas como levar arte para todo mundo? Educando as pessoas com arte. Nosso país não tem essa educação. A gente não é educado a olhar para arte, a ter um repertório musical. As músicas são simples e para consumir. A gente precisa apoiar a cultura, disseminar cultura. Arte tem que estar ao ar livre, tem que estar na TV, tem que estar na novela, deixar de ser artigo de luxo – Claudia Liz
Ao falar sobre sua própria jornada, Claudia Liz rememora suas origens simples e como o destino a guiou para o mundo das artes. Quando era menina, ela estava na horta da avó em sua cidade, em Goiás, andava acompanhada de seu melhor amigo: um caderno de desenho. O amor pela arte já era evidente e a vocação para ser artista se manifestou desde cedo. Para Claudia, a arte não foi apenas uma decisão profissional, mas algo que estava predestinado: o talento e a expressão artística eram partes inatas de sua essência desde a infância.