*Por Jeff Lessa
Em “Malhação”, Olivia Araújo vive uma personagem que batalha para criar a filha sozinha. Nas palavras da própria atriz, “Vania é uma mulher popular com uma história comum entre as brasileiras que criam seus filhos sozinha. A vida dela se concentra em viver para a filha”. Na telinha, Olivia pode sofrer com as dificuldades típicas da mãe solteira que não quer depender de homem. Na chamada vida real, porém, a atriz vive um dos melhores momentos de sua carreira. E anuncia para o final do ano a montagem de uma peça.
O projeto ainda está sendo alinhavado. Mas o fato é que, aos 46 anos, Olivia Araújo vem emendando um trabalho no outro. Na TV, mais precisamente na Globo: ela esteve nos elencos de “I Love Paraisópolis” (2015), da minissérie “Liberdade, Liberdade” (2016), de “Tempo de Amar” (2017) e, bem recentemente, de “O Tempo Não Para”, novela das 18h que começou em 2018 e terminou em janeiro deste ano. Ela também atuou em filmes brasileiros que obtiveram ótima reação da crítica, como “Domésticas”, dirigido por Fernando Meirelles e Nando Olival em 2001, e “Cidade de Deus”, também dirigido por Meirelles, dessa vez ao lado de Katia Lund, em 2002.
– Quero estar em cartaz no final deste ano ou no começo do ano que vem – conta. – Gostaria muito de encenar um texto de algum autor contemporâneo brasileiro. Algo do Marcelino Freire, do Newton Moreno… São autores contemporâneos consagrados e premiados. Mas o teatro é caro. Precisa de apoio externo. E isso é difícil.
O sonho antigo de encenar um texto de autor brasileiro contemporâneo (“Faz alguns anos que quero montar uma peça”) levanta questões controversas. Questões que se tornam especialmente relevantes no momento sócio-político-cultural pelo qual passa o país. No caso, com ênfase em “cultural”.
– A Lei Rouanet costuma ser mal interpretada. Quem olha de fora tem a impressão de que vivemos em berço esplêndido. Aliás, essa é a impressão sobre quem é beneficiado por qualquer incentivo cultural – afirma Olivia. – Do nosso lado cabe explicar como esse mecanismo funciona. Isso se quisermos ter um país culturalmente forte. Precisamos de informação.
A apreensão da atriz não se volta apenas para o Brasil, porém. Ela acredita que o mundo esteja passando por uma fase de retrocesso.
– O mundo está mais conservador. Num sentido ruim, é um conservadorismo que te impede de ter opinião, de pensar. Vamos todos sofrer as consequências deste retrocesso. Artistas, jornalistas, professores, todos. E digo isso sobre o mundo, não apenas sobre o Brasil. A questão do muro na fronteira com o México nos Estados Unidos, os países europeus que não recebem refugiados da África… – ressalta.
Olivia tem uma visão bastante original sobre o Brasil:
– A gente se esquece que esse país foi construído por gente que não queria estar aqui. A Família Real veio para cá como refugiada de guerra. Os negros foram trazidos à força da África para serem escravos. Fora os degredados, lá no começo. Somos uma pátria formada por pessoas que simplesmente não queriam estar aqui.
Da mesma forma que a escrava Cesária, que interpretou no ano passado na novela “O Tempo Não Para”. Mas a personagem dava uma lição de vida ao não se colocar, em momento algum, na posição de coitada. Algo difícil de se encontrar no mundo real. Na época, a atriz, que já foi vítima de racismo, chamou a atenção para a necessidade de se abordar o tema da escravidão. Um assunto tão espinhoso quanto o Holocausto, e que deveria ser igualmente destacado, na opinião de Olivia.
Empenho e dedicação para tornar um planeta um lugar melhor não faltam aqui.
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