*Por Brunna Condini
Mesmo com a necessidade de quarentena, o ano continua produtivo para Cauã Reymond. Antes da pandemia, o ator começou 2020 gravando muitas das cenas que vão estar em “Um Lugar ao Sol”, a próxima novela das 21h, de Lícia Manzo, na qual viverá os gêmeos protagonistas, que são separados no nascimento. Mas, em um curto espaço de tempo, vieram as necessidades de isolamento social, atuação na vida doméstica, e a convivência com a angústia e as incertezas do momento. No entanto, Cauã tem explorado uma rotina intensa e criativa em novas produções.
Ele falou ao site com exclusividade da casa onde mora com a mulher, a modelo e apresentadora Mariana Goldfarb, e também vive parte da semana com a filha, Sofia, já que o ator e Grazi Massafera têm a guarda compartilhada da pequena. “Sei que é um momento extremamente delicado no mundo e no Brasil, mas me sinto sortudo, porque consegui trabalhar mesmo estando em casa. Estou desenvolvendo projetos como produtor, inclusive um para a Globo, e estamos fazendo tudo através de reuniões virtuais. O início da pandemia foi muito angustiante para mim, então foi importante estar criando e fazendo arte. Foi um presente de aniversário estar trabalhando com o que amo e como criador e produtor”, diz Cauã, que completou 40 anos em maio.
Satisfeito com o desempenho também como produtor, Cauã acaba de lançar direto no online, o curta-metragem “Protesys”, dirigido por Afonso Poyart e estrelado por ele e pelo atleta paralímpico Flávio Reitz. O filme, em um híbrido de ficção e documentário, coloca na tela a história de superação de Flávio, medalhista paralímpico que foi diagnosticado com um tumor no fêmur da perna esquerda quando adolescente e teve que amputá-la. No roteiro, além da biografia original, a reflexão sobre novas tecnologias, inteligência artificial e a criação das super próteses para estes atletas. “Enquanto trabalhava com o Afonso na segunda temporada da série “Ilha de Ferro”, ele falou da ideia deste curta e topei na hora. Aliás, me ofereci para o projeto. Sou assim, quando gosto, me ofereço mesmo”, diz, bem humorado.
“Foi um processo muito orgânico. Ele queria traduzir como mostrar tecnologicamente as possibilidades daquele roteiro, então decidiu criar essa mistura de ficção com realidade, e deixou a gente com a pulga atrás da orelha. Deu para dar uma amostra de como vai ser essa realidade da Inteligência Artificial em nosso mundo. Convidamos as pessoas a visitar esse futuro próximo. Além disso, o Flávio arrasou. Me corrigiu algumas vezes, porque sou ator que gosto de improvisar. Ele tinha o texto na ponta da língua, e além de tudo que é bom, se mostrou um ator fenomenal. O Afonso me colocou neste lugar do curioso, do repórter e causou esse estranhamento que estou curtindo. Esse curta ainda vai ter desdobramentos. A história se desenvolve para um longa e também para uma série, nos dois casos, também estou como produtor”.
Prazer de ser um realizador
Cauã tem trabalhado ativamente no audiovisual, à frente e atrás das câmeras. E por conta da pandemia do novo coronavírus, uma das produções em que esteve, e pela qual ganhou o Troféu Candango pelo desempenho de Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Brasília, o longa “Piedade” do diretor pernambucano Cláudio Assis, estreou no streaming em junho deste ano. “Eram só dois dias, e tivemos 80 mil visualizações. E é um filme de arte. Coloco esse longa no topo da minha lista de trabalhos”, diz ele, que interpretou Sandro, o dono de um cinema pornô.
“Com essa quarentena ficou claro de que a arte salva. Tudo isso ajuda a gente a passar por momentos difíceis. E ainda é um momento delicado para os profissionais do teatro, do audiovisual. Venho participando de ações para ajudá-los a se manterem neste cenário. Gosto de imaginar que muitos momentos difíceis econômicos, políticos trouxeram a contribuição para grandes obras serem criadas. Gosto de pensar que os colegas vão produzir arte que vão marcar as gerações”.
Ele tem consciência que ter se tornado também um realizador nos últimos anos, abriu novas portas na carreira. “Fui realizando também para construir possibilidades de papéis que me interessem. Nos últimos três projetos, eu pude trabalhar na linha de frente da produção. Antes trabalhava de uma forma mais sutil”, recorda. “Agora estou desenvolvendo filmes, produtos para TV. Sou um consumidor de audiovisual em casa. Tenho assistido de tudo e fui me apaixonando pelos universos dos seriados. Aliás, sou um apaixonado pelo audiovisual”.
Será que essa paixão pode passar de pai para filha? Isso já não se pode afirmar, mas a pequena Sofia, de 8 anos, está dando os primeiros passos na área. No filme “Pedro”, de Laís Bodanzky, em que o ator faz Dom Pedro I, em uma versão que aborda sua vida privada, Sofia faz uma participação. Como é isso, Cauã? “Olha, nem sei como as pessoas tiveram conhecimento disso. Mas na verdade, ela já filmou, o longa está em pós-produção. Minha filha fez uma participação. Foi lindo, divertido, mas algo simples, isso não indica nenhum futuro”.
E já surgiu vontade de ser pai novamente? “Sim, mesmo sabendo que o mundo não está ficando mais fácil. Adoro criança. É a terra mais fértil que você pode encontrar”. Sobre os desejos futuros, ele confessa ainda, que por trás das câmeras, que ir além: “Pinta vontade de dirigir um episódio de série, por exemplo. Mas precisaria convidar alguém para fazer a direção geral. Gostaria de estar mais bem preparado. Tenho uma caminhada de aprender com as pessoas, sou atento, curioso. Gosto de estudar, me aperfeiçoar”.
Cauã 40
O ator tem dom para materializar sonhos. Foi assim quando era modelo e partiu para a carreira de ator, estudando sem parar e sem se paralisar diante dos desafios. Ele gosta de mergulhar fundo: nos projetos, nos trabalhos e em si mesmo. E confessa que a maturidade tem trazido a busca por uma vida mais leve. “Sou por natureza uma pessoa reflexiva, faço análise, estou sempre tentando repensar o que podia ter falado ou agido de forma mais bacana. Vendo como posso performar melhor com minha rotina de exercícios e hábitos saudáveis. Desde a morte da minha mãe, no ano passado (Denise Reymond morreu em decorrência de um câncer de ovário), tenho me conectado mais com esse lugar do bem-estar. Tenho feito meditação guiada para aliviar a ansiedade, a angústia do momento. São técnicas que venho buscando para ter uma melhor qualidade de vida. A pandemia trouxe uma sensação de urgência, que se você pode mudar algum hábito, a hora é agora. A vida pode ir embora a qualquer momento. Não sei se essa sensação veio com os 40 anos. Desde muito novo sou assim, mais reflexivo sobre tudo. Alguns diretores dizem até que sou demais (risos). Tenho tentado ser mais prático, mas ser assim me ajuda como ator e artista”.
Cauã se prepara para voltar às gravações de “Um Lugar ao Sol”. E comenta que vai ser a segunda vez na ficção em que viverá gêmeos protagonistas. A primeira foi na minissérie “Dois Irmãos” (2017). “Em pouco tempo já devo estar voltando a ensaiar e gravar. Fazendo uso dos protocolos de segurança, gravando com placa de acrílico, com todos os cuidados devidos. Também é aquela história, o show tem que continuar. Gosto de pensar que tempos melhores virão. Gosto de ser otimista pensando que grandes obras vão surgir pós isso tudo”.
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