*Por Brunna Condini
A nossa convidada da série ‘O que Tenho Vivido?’, é uma mulher sintonizada com o seu tempo. Suzy Rêgo acaba de rodar o curta-metragem “I’m sorry, honey” com Nelson Freitas, que também o produz, sobre violência doméstica. A produção está concorrendo no Festival My Rode Reel. “Faço a Helen. Foi um desafio interessante atuar em inglês. E outro desafio foi contar uma história com essa densidade, opressão, em três minutos, como é neste festival. Minha personagem é uma mulher muito rica, bem-sucedida, e isso mostra que a violência pode acontecer em todos os níveis e camadas da sociedade. Minha inspiração foram todas as mulheres que, infelizmente, ainda passam por isso”, lamenta Suzy. “Este festival abrange o mundo todo e escolhemos o tema violência doméstica, porque verificamos que aconteceu um aumento de mais de 50% de ocorrências durante a pandemia. Estamos muito otimistas para que este alerta chegue nas pessoas, é um assunto que tem que ser exclamado e conversado mundo afora”.
Quando se viu caracterizada para a personagem, com as ‘agressões’ na pele, o que sentiu? “Sou uma intérprete, então quando vi o rosto caracterizado fiquei muito mais encantada com o trabalho da Kelly Macedo, a caracterizadora. Mas busquei essas referências sabendo de algumas histórias próximas a mim – felizmente jamais comigo – de gente que viveu durante muito tempo relacionamentos abusivos”.
E destaca ainda sobe o tema: “Nem sempre a violência é física. Ela também pode ser psicológica, emocional, espiritual, social, patrimonial, e todo tipo de violência que caracteriza a violência doméstica, contra a mulher. As pessoas que passam por isso vivem o medo constante, desespero, e, muitas vezes por vergonha, desinformação e até a ignorância em achar que é uma forma de ser amada e protegida, não dão um basta. Existe aí um grande equívoco. Esperamos que este trabalho possa ser usado em campanhas de orientação, de apoio e amparo junto a grandes empresas e organizações não governamentais”.
Quarentena com filhos
Morando em São Paulo, Suzy tem seguido dentro de casa ao lado dos filhos gêmeos Marco e Massimo, de 11 anos, e do marido, o ator Fernando Vieira. “Meus filhos são verdadeiros mestres. São sete meses de quarentena, mas eles são conscientes, educados e generosos e felizmente, amam a casinha deles. Sentem falta dos amigos da escola (neste momento, Massimo diz que não sente falta da escola). Então, (risos) eu me referia a falta dos amigos queridos, a troca com eles. Meus filhos se adaptaram muito bem às aulas online. Foi desafiador também, mas eles me ensinam muito, são otimistas. E hoje, com as áreas comuns liberadas, temos tomado nossas doses de vitamina D e endorfina. Pudemos nos conhecer de uma forma mais interativa neste período, fazemos tudo juntos. Eles estão saudáveis e só agradeço. Meus filhos são bênçãos, amorosos demais”.
Em meio às adversidades que reinaram neste ano com o cenário mundial de pandemia da Covid-19, ela prefere acreditar que novos tempos melhores surgirão: “Como uma otimista por princípio, sempre acreditei que algo que atinge o mundo dessa maneira é um alerta muito grande. Neste período procurei me informar sobre o nosso país e o mundo. Tenho irmã que mora na Inglaterra, sobrinha em Cingapura, são mundos dentro do mundo, com diferentes atitudes. Em Cingapura, por exemplo, a pandemia começou em janeiro e quase não há mais casos, está controlado. Lá ,por exemplo, existe respeito, é um país onde se leva a sério o cidadão pagador de impostos, onde existem politicas públicas respeitáveis”, diz.
“Aqui em nosso país são grandes as dificuldades. Nossa classe artística, por exemplo, parou. Teatros fechados, gravações suspensas, filmagens adiadas até segunda ordem, então é claro que nossa preocupação foram com as responsabilidades, os boletos, as contas, que não pararam”.
Em relação ao futuro, Suzy que está reservada para a próxima novela de João Emannuel Carneiro, que tem título provisório de ‘Olho por Olho’ e só deve estrear em 2022. Ela procura não dar vazão à ansiedade, mas lamenta não ver uma política real para a classe artística superar este momento. “A angústia e um pouco de desesperança vem de imaginar como vamos manter nosso oficio, nossa arte. Tem gente trabalhando de home office, podendo fazer coach, lives patrocinadas, com parcerias pagas, mas somos artistas, intérpretes. Eu tive uma série de trabalhos adiados ou vetados, estava muito frutífera no início deste ano”, analisa, e cita um trecho da canção de Gonzaguinha ‘Um homem também chora’, para ilustrar o período: “O homem se humilha se castram seus sonhos. Seus sonhos são sua vida e sua vida é o trabalho. E sem o seu trabalho, o homem não tem honra. E sem a sua honra, se morre e se mata. Não dá pra ser feliz”. Mas por outro lado, acredito que sairemos melhores disto”, aposta.
No últimos anos, a atriz esteve em produções na TV Globo, como ‘Império’ (2014) e ‘Rocky Story’ (2016) , e ainda em duas temporadas da série da Disney ‘Juacas’. Suzy também fez muito teatro. “Desde de 2015 faço temporadas da peça ‘Até que o casamento nos Separe’, com o Eduardo Martini, que estaria em cartaz agora. E fiz a peça da Thelma Guedes ‘Mulheres de Shakespeare’, que entraria em turnê”, conta. “Agora estamos aguardando as novas diretrizes. E depende também da Secretária de Cultura, se é que há uma. Depende dos fundos setoriais, das leis de incentivo. no momento estamos participando de inciativas cooperativadas. A arte jamais cessa. A única coisa que não parou nesta pandemia foi o consumo de arte, ela foi apreciada e salvadora’”.
Maturidade
Aos 53 anos, ela tenta elaborar os aprendizados até aqui: “Tem a maturidade, mas talvez também tenha muita imaturidade ainda. Faço questão de manter a criança viva em mim, sou despudorada, destemida. Aposto no bom humor, em fazer o bem. Sou cafona, acredito ainda no ser humano, mas é inegável que com o passar do tempo, é tão interessante, bom e necessário aprender a dizer não. Saber o que é bom para mim. Isso é maravilhoso”.
Envelhecer é: “Eu desconheço, porque jamais envelheci. Velho é o mundo, sou um feto, um bebê, uma criança. Temos uma noção equivocada que velho é igual a inútil, descartável, acho uma pena. Viajando pelo mundo você percebe uma diferença grande de gente mais velha que viaja, se arrisca, se joga, que não é velho, o que passou foi o tempo. Não tem a pecha que a palavra carrega. Outra coisa: só envelhece quem não morre novo, certo?”, define, bem-humorada. “O que desejo mesmo é ter saúde boa, me manter da minha arte. É sempre um corre, uma expectativa, mas é o que amamos, esse é o nosso ofício. Não idealizo as coisas, vivo mesmo um dia de cada vez. Tem dia que está tudo lindo e tem dia que está tudo bagunçado, tem mais introspecção. Dia de treino, dia sem treino. Dia de dieta, dia de esbórnia. E assim tento encontrar um equilíbrio. Sou grata até aos revezes porque muitos deles me trouxeram bênçãos”.
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