“O ódio e o ataque não se sustentam para sempre”, diz Fernanda Paes Leme, no ar no IGTV com a websérie “Fake live”


Atriz está no Instagram com a websérie que produz em parceria com o irmão, o ator e roteirista Alexandre Paes Leme, abordando temas como stalkers, deepfake e exposição nas redes. Sobre haters e cultura do cancelamento, ela é categórica. “Lido com a internet no geral com o peso que a situação me propõe. Não me desgasto com questões acaloradas. Tenho um filtro pessoal que analisa qualquer circunstância com delicadeza, para não cometer nenhuma injustiça”, afirma

*Por Simone Gondim

Em uma época de fake news e muito discurso de ódio nas redes sociais, Fernanda Paes Leme escolhe a serenidade. No ar no IGTV com a websérie “Fake live”, que produz em parceria com o irmão, o ator e roteirista Alexandre Paes Leme, a atriz considera a cultura dos haters e do cancelamento um assunto para ser tratado com cuidado. “Lido com a internet no geral com o peso que a situação me propõe. Não me desgasto com questões acaloradas. Tenho um filtro pessoal que analisa qualquer circunstância com delicadeza, para não cometer nenhuma injustiça”, garante. “Isso de cancelamento é muito delicado. Há, claro, posicionamentos importantes, mas também há muita histeria. Como tudo na internet”, acredita.

Fernanda crê na recuperação do setor cultural brasileiro. “Nossa cultura, nossa arte e nossos pensamentos já sofreram repressões antes. Mas, no fim, o que sobra é o riso, a emoção, o amor. O ódio e o ataque não se sustentam para sempre. Quem ataca a nossa liberdade agora, vai ser vítima da própria opressão um dia”, afirma. “Mexe muito comigo ver artistas tão talentosos, de um circuito mais independente, sofrendo como vários outros trabalhadores do país. Cinemas e teatros, que são o local de sustento de tanta gente, estão fechados. Me dói ver a arte ser marginalizada num momento em que ela é tão importante para conseguir nos manter sãos”, lamenta.

“Tenho um filtro pessoal que analisa qualquer circunstância com delicadeza, para não cometer nenhuma injustiça”, diz Fernanda Paes Leme (Foto: Divulgação)

A atriz revela que, como aconteceu com muitas pessoas, precisou mudar de planos por causa da pandemia. “Uma possível segunda temporada do meu programa com a Luana Xavier no GNT, ‘Viagem a qualquer custo’, foi cancelada. Por um lado lamentei, claro, porque o programa foi um sucesso, mas viajar novamente é inviável no momento”, reconhece. “Procuro aceitar as coisas da melhor forma e tentar enxergar o copo mais cheio mesmo. O que ficou para trás ficou. Nesse período me reinventei, fiz uma série que está bombando, independente, me desconstruí. Estou orgulhosa”, diz ela.

Por falar na websérie, “Fake live” já foi vista por mais de quatro milhões de pessoas. Ao todo, serão nove episódios, abordando temas como stalkers, deepfake e exposição nas redes, entre outros. “Acho que nem o mais otimista da equipe esperava esse sucesso. Ficamos muito felizes, porque, sem falsa modéstia, é um trabalho muito bem realizado por todos os envolvidos”, derrete-se Fernanda. “A criação do projeto é minha e do meu irmão Alexandre Paes Leme, mas o roteiro é só dele. Eu assino criação e direção de fotografia. Também filmo tudo, escolho os planos e tal, e sou a produtora executiva”, explica. “Somos uma equipe independente e pequena, que está trabalhando de maneira remota desde o início do projeto. Fomos aprendendo o processo fazendo, mesmo. É tudo muito novo, não tinha um manual de como produzir uma websérie durante uma pandemia”, acrescenta.

A websérie “Fake live” tem nove episódios e está no IGTV (Foto: Divulgação)

Segundo Fernanda, “Fake live” surgiu de um impulso criativo. “Veio do desejo de exercitar a profissão, experimentar, fazer os dias que estavam difíceis serem um pouco menos traumáticos. Conversei com meu irmão sobre essa minha vontade de produzir algo, embora por outro lado também não quisesse fazer nada. Bem dúbio”, admite. “No dia seguinte desse papo, ele veio com a ideia. Trabalhamos juntos em cima disso e criamos ‘Fake live’. A ideia de formato era vertical, para ter essa real sensação de que tudo que acontece é dentro do celular. Não tenho canal no YouTube, minha audiência maior é no Instagram, então fazia sentido ser nessa plataforma mesmo”, completa.

A quarentena da atriz, aliás, começou de uma forma ainda mais estressante. Depois de testar positivo para o novo coronavírus, Fernanda lembra que só queria ficar quieta em seu canto. “Respeito muito minhas vontades. Ou, no caso, falta de vontade. No início, com a Covid, e logo que me recuperei, eu só via série, meditava e comia. A meditação me ajudou muito, pude respirar, viver o momento presente”, conta. “Acho que a única coisa da ‘cartilha da pandemia’ que eu fiz foi meditar. De resto, só vi o pessoal fazendo, mesmo. Depois, dediquei toda a minha energia à série. Como ela ainda não acabou, sigo focada nisso”, assume.

O diagnóstico de Covid-19 foi um tremendo susto, claro. “No início de março, sabíamos pouco sobre o vírus. Não tinha uma morte no país, ainda. Fiquei apreensiva, mas me mantive positiva e até uma pouco fantasiosa de que isso poderia mudar as pessoas e tal. Hoje, já penso completamente diferente”, observa Fernanda.

Fernanda e o irmão, Alexandre Paes Leme, produzem juntos a websérie “Fake live” (Foto: Divulgação)

E trabalhar em família, será que dá certo? Para a atriz, a resposta é sim. “É a primeira vez que criamos algo juntos, acredito que seja a primeira de muitas que virão. Deu muito certo essa parceria”, comemora. “A série é filha da pandemia, né? Se não fosse o momento, talvez demorasse para esse trabalho em família acontecer, por conta de agendas mesmo. Tem sido ótimo trabalhar com o Ale. Ele é leve, talentoso, um poço de criatividade. E tem paciência, também”, ressalta. “Talvez ele esteja sentindo mais do que eu, porque sou mais difícil de lidar do que ele”, confessa, às gargalhadas.

Após “Fake live”, Fernanda tem planos de apostar em outros projetos parecidos, apresentando sugestões para TV e streaming. “Quero usar minhas redes como plataforma para algo meu. Acredito cada vez mais nisso. Artistas devem ocupar mais espaços, com equipes mais reduzidas, novas plataformas e formas diferentes de comunicar, também”, pondera. “Todas as idades querem e devem se sentir representadas. Com tantas possibilidades, a gente consegue cavar nosso próprio espaço. Não aceito o não facilmente e me desafio a mostrar o contrário”, assegura.

Apesar de a série ter fake no nome, a atriz enfatiza que nunca sofreu com ataques de perfis falsos. “Quando a série estreou, comecei a falar dela no Twitter e um robô entendeu que o nome ‘Fake’ era relacionado ao governo. Ele respondeu a um Tweet meu falando de #FakeLive. Eu ri”, diverte-se.