*Por Brunna Condini
Este ano a atriz Cinnara Leal não desfilou em nenhuma escola, mas esteve estar na Marquês de Sapucaí, acompanhando de pertinho, porque é da folia que ela gosta. “Tenho uma relação de amor com o Carnaval, vivo momentos de pura alegria desde criança nestes dias. É uma festa democrática e faz parte da vida dos brasileiros, fora as famílias que trabalham o ano inteiro para fazer uma festa linda e de muito amor. Tenho muito respeito e admiração por esse povo que faz acontecer”, diz Cinnara, que estará na próxima novela das 18h, “Nos Tempos do Imperador”, que estreia em março.
Salgueirense de coração, daquelas que frequentam ensaio na quadra, ela torceu pelo enredo da escola, que este ano levou para a Avenida a vida de Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil, que completaria 150 anos em 2020. “O Salgueiro sempre me emociona. Esse ano, eu vi um enredo lúdico e o protagonismo negro muito potente”, evidencia.
Além de assistir aos desfiles, qual foi sua programação de Carnaval? “Eu gosto dos detalhes da folia, estive com a família e curti com os amigos. Fui ao Saara comprar acessórios e curtimos blocos juntos. Adoro usar algo que tenha criado ou comprado”.
Aos 42 anos, a carioca gosta de se cuidar e compartilha seu modo de viver bem. “Sempre gostei de me movimentar, de fazer algo, treinava sozinha de quatro a cinco dias por semana, mas hoje treino com o personal Fabrício Lima, que mudou o meu corpo, e tem me ensinado que não é quantidade e sim qualidade de treino que faz a diferença”, conta. “Também cuido da alimentação porque foi algo que fiz e passei a me sentir melhor, cortei leite, como poucos derivados do leite. Confesso que sou indisciplinada com cuidados de beleza (risos), não tenho muitos rituais, mas aos poucos vou me esforçando para mudar isso, acho importante até por uma questão de saúde”.
Cinnara entende que a beleza também vem do equilíbrio, mas confessa, que apesar de saber da importância de cultivar uma “cuca mais fresca”, esse é um dos quesitos que ainda trabalha. “Sou bem agitada, filha de mãe separada, que criou três filhos sozinha como muitas mulheres brasileiras. Cresci no subúrbio do Rio ouvindo minha mãe dizer “ou você corre atrás para ter ou não terá”, por isso sou muito ativa e isso me fez ser acelerada, agitada”, revela. “Hoje minha religião tem me ajudado muito, sou espírita, e a espiritualidade me deixa mais centrada, mais calma, conectada com meu interior buscando a melhor forma de lidar com o dia a dia. Aprendi que cuidar da mente é tão importante quanto cuidar corpo e de todo o resto”.
Em abril a atriz também poderá ser vista na série “Really Z” da Netflix e na segunda temporada da série “A Divisão”, da Globoplay. “Além disso, estou preparando um documentário a partir da pesquisa que estou fazendo para minha personagem na novela. Tem muita coisa, será um ano e tanto”, anuncia a bela. E fala ainda, sobre sua personagem na nova das 18h: “Faço a escrava Justina e, como o nome já diz, é uma justiceira. Uma mulher forte e à frente de seu tempo. Será uma novela linda, com certeza”.
Viver Justina é especial para Cinnara, já que a atriz é engajada em movimentos que lutam contra o racismo e destacam a importância da representatividade e da ancestralidade. Como isso se dá na prática? “Por meio da afirmação a identidade, do respeito e da igualdade que cada um de nós merecemos em qualquer época ou situação. Nós não nascemos negros, nós nos tornamos negros. O fato de apagarem nossa história, de nossa existência se dá até hoje, quando a cada 23 minutos um corpo negro está no chão sem vida, ou quando somos subjugados e descriminados por nossas características físicas, por nossa cor de pele. Representar um ato de afirmação de identidade é dizer para os seus: “Você é lindo do jeito que você é”. É ser exemplo de que podemos, sim, estar vivos e com dignidade”, esclarece. “Eu chamo de representatividade ativa quando o negro é colocado em lugar de destaque, porque isso é romper com o racismo estrutural, exaltando e potencializando o povo negro. A ancestralidade vem com a importância de ressignificar o passado, é impossível entender o presente sem entender e estar conscientes do passado, para então construir um novo futuro”.
Que lutas ainda são necessárias para uma mulher negra? “Todas. Lutamos contra hipersexulização da mulher negra, para chegarmos vivas em casa e nos mantermos vivas em casa, pois a mulher negra é a que mais morre no Brasil. Onde a população negra é a maior fora da África, as mulheres negras estão ainda na base da pirâmide social, em piores condições de trabalho, menores salários, ocupando postos de trabalho mais precários. É uma luta diária e estarmos unidas e juntas nessa luta faz toda a diferença”.
E revela, que entre seus sonhos profissionais, está o de ver o protagonismo negro se dar de forma natural e múltipla. “É preciso fazer questão de vibrar, torcer e se erguer juntos com os seus, isso é coletivo, é lutar por um espaço que deve ser preenchido por vários de nós e não por um ou outro. Somos mais de 54% da população, então vamos atrás das oportunidades e de ocupar lugares de valor, de uma forma proporcional, a esse montante que somos e não acreditar que só existe uma vaga e que somos rivais, e assim mais uma vez, nos enfraquecer, manipular e claro apagar”.
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