O fantástico e milionário mundo dos dramas sul-coreanos conquista público ocidental e ganha atenção do streaming


O fenômeno dos dramas sul-coreanos está crescendo e conseguiu atravessar a bolha das produções ocidentais nos últimos dez anos, sendo exibidos em diversos serviços de streaming ao redor do mundo. Com salários de estrelas, efeitos especiais e filmagens no exterior, cada episódio pode custar mais de US$ 2,6 milhões. Apesar da evidente popularidade no cenário internacional, o mercado interno está sofrendo com a evasão das produções para plataformas de streamings ocidentais. A Netflix, durante uma apresentação corporativa realizada no início deste ano, afirmou que tem um orçamento previsto de US$ 500 milhões, cerca de R$ 2,72 bilhões, na produção de conteúdo para a Coreia do Sul, país responsável por acumular 3,8 milhões de assinantes do serviço. Quando comparamos o investimento no recorte da Ásia-Pacífico, a Coreia do Sul é responsável por metade do valor destinado, cujo orçamento total é de US$1 bilhão, algo em torno de R$ 5,45 bilhões. 

O fantástico e milionário mundo dos K-dramas sul-coreanos conquista público ocidental e ganha atenção do streaming

*Por Bell Magalhães

Mais um elemento que está criando morada na cultura pop são os k-dramas. Eles são extremamente populares e, nos últimos 20 anos, se tornaram um dos segmentos que recebe a maior fatia dos investimentos do streaming, fora a produção que fica mais cara a cada ano. Com salários de estrelas, efeitos especiais e filmagens no exterior, cada episódio pode custar mais de US$ 2,6 milhões. Mas, afinal, o que é um k-drama? É um gênero que pode ser chamado ‘drama’ ou ‘novela coreana’. O prefixo ‘k’ faz alusão à Coreia, que vem da forma com que é escrito o nome do país na língua inglesa. Em relação ao formato, os k-dramas tem, em sua maioria, apenas uma temporada com 12 a 24 capítulos, seguindo o formato de minissérie, e com episódios com tempo de exibição que variam de 30 a 60 minutos.

Essas plataformas têm um papel imprescindível na disseminação da cultura do k-drama. A Netflix, durante uma apresentação corporativa realizada no início deste ano, afirmou que tem um orçamento previsto de US$ 500 milhões, cerca de R$ 2,72 bilhões, na produção de conteúdo para a Coreia do Sul, país responsável por acumular 3,8 milhões de assinantes do serviço. Quando comparamos o investimento no recorte da Ásia-Pacífico, a Coreia do Sul é responsável por metade do valor destinado, cujo orçamento total é de US$1 bilhão, algo em torno de R$ 5,45 bilhões. 

 Dramas sul-coreanos conquistam público ocidental e ganham atenção do streaming (Divulgação)

Dramas sul-coreanos conquistam público ocidental e ganham atenção do streaming (Divulgação)

A trajetória dos dramas coreanos é longa. A primeira série de televisão exibida no país, “Gukto Manri”, foi transmitida pela KBS em 1962. Na década de 60, os aparelhos de televisão tinham uma disponibilidade limitada, o que fez com que os dramas não conseguissem conquistar uma audiência mais expressiva. A partir da década de 1980, com a chegada da televisão em cores, os dramas modernos tentavam evocar a nostalgia dos moradores urbanos, representando a vida rural. O primeiro grande sucesso comercial da escritora Kim Soo-hyun, foi com o drama “Love and Ambition”, exibido na MBC em 1987. Considerado um marco na TV sul-coreana, a série obteve um recorde de audiência de 78%. Segundo o jornal The Korea Times, ‘as ruas ficaram silenciosas no tempo de transmissão do drama como praticamente todos no país, que estavam em casa na frente da TV’.  Hoje, vemos desde jovens antenados na cultura asiática até pessoas mais velhas que acabam encontrando os dramas por indicação de conhecidos ou sugestão das próprias plataformas com base nos dados colhidos por algoritmos.

Hoje, vemos desde jovens antenados na cultura asiática até pessoas mais velhas que acabam encontrando os dramas por indicação de conhecidos (“Loucos Um Pelo Outro”/ Divulgação)

Vendo da perspectiva financeira, o cenário do drama coreano nos anos 2000 era muito menos complicado do que hoje. A variedade era limitada, com dramas românticos, dramas familiares e alguns ‘sageuks’, nome dado ao gênero de drama que retrata períodos históricos da Coreia, sendo mais caros dominando as programações. Os salários dos membros do elenco representavam apenas 10 por cento dos orçamentos, a competição era relativamente baixa e as produções eram diretas.

De acordo com dados do site do jornal South China Morning Post, há 20 anos, quando havia apenas três grandes emissoras – KBS, SBS e MBC – na Coreia do Sul, o custo para se produzir uma série de drama coreana era de 36,5 milhões de wons sul-coreanos por episódio. Passado o tempo, esse número subiu para 700 milhões de wons, cerca de 3,14 milhões de reais. O valor é baseado nos custos de produção cinematográfica, mas se incluir os serviços de streaming na equação, a média real pode ser ainda maior.

Atualmente, o custo para se produzir um k-drama subiu para 700 milhões de wons, cerca de 3,14 milhões de reais ("O Mito de Sísifo"/Divulgação)

Atualmente, o custo para se produzir um k-drama subiu para 700 milhões de wons, cerca de 3,14 milhões de reais (“O Mito de Sísifo”/Divulgação)

Uma das maiores mudanças para o crescimento no valor gasto nas produções é, sem sombra de dúvidas, o elenco. Os artistas ocupam uma porcentagem maior do orçamento geral de produção, com participações de cantores e grandes nomes do cinema nacional. Um dos membros do famoso grupo de k-pop BTS, Kim Tae-Hyung, mais conhecido na carreira musical por seu nome artístico V, protagonizou, em 2017, a série “Hwarang: The Poet Warrior Youth”, na qual também contou com a participação de Choi Min-ho, o Minho, do grupo SHINee. Fora o casting, as séries se tornaram mais ambiciosas, com demandas de filmagens e efeitos visuais estrangeiros, e a ampla gama de canais de distribuição aumentou tanto a variedade de programas coreanos quanto sua audiência internacional.

O custo médio de um episódio saltou para mais de 100 milhões de won em 2008. No momento em que as redes a cabo TVN, JTBC e OCN se tornaram as maiores empresas de telecomunicações do país e concorriam entre si pela audiência, em 2015, esse número subiu para 400 milhões de wons. A competição gerou grandes gastos, com o custo de produções mais caras chegando facilmente a 1 bilhão por episódio. 

Os artistas ocupam uma porcentagem maior do orçamento geral de produção ("Vincenzo"/Divulgação)

Os artistas ocupam uma porcentagem maior do orçamento geral de produção (“Vincenzo”/Divulgação)

Apesar da evidente popularidade no cenário internacional, o mercado interno está sofrendo com a evasão das produções para plataformas de streaming ocidentais. No ano passado, as emissoras KBS, SBS e MBC produziram 16, 13 e 11 dramas, respectivamente, mas esses números estão caindo para entre seis a dez neste ano. À medida que essas emissoras obtêm sucesso com reality shows de TV mais baratos, que custam cerca de 120 milhões de wons para serem produzidos, os preços crescentes dos dramas estão se tornando cada vez mais difíceis de justificar. Um dos maiores medos do mercado de produção cinematográfico sul-coreano é a possibilidade de o mercado dos k-dramas começar a perder a popularidade para acionistas e as empresas de streaming diminuírem o investimento até se desinteressarem pelo segmento. Nesse caso, a redução de custos que se seguirá pode ser devastadora para o setor. De todo modo, hoje, a indústria de dramas coreanos está a todo vapor e pronta para ganhar cada vez mais corações no ocidente.  Para ilustrar um pouco desse fenômeno da indústria cultural, separamos aqui algumas dicas dos k-dramas lançados recentemente. Confira:

Vincenzo (2021)

Outra série que tem caído nas graças do público é “Vincenzo”, que conta a história de Vincenzo Cassano, interpretado pelo ator Song Joong-ki, um advogado coreano que trabalha para uma família de mafiosos italianos. Durante uma visita à Coreia do Sul, sua terra-mãe, Vincenzo decide se vingar daqueles que o fizeram sofrer no passado, travando uma perigosa batalha contra um cartel local que não pode ser punido nem mesmo pela lei. Mas isso não atrapalha os planos de Vincenzo, que vai contar com a ajuda da implacável advogada Hong Cha-young, da atriz Jeon Yeo-been, e seu estagiário Jang Jun-woo, vivido pelo rapper e integrante da boy band 2PM, Ok Taec-yeon.

"Vincenzo", 2021 (Divulgação)

“Vincenzo”, 2021 (Divulgação)

O Mito de Sísifo (2021)

O Mito de Sísifo” acompanha Han Tae-sul, vivido pelo ator e cantor Cho Seung-woo, um homem conhecido por suas habilidades como engenheiro de computação, mas também por sua aparência perfeita e seu alto senso de moda. Ele está à frente da Quantum and Time Company, negócio de fama mundial que ele co-fundou com seu irmão mais velho, morto 10 anos antes. Um dia, ele recebe novas informações sobre a misteriosa morte de seu irmão. Assim começa sua perigosa busca pela verdade, em que se vê perseguido por Kang Seo-hae, vivida pela atriz Park Shin-Hye , uma poderosa guerreira que, vinda de um futuro próximo e distópico, é capaz de matar os homens mais fortes com as próprias mãos. Usando as técnicas de sobrevivência, ela embarca em uma longa jornada para encontrar Han Tae-sul – que vive no passado – e salvá-lo de um perigo que só ela conhece.

"O Mito de Sísifo", 2021 (Divulgação)

“O Mito de Sísifo”, 2021 (Divulgação)

Loucos Um Pelo Outro (2021) 

Loucos um Pelo Outro” (“Mad For Each Other”, em inglês) é a 68ª série de k-drama da Netflix e gira em torno de Lee Min-kyung e Noh Hwi-oh. O primeiro é um detetive da divisão de crimes violentos da Delegacia de Polícia de Gangnamm, em Seul, capital da Coreia do Sul. No entanto, ele se tornou uma pessoa com problemas psiquiátricos e não conseguiu conter sua raiva depois de uma mudança repentina em sua vida. Já Min-kyung vive em compulsões e delírios de sua cabeça. Ela tinha um emprego respeitável, era bonita e levava uma vida decente, mas tudo em sua vida mudou repentinamente devido a um incidente. “Loucos um Pelo Outro” mostra pela primeira vez uma dupla inesperada de atores, Oh Yeon-seo e Jung Woo, juntos em uma série coreana. A série também conta com a participação da cantora Lee Su-hyun, do duo Akdong Musician (AKMU), uma dupla musical formada com o seu irmão, Lee Chan-hyuk. A cantora também é integrante do grupo Hi Suhyun

"Loucos Um Pelo Outro", 2021 (Divulgação)

“Loucos Um Pelo Outro”, 2021 (Divulgação)