*Por Brunna Condini
Mais do que “Laços de Família”, a trama de Manuel Carlos que reestreia nesta segunda-feira (7) no Vale a Pena ver de Novo, fez laços entre os atores que participaram da produção. Tanto que quando Juliana Paes, Reynaldo Gianecchini e Marieta Severo se encontraram em conversa virtual para falar da trama, o carinho e a gratidão na troca entre o elenco, se tornou evidente.
Juliana Paes e Gianecchini, iniciantes há 20 anos, começaram a carreira na trama de Manuel Carlos. A atriz fazendo sua Ritinha, um papel secundário, mas fundamental para o desenvolvimento de uma das tramas; e o ator viveu seu primeiro protagonista, Edu, em um triângulo amoroso de respeito, com as personagens de Carolina Dieckmann, Camila, e a da Vera Fischer, a Helena da trama. Durante a conversa, os atores fizeram questão de ressaltar a união nos bastidores e a generosidade dentro e fora de cena de Marieta Severo, que interpretava a icônica Alma no folhetim.
“Lembro que toda vez tocava aquela musiquinha da abertura dava muita emoção. Minha família toda assistia, tinha um frisson muito grande e uma angústia de não saber se seria meu único trabalho. É gostoso pensar como a vida vai mudando, colocando a gente em outros lugares, tanta coisa passou, eu tinha 20 anos na época”, recorda Juliana. “Lembro que uma das coisas que mais me marcou eram os bastidores, como tudo acontecia, tudo o que via. Lembro que cheguei em casa depois da primeira semana de gravações e falei para a minha família: ‘eles se divertem muito lá’. Já eu, penei até pegar o jeito e poder brincar também, isso veio nos outros trabalhos. Levei muita bronca (risos). Tinha dificuldade de falar o texto, me posicionar na luz. A gente aprende a ficar criativo no caos com o tempo…mas a insegurança sempre existe”, analisa Juliana, que, com a estreia da trama de Manoel Carlos, vai ficar durante duas semanas no ar na Globo, já que na faixa das 19h, “Totalmente Demais” está na reta final, e “A Força do Querer” estreia agora em setembro, no horário das 21h.
Juliana, com o alto astral de sempre, aproveitou a conversa para agradecer publicamente Marieta Severo pela parceria no início da carreira. “Estou muito feliz de 20 anos depois poder falar dessa novela. Quero fazer um agradecimento à Marieta. Ela foi fundamental na minha carreira e talvez não saiba. Não tive uma formação, fui cria da casa e aprendi fazendo. Em “Laços”, tinha a pureza que o personagem pedia, o physique neste caso, era mais forte e necessário que o talento aprimorado. E esperava horas para gravar minhas participações nas cenas, que durante boa parte da novela foram pequenas. Lembro que uma vez cheguei a dormir sentada no estúdio, segurando uma bandeja e perdi minha entrada. Mas a Marieta me marcou para sempre, na forma como fazia suas cenas, e em especial, em uma que fizemos quando ela descobre que Rita está gravida e dá um sacode nela. Pensei que não saberia fazer porque tinha que chorar muito. Fiquei três dias sem dormir pensando no que lembraria na hora, da minha própria vida, para me emocionar. Mas quando Marieta me segurou com a emoção real, vi que não precisava pensar em nada, porque a minha emoção veio. Ali pensei: é isso! Depois fiquei anos com vergonha de dividir isso com ela”. E completou, emocionada: “Não me arrependo de nada. Os erros e acertos nos levam até aqui. Só diria para mim hoje: faz igualzinho Juliana. Nestes anos todos me transformei, muito e principalmente também, depois da maternidade. Meus filhos Pedro,9 anos, e Antonio, 7, foram os grandes turning points da minha vida. Até o colorido das fotos é diferente se você olhar”.
A dramaturgia e o seu tempo
No papo, Marieta Severo destacou suas memórias do começo de carreira de Juliana e Gianne. “Lembro deles nos bastidores, o nervosismo, mas uma vontade imensa de estarem ali. É muito bom ver os artistas que eles se tornaram, acompanho a carreira dos dois”, diz ela, que estará na próxima das 21h, de Lícia Manzo, “Um Lugar ao Sol”. A atriz aproveitou para comentar o visual mais grisalho: “Estou deixando os brancos, são práticos. Como não posso ir ao salão, porque tenho ido ao hospital direto (o diretor Aderbal Freire Filho, seu companheiro sofreu recentemente um acidente vascular cerebral), cortei com tesourinha de unha recentemente (risos). Vou deixar ficar bem branco, meu próximo personagem, a vó Noca, pede esse visual. Nossos cabelos são em funções dos personagens”.
Com 55 anos de carreira, ela afirma que até hoje sente inseguranças, o tal “frio na barriga”. “Acho que sempre sentimos. A Ju e o Gianne são generosos e me emocionei com o que falaram, mas o que ficou para mim desta época, é que eu enxergava que eram atores talentosos, que vieram para a profissão com respeito, para ficar, e trabalhar muito. Tenho orgulho deles, como um orgulho de mãe mesmo”.
Pensando nas mudanças vividas nos últimos 20 anos, Marieta destacou a vida pessoal e o momento do país. “Na época desta novela tinha dois netos agora tenho sete. Também estava solteira e ganhei um companheiro há 17 anos, de vida e de criação, de uma coisa que é fundamental na minha vida, o Teatro Poeira, que criei com minha comadre Andrea Beltrão e Aderbal, isso é marcante, porque agora estamos fazendo 15 anos de existência”, observa.
“Pensando no Brasil, acho que há duas décadas não tínhamos a consciência que temos hoje. Não imaginaríamos, por exemplo, que este tipo de governo seria eleito, teria apoio de uma parte grande da população. Que essas pessoas assinariam embaixo do que este governo propõe, deste tipo de valores, que nem preciso dizer quais são porque acho que todo mundo sabe. Quando ia imaginar que a foto de uma criança fazendo “arminha” com as mãos fosse levar alguém a assinar embaixo deste tipo de caminho político. Então acho que essa é uma grande diferença”.
Gianecchini concorda e complementa: “Acho que nestes anos muitas coisas ficaram claras. As poeirinhas saíram debaixo do tapete e pudemos olhar bem o que não era olhado como deveríamos: a questão do racismo, dos preconceitos, da homofobia. Sempre suspeitei que éramos um país preconceituoso, racista, homofóbico, mas isso veio à tona nos últimos anos, ficou evidente, o que acho bom, porque para mudar, temos que olhar. Assumir que somos um país que reverbera tudo isso. Isso é marcante e os novos tempos estão nos fazendo enxergar mais isso. Não podemos deixar mais de olhar”.
Amadurecimento
O ator de 47 anos, recordou ainda, a alegria do convívio com o elenco e a intensidade das experiências da época. “Essa novela abriu muitas portas, podia ter sido escorraçado ali (risos), mas continuei a carreira. Essa novela marca o começo de um grande amadurecimento. Parece que vivi 10 anos em um ano, pessoalmente e profissionalmente. Foi difícil e rico. Inesquecível. Hoje em dia consigo ver os erros, e os poucos (risos) acertos. Mas hoje assisto sem chicotinho. Ninguém sabe que fazer novela é muito difícil. Muito mesmo. E claro, nesta época, pela minha inexperiência, errei muito durante as gravações, até hoje peço desculpas para Marieta (risos). Mas as relações eram muito gostosas, isso para mim foi o que mais ficou. Eu pensava: “Gente, o Ale (Alexandre Borges), e a Marieta fazem com o pé nas costas. Hoje, analisando isso, penso que o Edu foi como tinha que ser, cru, desarmado. A minha fragilidade que saltava aos olhos, ajudava o personagem. Era um misto de emoções, felicidade de fazer parte, mas vendo que tinha muito para aprender”.
E comentou sobre as críticas da época: “Nas internas, entre elenco e produção, não senti nada ruim, muito pelo contrário. Eu era o primeiro a reconhecer que era verde. O problema maior era minha autocrítica mesmo, mas recebi ajuda. Agora, da imprensa, mídia, rolavam histórias que me machucavam, sim. Não pela crítica, isso acho legal, por mais que seja o que você não quer ouvir, fico atento. O que acontece, é que tinha gente querendo ridicularizar, te destratar, então tive que encarar isso também. Na época era muito difícil, tinha 20 anos. Hoje acho que levaria bem. Para quem está começando, é jovem, é complicado, damos muito peso as coisas. Todo mundo quer dar sua opinião, mas as vezes esquece que tem um ser humano ali. E nós estamos expostos a tudo, né? Isso me chocou na época”. Se pudesse se dar um conselho na época, qual seria? “Diria: siga o seu coração e continue dando o seu melhor. Tudo muda, nada é absoluto. Dê o seu melhor e seja leve”.
O que mudou em você? “O que me fez amadurecer muito foi estar em contato com a morte. Tive o câncer, e ele foi um ponto de virada, me fez refletir muito, mexeu em tudo na minha vida. A partir dali, foi muito amadurecimento para conseguir entender melhor muita coisa. Revi, dei prioridade para as coisas certas”.
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