“O Brasil é um país que acolhe as pessoas e proporciona a reintegração e oportunidades”, avalia Bruno Cabrerizo


O Hussein de ‘Órfãos da Terra’ conversou com o site Heloisa Tolipan sobre o personagem no folhetim das 18h, da TV Globo e a situação dos refugiados no Brasil e no mundo

O Ator Bruno Cabrerizo em sua segunda novela vive o Hussein Zarif em ‘Órfãos da Terra’ (Fotos: Dêssa Pires/ Make: Aline Paranhos/ Stylist: Paulo Zelenka)

*Por Rafael Moura

Bruno Cabrerizo entrou em ‘Órfãos da Terra’ com um personagem tímido que apareceu na trama como primo de Jamil, Renato Goes, que foi agora adotado por Aziz Abdalla, Herson Capri. O personagem foi descrito pelas autoras Thelma Guedes e Duca Rachid como um dos capangas do sheik, mas que em seu íntimo carregava uma paixão secreta por Soraia, Letícia Sabatella, uma das esposas do poderoso milionário. O sucesso do bonitão foi tanto que ele está evolvido em um novo desfecho: um amor com  Helena, personagem de Carol Castro. “Interpretar Hussein é uma grande experiência e uma mudança radical. É a minha segunda novela na TV Globo (a primeira foi “Tempo de Amar“, 2017). É um personagem mais denso e com muitos conflitos, por isso, fiquei muito feliz de poder trabalhar com o Gustavo Fernandes (diretor artístico), André Câmara (diretor-geral) e com a Duca e Thelma”, celebra. O libanês estava previsto para ‘sair’ na primeira fase do folhetim e só voltaria no final. “A repercussão do personagem foi grande e um presente da Thelma e da Duca. Esse reconhecimento é muito gratificante, porque eu me dedico muito na minha carreira, e essa manifestação do público é super importante. Os telespectadores são soberanos. Eles é quem mandam”, comenta o ator.

Na trama, o personagem de Bruno Cabrerizo sofreu muito ao perder sua grande paixão proibida e foi esse perfume, com cheiro de especiarias e encantamento que o levou a se apaixonar por Carol Castro, tanto na ficção com Helena, e na vida real. As linhas da vida de Hussein e Helena se cruzaram, afinal, os dois amargaram com a morte de suas paixões, então foi ‘apenas uma curva’ para que o libanês e a psicóloga engatassem um romance. “Ambos têm muito em comum, principalmente o fato de terem sofrido por amor. Ele amou, silenciosamente, Soraia durante muitos anos em respeito ao seu ‘pai adotivo’, porque esse tipo de relacionamento na cultura árabe é muito grave, gerando inclusive casos de morte, como aconteceu na trama. A Helena teve uma perda muito grande que foi a do marido e, talvez por um momento de carência ou fraqueza acabou se envolvendo com Elias, (Marco Ricca), um homem casado, ficando mal vista”, explica.

O ator falou sobre a questão dos refugiados no Brasil e em outros países (Fotos: Dêssa Pires/ Make: Aline Paranhos/ Stylist: Paulo Zelenka)

Bruno conta ao site Heloisa Tolipan que essa não é a primeira vez que ele e Carol vivem um romance na ficção. Já  foram par romântico no longa ‘O Garoto’, previsto para ser lançado em 2020, no qual seus personagens são casados. “Eu e Carol já tínhamos trabalhado juntos. Fizemos um filme e como marido e mulher, coincidentemente. Quando filmamos ‘O Garoto’ não imaginava o que ia acontecer entre Helena e Hussein”. O longa é assinado pelo cineasta Bruno Saglia e conta a história de um escritor que vive da fama de um ‘único romance’ e é ambientado na cidade de Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro.

Bruno nos conta que para viver Hussein passou por um intenso processo de preparação desde dezembro de 2018. “Fizemos muitas leituras do texto, tivemos aulas de cultura e da língua árabe, acompanhamento de fonoaudióloga. É tudo muito intenso e está sendo um grande aprendizado, principalmente por conta da língua, que é muito difícil, mas muito bonita por sua pronúncia e escrita”, enfatiza. A novela traz como espinha dorsal os refugiados e a mistura de diferentes culturas, se tornando uma meca da diversidade. “Eu acho um texto muito necessário, principalmente porque as novelas fazem parte da nossa cultura e são formadoras de opinião. É importante que o Brasil entenda a complexidade dessa temática dos refugiados e a diversidade de culturas entrando na casa das pessoas. É bom porque abre a mente dos telespectadores. Afinal, nem todo mundo pode sair do Brasil para conhecer outras países. É uma história muito rica”, pontua.

O ator vai além e ainda traz à tona a questão dos refugiados no mundo. “Eu moro na Itália há 14 anos (ele nasceu no Brasil e tem cidadania italiana) e vejo desde que cheguei lá pessoas de diferentes partes do mundo pedindo abrigo. Lá nos deparamos com essa realidade diariamente. É algo real há muito tempo, mas, para muitos brasileiros, essa é a primeira vez que ouvem falar sobre a quetão. A novela faz esse papel de debater e trazer para a ‘roda’ temas da atualidade, principalmente para que não aconteçam casos de xenofobia, racismo, etc. Ouso afirmar que 90% dessas pessoas saem de suas terras por não ter o que comer por causa das guerra. E o Brasil é um país de todos os deuses, que sempre acolhe a todos podendo proporcionar uma integração e oportunidades de refazer a vida. Eu vivi isso na pele como uma pessoa que decidiu sair do meu país, ‘estar fora’ sem falar a língua local”, revela.

“É importante que o Brasil entenda a complexidade dessa temática dos refugiados e a diversidade de culturas mesmo que seja através da tela da TV” (Fotos: Dêssa Pires/ Make: Aline Paranhos/ Stylist: Paulo Zelenka)

O galã estreou na teledramaturgia na produção portuguesa, da TVI, ‘A Única Mulher’, em 2015. Para ele, a principal diferença entre as novelas de lá e de cá é o tamanho do nosso investimento nos folhetins e o do nosso país. “A Globo é muito grande e tem muito mais investimento. Isso gera condições de criar e desenvolver grandes produtos. Em Portugal somos apenas 11 milhões de habitantes, a proporção é muito menos. O Brasil é a pátria das novelas, que serve como referência para todos os países. Eles tem muita referência do Brasil e aproveitam essas ‘escola’ para aprender o que acaba tendo linhas que se cruzam com a nossa teledramaturgia”, enfatiza

No fim perguntamos como Bruno passou de jogador de futebol, começou sua carreira nos gramados em 1994, na categoria sub-15 do Botafogo-RJ, passou pelo CFZ, Flamengo, Sagan Tosu (Japão), Cabofriense, Gama e Alessandria (Itália), onde pendurou as chuteiras, em 2006. “Eu sempre gostei do mundo das artes, mas nunca fui a fundo. Acabei optando pelos esportes. Eles fazem parte da minha vida e foram importantes na minha formação como homem. Eu tinha 24 anos quando parei de jogar, então resolvi seguir meu sonho de trabalhar na televisão. Eu era muito ansioso e resolvi estudar teatro”, explica. Começou a trabalhar na TV foi em 2009, como assistente de palco do programa no programa italiano ‘Domenica Cinque’. Em 2010 passou nos testes do Comedy Central para apresentar a comédia ‘Salsa Rosa’ ao lado de Katia Follesa. No ano seguinte, ele interpretou Fernando, em ‘Don Matteo’, uma série de televisão italiana produzida e exibida pelo canal Rai 1 que está no ar desde 7 de janeiro de 2000.

Polivalente, ele divide o tempo entre o trabalho e o mar. Há alguns meses, o ator descobriu um novo esporte: “Se for para surfar, acordo às seis da manhã, com a maior disposição”, brinca. E para não fazer feio em cima da prancha, Bruno também tem tido aulas de skate. “É um ótimo exercício para o equilíbrio. Tanto do corpo quanto da mente”.