“Nunca tive crise de idade, mas, sim, quando pensei se conseguiria viver de arte”, diz Flavia Alessandra


Estreando na pele da misteriosa Helena, hoje em “Salve-se quem puder”, Flavia Alessandra fala da trama, do desafio de viver a personagem, e da passagem do tempo: “Minha mãe é sábia. Um dia me disse: filha, envelhecer não é uma maravilha. Morri de rir com ela. E começou a me dizer que tudo cai, cabelo, gengiva, vai dando um desespero. O lado da sabedoria, é claro que é maravilhoso. Mas o lado de perder a vitalidade, não. Mas tenho uma bisavó que está com 102 anos. Minha genética é boa”

*Por Brunna Condini

Se Flavia Alessandra pudesse traduzir sua personagem na trama de “Salve-se quem puder”, que estreia hoje, no horário das 19h, em um adjetivo, certamente seria misteriosa. A Helena, da novela de Daniel Ortiz, tem uma vida presente, aparentemente ajustada, e um passado, digamos, nebuloso. “Ela é uma empresária bem-sucedida, dona do “Empório Delícia”. Adoraria ter um lugar assim. Tenho um lado empresarial meu já realizado, o salão com o Marcos Proença, mas gostaria muito de ter um complexo gastronômico como esse”, revela a atriz. “A Helena tem uma família superbacana, é casada com o Hugo, que o Leopoldo Pacheco vive, e tem dois enteados que são como filhos para ela. Mas tem um buraco emocional, porque em algum momento, ela deixou uma filha para trás”.

Flavia Alessandra na pele da sofisticada Helena, de “Salve-se quem puder” (Globo/Miguel Junior)

Sob a direção de Fred Mayrink, Flavia dá vida à empresária, que esconde segredos, como o relacionamento que teve com Mário (Murilo Rosa) e a existência de Luna (Juliana Paiva), a filha que morava em Cancún, no México, e que abandonou. No presente, Helena é casada com Hugo, e tem adoração pelos enteados, Téo, interpretado por Felipe Simas, e Micaela, vivida por Sabrina Petraglia. Embora feliz com a sua escolha para a personagem, Flavia confessa, que quase não topou fazê-la: “Foi um grande conflito para mim. Quando li a sinopse, pensei: o que justifica essa atitude, de uma mãe abandonar uma filha? E aí, conversei com o Fred, o Daniel, e entendi, e isso acabou virando um motivo para aceitar. Pela primeira vez na minha carreira, estou fazendo um papel que não sei o porquê. Não sei a índole dela. Está sendo curioso e desafiador”, diz. “Quando você pega uma personagem, você quer entendê-la primeiro. É muito difícil você não saber sua índole para criar. Não consegui arrumar uma desculpa para a Helena, para essa atitude. Ela é o desconhecido para mim. Esse é o grande desafio, mas está sendo incrível”.

“Foi um grande conflito para mim. Quando li a sinopse, pensei: o que justifica essa atitude, de uma mãe abandonar uma filha? E aí, conversei com o Fred, o Daniel, e aceitei” (Globo/ Miguel Junior)

Aos 45 anos e com mais de 30 de profissão, Flávia conseguiu encontrar um caminho para viver a personagem-incógnita. “Em todos os capítulos, eu falo, que quero voltar para o México para socorrer o meu enteado, o Téo, que está lá no momento do furacão. E o meu marido diz que não posso voltar, não posso esquecer o que fiz. Aconteceu alguma coisa, eles sabem, mas eu não. Então, na minha interpretação, deixo um lado sombrio no ar, que pode ser qualquer coisa. Não sei se ela é do bem e do mal”, conta, e deixa escapar: “A filha, Luna, acaba vindo trabalhar aqui no empório, com a nova identidade, e também vai parar dentro da minha casa. Estou falando coisa que não podia, né? Mas a Luna vira fisioterapeuta do Téo. Então, num dado momento, a Helena é quase mãe e sogra. Pode isso? A trama é surpreendente”.

Ao lado de Leopoldo Pacheco, que faz seu atual marido, Hugo: “A trama é surpreendente” (Globo/João Miguel Júnior)

Flavia está com o visual renovado para a Helena, com cabelos curtíssimos. E embora esteja mais bonita do que nunca, ela afirma que não é radical no que diz respeito à alimentação e cuidados com o corpo. “Temos que buscar equilíbrio em tudo. Nos finais de semana me dou ao direito de comer mais e aproveitar a vida. Às vezes, durante a semana, quando uma amiga surge de férias também, não me privo”, diverte-se. “Depois tento dar uma compensada, malho mais e vamos seguindo”.

“Depois dos 40, tem que intensificar a musculação. A prioridade não é ficar sarada, é fortalecer, para não sentir dor, não sentir joelho.” (Globo/ João Miguel Júnior)

E o que hábitos tem? “Faço de tudo um pouco, em termos de exercícios. Minha busca é sempre o bem-estar. Sou uma pessoa que a vida inteira comi de tudo, gosto de comer. Tento ter mais equilibro hoje com a carne vermelha, comendo só duas vezes por semana, por exemplo”, conta. “Treino, mas nada pesado. Faço yoga, trilha, dança com o Justin Neto, que fico quebrada (risos). Vou variando, mas tento sempre ter alguma atividade”.

“O lado da sabedoria, é claro que é maravilhoso. Mas o lado de perder a vitalidade, não” (Globo/Reginaldo Teixeira)

Há poucos anos de completar cinco décadas, a atriz fala francamente sobre o processo do amadurecimento. “Ficar mais velha influencia em tudo. O que mais mudou, acho que foi a questão do colágeno, de massa magra no corpo, que é característico. Então, acho que depois dos 40, tem que intensificar a musculação, porque vai balancear. A prioridade não é ficar sarada, é fortalecer, para não sentir dor, não sentir joelho. Graças a Deus, eu acordo e não sinto dor em nada”, garante. “Só sinto dor quando faço dança, por exemplo, mas é porque me empolgo. Não sinto dores porque invisto no fortalecimento da minha musculatura, isso é a base para tudo”.

“Não me assusta envelhecer. Me assusta a velocidade do tempo hoje” (Globo/João Miguel Júnior)

E segue, dividindo sua experiência até aqui. “ Fiz dança a vida toda, o músculo tem memória também. Mas tem os hábitos. Minha mãe está com 72 anos, meu pai com 83, e estão muito bem. Meu pai, entrou na musculação há cinco anos, mudou tudo, até a postura dele. Voltou a ser meu pai, está com tônus muscular”, compartilha. “Minha mãe é sábia. Um dia me disse: filha, envelhecer não é uma maravilha. Morri de rir com ela. E começou a me dizer que tudo cai, cabelo, gengiva, vai dando um desespero. O lado da sabedoria, é claro que é maravilhoso. Mas o lado de perder a vitalidade, não. Mas tenho uma bisavó que está com 102 anos. Minha genética é boa, mas sabemos o que vamos perdendo com o tempo”.

Que procedimentos já fez? “Fiz botox, faço laser, não sei os nomes certos. Mas a maioria dos procedimentos de laser que faço, são voltados para o melasma, porque o meu tende a voltar, tive na gravidez e amo Sol. E sempre que trabalho melasma, trabalho o colágeno”.

“Sou feliz, mas sempre fui. A única coisa que mudaria a vida toda, é tamanho e isso não dá para mudar, né? Então, vamos lá” (Globo/ João Miguel Júnior)

Envelhecer a assusta de alguma forma? “Não. Me assusta a velocidade do tempo hoje. Piscou o olho, eu já vou estar aí velha. É impressionante essa velocidade. E acho o tempo algo precioso”, analisa. “Não sei se essa sensação de velocidade é porque estamos recebendo muita informação, estímulos, de todos os lados, atividades, corre-corre, o tempo todo. Isso é diferente de anos atrás. Mas isso, assusta. Tenho vontade de parar um pouco esse tempo, por exemplo, para poder admirar mais as minhas filhas. A Giulia vai fazer 20. A Olivia está quase do meu tamanho, com 9 anos”, completa.

Flavia Alessandra, com as filhas Giulia, e Oliva, de seu casamento com Otaviano Costa (Reprodução Instagram)

E revela, que não teve crises de idade até hoje: “Se tive alguma, foi profissional, no passado. Quando entrei na faculdade, fiz Direito, minha carreira como atriz não decolava. Nunca tive crise de idade. Tive sobre o trabalho, e cheguei a pensar se conseguiria viver da profissão que amo, como atriz. Mas deu certo. Essa foi a crise: será que não vou conseguir viver de atuar ou vou ter que virar advogada mesmo para me sustentar? Essa foi minha grande crise”.

Está feliz com a mulher que vê no espelho? “Sou feliz, mas sempre fui. A única coisa que mudaria a vida toda, é tamanho e isso não dá para mudar, né? Então, vamos lá. A gente se descobre feliz, com o que tem, o que é”, diverte-se. E conta, que está adorando o novo visual: “Amo cabelo curto. Sou muito suspeita. Meu marido (Otaviano Costa) também está curtindo. E muito bom quando o companheiro incentiva. Na verdade, eu ainda queria ele mais radical. Quando acabar a novela, vou dar uma raspadinha do lado e botar ele mais blondie. Todo mundo diz que cabelo curto é um caminho sem volta (risos). É uma delícia, é prático. Amei estar com a nuca de fora, tem uma sensação de leveza”.