Trama nunca reprisada em razão de seu insucesso, “Os Gigantes”, novela de Lauro César Muniz que voltou ao Globoplay na segunda-feira, comporá o Projeto Fragmentos. A música de abertura da novela que dizia que “Um pássaro que traça em voo livre o seu caminho, seguindo o sol, pra ser feliz, não vai perder o rumo”, perdeu-se. A novela tem como personagem principal, Paloma (Dina Sfat) se dizia livre, iconoclasta, e bancou o preço por haver provocado a eutanásia do irmão. A protagonista acaba a novela suicidando-se. É nesse clima pouco carismático que se calcou “Os Gigantes”. A trama de 1979 só teve dois capítulos preservados: O primeiro e o último. Desta forma, não teremos acesso ao caos absoluto que imperou na novela, que teve atriz sapateando sobre o texto por não querer interpretar aquilo a autor demitido, e conflito entre a cúria católica e o Conselho Nacional de Umbanda. A audiência da novela foi baixa para a época, 51 pontos. Para fins comparativos, a antecessora, “Pai Herói”, marcava 70.
Fato pouco comentado sobre “Os Gigantes” e do qual não teremos acesso no Globoplay em face do apagamento das fitas, relaciona-se ao seguinte: No capítulo 63 um padre beijou a mão de uma mãe de santo. O Conselho Nacional da Umbanda, disse que o bom relacionamento com a Igreja Católica seria utópico e a Igreja por sua vez “disse que um padre jamais beijaria a mão de uma filha de santo, pois isso caracterizaria que o sacerdote reconheceria nela uma autoridade semelhante à sua”.
Sob algum aspecto, Lauro César Muniz, o autor, já previa que tocar em temas sensíveis poderia recair numa baixa aceitação do público. “Acho que ‘Os Gigantes’ vai conseguir menos audiência que as outras novelas. Ela vai encontrar muita resistência por parte do público, não só por abordar temas como a eutanásia, mas devido à personalidade de Paloma. Mas estamos cientes porque ela coloca em xeque e vai discutir os valores morais mais conservadores”, relatou em O Globo, em 20/08/1979. De acordo com pesquisa realizada pelo produtor de conteúdo Tião Uellington, no começo da novela, Dina Sfat (1938-1988) estava empolgada com a personagem, ainda que não a conhecesse bem. “Essa personagem me preocupa e ainda não a conheço inteiramente, apesar de já ter gravado mais de trinta capítulos. Isso se deve um pouco ao fato de Paloma ser o eixo da novela, o que me dá medo e prazer ao mesmo tempo, mas também me deixa, como atriz, oscilante”, relatou em O Fluminense, no ano de 1979.
As digressões entre Dina, Lauro e a novela se intensificaram. Algo relatado tanto na biografia da atriz, “Palmas para Que Te Quero”, como reiteradamente citada, chegou um momento que a atriz, irada com as controvérsias da personagem, jogou o texto no chão e pisoteou-o, negando-se a gravar as cenas, ainda que as tenha feito. O tom soturno da trama também foi citado no livro “Feliz Ano Velho”, de Marcelo Rubens Paiva, quando ele dizia o quanto a novela era chata.
Cidinha Campos numa crítica publicada em O Fluminense, e também resgatada por Tião Uellington, sintetiza: “O Lauro César quando escreveu ‘Os Gigantes’ estava com ódio da humanidade, principalmente das mulheres, suas maiores vítimas. (…) Melhor teria a Globo, reconhecendo seu catastrófico e desastroso insucesso, substituído “Os Gigantes” por uma reprise”. Ainda que não tenhamos como saber da abordagem que Lauro deu às mulheres, é importante ressalvar algo que hoje causaria discussão: Ainda que Dina Sfat seja a personagem central, protagonista absoluta e necessária à trama, ela é o terceiro nome a aparecer nos créditos. O justo seria que o abrisse. Se considerarmos os nomes da equipe técnica, Dina é o quarto a aparecer, depois do autor, do diretor e de dois atores. Em se falando de abertura, até mesmo a canção tema da novela “Horizonte Aberto”, de Sérgio Mendes, demorou para ficar pronta. A música ouvida na abertura era diferente daquela que consta no disco da trilha da trama, e que tem outra letra.
QUEM É O AUTOR?
Em razão da baixa audiência, Boni pediu que Lauro César reescrevesse o fim da novela, no qual a personagem de Dina daria cabo da própria vida. Lauro não topou e foi demitido. O diretor da Globo pediu então que Benedito Ruy Barbosa assumisse a trama e escrevesse os capítulos finais, o que Benedito não fez, em solidariedade ao amigo. Acabou deixando a Globo também. Coube à Maria Adelaide Amaral, então desconhecida como novelista, escrever 18 capítulos. O último, porém, foi feito por Walter George Durst.
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