*Por Brunna Condini
Usando um vestido que estampava títulos e cartazes de produções consagradas do cinema nacional, Mariana Ximenes apresentou a cerimônia de abertura da 21ª edição do Festival do Rio, nesta segunda-feira, no Cine Odeon, na Cinelândia. A atriz, muito aplaudida, disse: “Estamos aqui, neste templo do cinema, para celebrar a sétima arte, a cultura e todos os benefícios sociais e econômicos que este setor resistente proporciona para o país. Eu vou pedir licença para fugir do script por alguns minutos, só para falar de resistência. Com o cinema brasileiro, como atriz e espectadora, mergulhei em histórias que nunca imaginei contar e fui para lugares onde jamais imaginei estar. O cinema brasileiro me fez rir, chorar, refletir. E escolhi começar esse discurso falando disso, pois é essa a força que o nosso cinema tem. E estamos firmes. E temos muitas histórias para contar. Quem ama o Brasil sabe disso. Nunca produzimos tanto e com tanta diversidade. Nunca ganhamos tanto o mundo com a nossa cultura. A arte existe, porque a vida não basta, já dizia Ferreira Gullar. Anular a arte, é anular a vida. Tentar esvaziar o cinema brasileiro, esconder suas produções, é deixar de lado o Brasil, o brasileiro e o que temos de mais especial, nossas histórias e diversidade, nosso jeito de ver e de viver a vida. Que a gente se junte, que façamos esse movimento para o cinema brasileiro crescer cada vez mais. Como fizemos aqui hoje, com o sistema de crowfunding para este festival ser realizado, porque a gente vai seguir, ocupar, resistir. E antes que ano acabe, o Festival do Rio está aqui firme e forte”, discursava uma emocionada Mariana.
Sobre a edição deste ano, pairava a possibilidade de cancelamento, já que a mostra perdeu seus principais patrocinadores. Mas a mobilização do público, das pessoas e empresas do meio audiovisual, levantou cerca de R$ 600 mil em crowdfunding para que a mostra pudesse acontecer. De hoje até o dia 19, o festival vai apresentar quase 100 filmes internacionais e 73 produções brasileiras em 15 cinemas do Rio e Niterói. “Foi muito difícil e diferente porque, precisamos receber, precisamos de ajuda e precisamos ser procurados. Foi emocionante ver todo o apoio que recebemos. Só de apoiadores na campanha de internet, foram mais de duas mil pessoas”, salientou Ilda Santiago, uma das diretoras do festival, ao lado de Walquíria Barbosa.
Pelo tapete vermelho, atores, diretores, produtores e autoridades passavam e era unânime o entusiamo com a realização e a certeza da permanência da produção audiovisual do país. Antonio Pitanga, um dos primeiros a chegar, exaltava a importância da valorização da cultura. “Estamos vivendo um filme que não gostaríamos de viver neste momento. O assassinato diário da cultura passando a ser uma coisa corriqueira, normal. Quando a cultura é o pilar mais importante de qualquer civilização, o instrumento socializador”, desabafa. “Esse Festival é a grande vitrine para o mundo. Essas meninas que realizam têm uma coragem, uma força, um desejo, um amor pelo país e pelo cinema. Quase não aconteceu, mas está sendo realizado e viva o cinema brasileiro!”.
Planejando férias após o fim de “A Dona do Pedaço”, Nathalia Dill contou que foi uma das apoiadoras da mostra. “Isso aqui é um patrimônio carioca, brasileiro. Não podemos deixar morrer. É importante estarmos aqui, vermos a maior quantidade de filmes que pudermos. E mostrar que estamos aqui vendo arte, fazendo arte e não vamos parar”.
Acompanhado da mulher, Karin Roepke, Edson Celulari contou que veio de Pernambuco direto para o evento. “Como toda expressão artística, neste momento, o festival tem um valor particular, sendo desta dimensão e internacional, mais ainda. E esse ano está acontecendo graças a muita resistência”, diz, sobre a mostra considerada a maior da América Latina. “Venho assistir “Veneza”, do Miguel Falabella, e também, vou acompanhar algumas palestras. Hoje vou assistir “Adorável Mulheres” e estou curioso. Um filme dirigido por uma mulher, protagonizado por mulheres. O feminino cada vez mais ocupa seu espaço com competência”, comenta, sobre o longa inédito, dirigido por Greta Gerwig, que não pôde comparecer à abertura.
Aos 39 anos de idade e 23 de carreira, Mariana Nunes já acumula no currículo 15 longas-metragens, sendo três deles internacionais e fala do momento para a sétima arte no país. “Estou com dois filmes na mostra competitiva do festival, o “M8 – Quando a morte socorre a vida’”, dirigido pelo Jeferson De, e com “Pureza”, dirigido pelo Renato Barbieri. Agora estamos neste momento difícil de não saber como será. Mas sempre fizemos e vamos continuar a fazer cinema. O Festival do Rio resistiu, com todas as dificuldades. Pode até fica mais difícil, mas faremos cinema sempre! ”.
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