Nova novela das 18h, Tempo de Amar, aposta em protagonistas desconhecidos. Em coletiva, elenco apresenta o enredo e fala das dificuldades que estão enfrentando no novo programa


A produção terá a responsabilidade de superar Novo Mundo em uma trama dividida entre Portugal e Brasil nos anos 20. A trama é escrita por Alcides Nogueira, dirigida por Jayme Monjardim e possui a atuação de Tony Ramos, Letícia Sabatella, Vitória Strada e Bruno Cabrerizo

“Substituir o horário das 18h que atualmente está com uma novela tão bacana como Novo Mundo será uma tarefa muito difícil”, afirma Jayme Monjardim, diretor artístico da nova trama da grade da rede Globo. Para os fãs do folhetim atual, esta pode ser uma triste notícia, mas Dom Pedro e Dona Leopoldina estão com os dias contados e serão substituídos por uma promessa de Romeu e Julieta da década de 20. Prevista para começar em setembro, Tempo De Amar trará um elenco inusitado sendo o casal principal dois atores que nunca haviam trabalhado nas telinhas brasileiras, Vitória Strada e Bruno Cabrerizo. Além deles, Tony Ramos, Nívea Maria, Jayme Matarazzo, Letícia Sabatella, Andreia Horta, Cássio Gabus Mendes e outros farão parte da trama.

Tony Ramos, Letícia Sabatella, Vitória Strada e Bruno Cabrerizo representaram o elenco em coletiva no centro do RIo (Foto: AGNEWS)

A história se passará entre os anos 1927 e 1930. A escolha aconteceu porque o autor Alcides Nogueira não queria que a produção parecesse uma continuação de Novo Mundo que se passa em 1820. “Acredito que esta história de amor pode ser contada em qualquer época, mas está década é muito rica por ser o tempo da Belle Époque e isto me instigou muito”, sugere Alcides ao lembrar as Reformas de Pereira Passos no centro carioca. Para criar uma maior ambientação dos personagens com a realidade foi necessário buscar em livros o que estava se passando no mundo na época. Sendo assim, levou-se em consideração a república portuguesa recém proclamada com a figura do ditador Salazar e de Vargas, no Brasil, se aproximando. Além destes fatos, no início da trama o mundo estava há apenas dez anos da Revolução Russa.

Apesar de todos estes detalhes técnicos, a narrativa se passa em uma pequena aldeia fictícia portuguesa chamada Morros Verdes cujos acontecimentos não surtiam tantas mudanças como nas cidades de Lisboa e Porto. “A aldeia aonde os personagens vivem parece estar perdida no tempo pois estão no norte de Portugal em uma forma de vida muito diferente da cidade grande”, acredita Alcides. Ao seu lado, o ator Tony Ramos complementa: “Vivia-se a monarquia ainda, de certa forma, neste lugares”. Além de Portugal, a trama se passará também no Rio de Janeiro, tendo sido necessário criar duas cidades cenográficas completamente diferentes uma da outra. “Estamos construindo uma cidade toda de pedra, idealizada com base nas pesquisas que temos das casas de Portugal na década de 20, além do luxo das ruas do Rio de Janeiro. Nossa inspiração é totalmente histórica. Gravamos em duas pequenas cidades do Rio Grande do Sul para mostrar o interior português, porque o local tem uma colonização italiana muito forte com princípios muito parecidos da época. Sem contar que algumas cenas têm inspiração em fotos reais que buscamos reproduzir. Fazer novela deste gênero é muito difícil, existem grandes interferências como aviões e helicópteros”, garante o diretor Jayme. As filmagens no sul do país foram finalizadas há pouco tempo e especificamente feitas em Bento Gonçalves e Garibaldi, cujos moradores ficaram muito animados com a novidade de participar das gravações da Globo escrevendo, até mesmo, uma carta de agradecimento.

Jayme Monjardim e Alcides Nogueira são grandes responsáveis pela produção desta novela (Foto: AGNEWS)

Durante a coletiva de imprensa que apresentou a novela pela primeira vez, com a presença de parte do elenco, dos diretores e do escritor, a palavra amor não parava de sair da boca da equipe. A ideia deste Romeu e Julieta saiu de fatos reais que aconteceram com a bisavó e o bisavô de uma das idealizadoras do projeto. “Esta história prova que o tempo não estraga certos sentimentos. Apesar do casal estar se separando por um oceano de distância, eles têm a certeza que vão se reencontrar porque ainda possuem uma vida inteira pela frente. Estamos em uma sociedade que quer tudo muito rápido e é bacana trazer este contraponto ”, afirma a atriz Vitória Strada.

Mais do que nunca, Tempo De Amar busca exaltar este sentimento trazendo, até mesmo, o que se acredita ser o tempo que o mesmo se desenvolve. Esta minutagem foi encontrada em poemas nos quais a trama se apoia. “Penso em muitas poesias na hora de fazer essa novela, não que o meu personagem seja lírico, mas é importante observar o tempo visto que ele é fundamental para esta narrativa”, conta Tony Ramos. No entanto, a trama não será tão contemplativa tendo o apoio de muitas cenas de ação. “O amor é o motor desta trama acompanhado de muita ação porque não é possível fazer televisão sem este elemento. No entanto, a maior vantagem deste horário da grade é ser mais calmo e ter tempo para produzir uma novela e assistir. Ainda tem uma expressão mais radiofônica porque é um momento em que as pessoas estão chegando em casa. Não tem a rapidez das 19h ou a densidade das 20h. É uma hora na qual se pode sonhar no embalo de um folhetim”, explica o escritor Alcides.

Bruno Cabrerizo e Vitória Strada são as duas revelações da Globo e farão o par romântico da novela (Foto: AGNEWS)

Além do formato, foi preciso pensar na forma que a trama seria contada. Por isso foi preciso levar em consideração a diferença fonética na fala dos portugueses para dar sentido ao papel dos artistas que fazem personagens estrangeiros. “O tempo verbal é muito diferente o que acaba nos distanciando do cotidiano e nos colocando dentro de uma fábula que, de certa forma, é um espelho da nossa sociedade”, sugere Letícia Sabatella cujo o personagem possui este sotaque.

Letícia Sabatella e Tony Ramos irão contracenar muito nesta produção (Foto: AGNEWS)

Apesar de falar de amor, a equipe garante que a trama é importante para os dias atuais por refletir assuntos que estão inacabados. Com o recurso da atuação é possível criticar, até mesmo, os tempos atuais. “A novela não deixa de trazer assuntos importantes que perduram até hoje como, por exemplo, a questão do negro na figura de um personagem que luta por seus direitos. Com a assinatura da Lei Áurea, não houve um projeto de inclusão desse grupo que continuou com as mesmas funções. Além disso, falamos da mulher com relação à opressão por parte dos homens e a falta de direitos como cidadã. Estamos inserindo estes fragmentos na ação”, informa o escritor.

A última coisa que esta produção quer é alienar os telespectadores com assuntos que não se fala mais. A ideia é trazer debates atemporais, sem perder a forma leve de contar. Em um momento em que o país e o mundo estão passando por crises e guerras, o elenco acredita ser importante falar sobre o amor. “Na época da Segunda Guerra, a Brodway estava acumulando grandes sucessos. Londres estava sendo bombardeada, no entanto, inúmeros concertos e shows lotavam suas plateias.  Isto porque as pessoas buscam respirar e se alimentar de cultura. A humanidade procura o amor há milênios, não por ficarem absortas e alienadas, mas este sentimento faz parte de nós. O público clama por este respiro. Além disso, é possível correlacionar o tempo atual com a ficção e personagens de época”, garante Tony Ramos. Ao seu lado, Alcides complementa: “O mundo está tão violento e, por isso, acredito que é a hora de falar de amor. Na minha opinião, é um dos poucos sentimentos que nos faz sentir humanos, nos deixa feliz e dá orgulho”.

A apresentação da nova novela ocorreu no Real Gabinete Português de Leitura (Foto: AGNEWS)

A seleção do casal de protagonista

O amor é a chave para que esta novela tenha êxito e, no entanto, o romance está nas mãos de dois atores completamente desconhecidos que nunca trabalharam nas telinhas brasileiras. Com tantos profissionais renomados, a Globo resolveu apostar e revelar duas novas pessoas. Bruna Marquezine, por exemplo, foi uma das atrizes cotadas para fazer a mocinha nesta produção, mas a mesma assinou um ano sabático com a empresa, ficando de fora das telinhas neste período. “Às vezes, nós sonhamos com alguns profissionais, mas aos poucos vamos percebendo que os atores que estão conosco são os certos e os que deveriam estar. Pelo fato de queremos um Romeu e Julieta, era importante que os atores selecionados não tivessem um passado muito forte. Pedimos a autorização da Globo para lançar um casal novo, o que não foi muito difícil de encontrar visto que o Brasil é um grande laboratório de talentos”, garante o principal responsável pela contratação de Vitória e Bruno, o diretor Jayme.

O diretor Jayme foi o responsável pela contratação de Vitória Strada e Bruno Cabrerizo (Foto: AGNEWS)

O processo seletivo foi anunciado por diferentes partes do Brasil, sem informar qual eram as vagas abertas. Foi assim que a mocinha Vitória Strada conseguiu o papel. “Fizemos testes pelo Brasil inteiro, mas ainda não sabíamos se alguém seria bom para fazer a nossa protagonista. De fato, haviam muitos talentos, no entanto, quando a Vitória entrou na sala no dia, tive a certeza que seria ela. Me segurei um pouco antes de tomar a decisão, pedi que retornasse para outra apresentação e depois lhe contei que tinha sido aprovada”, conta Jayme.

A revelação de Bruno foi inusitada. “Estava em Orlando com a minha família e alguém me perguntou se eu conhecia a trajetória de um brasileiro que estava fazendo sucesso em Portugal. Pesquisei o Bruno na internet e resolvi convidá-lo para participar de um filme meu e depois aproveitá-lo para a novela”, relembra o diretor. Ao vir para o Brasil, o ator que esteve pelo Japão, Itália e Portugal acabou decidindo fazer ambas as produções no seu país de origem.